“De Pequim a NY, atuamos para blindar a economia e aumentar a renda em SC”
Paulo Bornhausen, Secretário Executivo de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos de SC
Com um histórico de trabalho de prospecção de negócios internacionais para Santa Catarina, há pouco mais de um ano e cinco meses, Paulo Bornhausen foi convidado pelo governador Jorginho Mello (PL) para assumir a de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos.
A Coluna conversou com ele para saber mais sobre as ações da pasta. Confira:
Pelo Estado: Secretário, o Governador Jorginho Mello tem liderado uma série de missões internacionais desde o início do governo. Qual a filosofia central por trás da sua atuação na Secretaria de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos?
Paulo Bornhausen: A filosofia é bem objetiva: “Quem não é visto, não é lembrado.” O governador Jorginho Mello enxerga o potencial de Santa Catarina com a clareza de quem vê um estado que já é uma potência exportadora e que precisa urgentemente se posicionar no cenário global de forma mais assertiva. Nossa estratégia de articulação internacional não é uma agenda centralizada no turismo, mas sim uma agenda de Estado, focada no interesse catarinense.
Pelo Estado: Como essa agenda de Estado se traduz em termos de parcerias e regiões prioritárias?
Paulo Bornhausen: Estamos aplicando um foco sobre os nossos principais parceiros comerciais, aqueles que movem a agulha da nossa economia e que têm potencial de investimento e tecnologia. Viemos estabelecendo os eixos prioritários com a Ásia, a partir de China, Japão e os países da ASEAN, como Malásia, Singapura. São destinos essenciais para nossas exportações de proteína animal e para atração de investimentos em tecnologia e logística. Nas Américas temos os Estados Unidos, crucial em tecnologia de ponta e capital intelectual, além de Argentina e demais países do Mercosul, nossa vizinhança e mercados vitais. Também estamos estreitando os laços com a União Europeia, tendo Portugal como um hub, uma porta de entrada para o bloco, tanto em comércio quanto em atração de capital e novos modelos de negócios. Alcançando relações com esses governos, intensificamos a aproximação com o setor privado para prospectar novos negócios, investimentos diretos e tecnologia de ponta.
Pelo Estado: O senhor sempre ressalta que as relações paradiplomáticas de Santa Catarina precisam ser permanentes, independentes de governos. Como concretizar essa articulação internacional?
Paulo Bornhausen: Essa é a chave para a verdadeira projeção de um estado, e é um dos pilares da nossa área de Projetos Estratégicos. Nós institucionalizamos essa política em duas frentes. Primeiro, com uma agenda ordinária consolidada. É fundamental que exista uma agenda mínima a ser cumprida por todos os governos, ao longo dos quatro anos, alinhando o interesse do Estado com a iniciativa privada.
Essa agenda tem que ser técnica, de resultados, e não meramente política. Ela garante que os contatos e as negociações iniciadas não se percam a cada troca de gestão. Em segundo lugar, estamos criando pontos focais e uma representação permanente. Santa Catarina não pode ter um “horário comercial” no cenário internacional. O governador Jorginho Mello já nos deu a missão de estabelecer pontos focais em locais estratégicos De Pequim a Nova York, a estratégia de SC é blindar a economia e acelerar o aumento de renda dos catarinenses.
Pelo Estado: Esses pontos focais representam uma estrutura de governo no exterior? Qual o modelo adotado para que isso não gere um ônus fiscal ao Estado?
Paulo Bornhausen: A ideia é trabalhar com o conceito de parceria entre governo e setor privado na nossa representação. A Invest Santa Catarina e a ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) estão envolvidas nesse primeiro estágio, minimizando custos estatais e gerando sinergia com quem realmente faz negócios. É uma parceria que coloca o setor produtivo na linha de frente da prospecção.
Pelo Estado: E o Programa de Embaixadores Honorários de Santa Catarina, como ele se encaixa neste contexto e qual o seu potencial de expansão?
Paulo Bornhausen: O Programa de Embaixadores Honorários é a nossa rede de relacionamento voluntário e capilarizado. Temos hoje quatro Embaixadores Honorários, empresários, acadêmicos e líderes de comunidades catarinenses que, sem custo para o Estado, abrem portas, facilitam contatos e promovem Santa Catarina em suas regiões. Eles são os nossos advogados de defesa e os nossos agentes de prospecção. A expansão é contínua para que tenhamos um contato de valor em qualquer lugar do mundo. Estamos representados na China, Catalunha, Itália e Portugal.
Pelo Estado: Em 2025, a missão à Ásia foi particularmente produtiva. Começando pelo Japão, quais foram os objetivos alcançados, especialmente no que tange à sanidade animal?
Paulo Bornhausen: No Japão, fomos com dois objetivos claros, ambos alcançados. O primeiro foi um agradecimento formal ao modelo de sanidade animal japonês. É importante lembrar que o Japão separou Santa Catarina do restante do Brasil, reconhecendo nosso status diferenciado de área livre de febre aftosa sem vacinação e nos poupando do impacto de focos de gripe aviária em outros estados. Esse reconhecimento é uma chancela de valor inestimável para a nossa proteína animal. O segundo objetivo foi pedir celeridade na abertura do mercado japonês para a nossa carne bovina, já que possuímos um frigorífico apto e todas as credenciais de sanidade necessárias para atender ao rigoroso mercado japonês.
Pelo Estado: E a China, o principal parceiro comercial de Santa Catarina. O que a comitiva conseguiu em termos de diplomacia e comércio?
Paulo Bornhausen: A missão à China foi um marco. O governador Jorginho Mello foi o primeiro governo subnacional (estadual) a ser recebido pelo Ministério do Comércio, o que demonstra o nível de importância que o Estado tem para eles. O governador fez o pedido formal e direto para a retirada do embargo à carne suína. A China sugeriu nosso retorno para participar da principal feira de importação e ampliar os contatos, o que ocorreu com a ida da InvestSC novamente ao país, agora em novembro. Esse convite destacou a relevância de Santa Catarina como parceiro comercial e investidor.
Pelo Estado: O senhor costuma usar em sua fala a expressão de que o mundo está em “erupção”. Como uma Secretaria de Projetos Estratégicos transforma essa turbulência global em oportunidade de crescimento para o Estado?
Paulo Bornhausen: Vendo a crise como janela de oportunidades. O Brasil está fora dos grandes conflitos globais, o que nos torna um porto seguro para o capital internacional e uma potência comercial em ascensão. Santa Catarina se destaca por ser um “estado mais rápido”. Temos uma projeção do IBGE de 40 anos de crescimento populacional e o potencial de ter a maior economia dentre os estados do Sul em poucas décadas. A receita, daqui para a frente, é acelerar projetos estratégicos, desengavetar obras e iniciativas que paralisam o desenvolvimento, depois aumentar a renda do catarinense, para o equilíbrio entre o desenvolvimento social e o econômico. Por último, temos de atrair capital intelectual, oferecer estabilidade como estado e qualidade de vida para recebermos talentos e empresas de base tecnológica.
Pelo Estado: Poderia citar um exemplo concreto dessa atração de capital intelectual?
Paulo Bornhausen: Tivemos a honra de receber o primeiro investimento internacional da Corteva Agriscience – uma das maiores de milho e sementes do mundo – em uma empresa de biotecnologia em Florianópolis. É o primeiro investimento deles nas Américas, e a escolha por Santa Catarina é um atestado da nossa excelência em pesquisa, capital humano e ambiente de negócios.
Pelo Estado: Infraestrutura é um gargalo histórico. Quais são os principais projetos que o Governador Jorginho Mello está priorizando para destravar a logística catarinense, por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) internacionais?
Paulo Bornhausen: O governador Jorginho Mello tem a coragem de fazer as obras que estavam há anos no papel e que, por sua magnitude, só saem do papel com uma forte parceria internacional e o modelo de PPPs. Os dois projetos de infraestrutura mais cruciais em que estamos avançando são a Ferrovia de Interligação dos Portos e a Via Mar. Não faz sentido ser o estado com os portos mais eficientes do Brasil se a produção não consegue chegar a eles ou sair com agilidade. A ferrovia de interligação é vital para o escoamento da nossa produção agrícola e industrial. Estamos em curso com conversas estratégicas para a modelagem dessa PPP. Já a Via Mar vai desafogar os nossos eixos rodoviários, envolvendo o modal marítimo e a reestruturação dos nossos portos para a logística do futuro.
Pelo Estado: Outro tema de grande relevância que o secretário divulga é a mobilidade urbana, com projetos de mobilidade 100% elétrica. Quais são as projeções e os planos?
Paulo Bornhausen: Modernizar a mobilidade é um projeto estratégico de Estado e o governador Jorginho Mello autorizou projetos de mobilidade 100% elétrica que visam a interligação de uma rota que passa por Itajaí, Florianópolis, Joinville e Blumenau, região que dá sinais de uma rápida conurbação e que, em 20 anos, estará visivelmente interligada em uma grande metrópole, com 1,5 milhão a 2 milhões de habitantes.
Pelo Estado: Como o Governo está costurando o financiamento e a execução de iniciativas?
Paulo Bornhausen: Então, temos o andamento do Promobis em Itajaí, estruturado e com previsão de mobilidade 100% elétrica na região da AMFRI. A ordem de serviço para o projeto de um túnel imerso até Navegantes também está prevista com recursos do governo estadual e privados. Em Florianópolis, a estratégia é a retomada de estudos que iniciaram com o Plamus, assim como um projeto para a mobilidade de massa já autorizado pelo governador junto ao Banco Mundial.
Em Joinville e Blumenau, a liberação de recursos estaduais será para que as associações regionais iniciem a estruturação de seus projetos, com a diretriz clara de que incluam a mobilidade 100% elétrica na pauta junto ao Banco Mundial e outros financiadores internacionais.
Pelo Estado: Para finalizar, a iminente Reforma Tributária impõe um desafio para Santa Catarina, que é um estado industrializado. O senhor identificou um “choque” no horizonte. Qual é a estratégia de antecipação do Governo Jorginho Mello para mitigar esse impacto e proteger a economia catarinense?
Paulo Bornhausen: A Reforma Tributária mudará o imposto arrecadado da produção para o consumo. Isso é um desafio enorme para um estado como o nosso, que produz para mais de 20 milhões de pessoas, mas que tem apenas 8 milhões de habitantes. Daqui a sete anos, fim da transição para o novo modelo, esse choque será sentido. Portanto, o nosso projeto estratégico de maior urgência é aumentar a renda do catarinense o mais rapidamente possível. Mais do que um projeto de infraestrutura física, o governador alinha as pastas do governo para a infraestrutura social e econômica. Santa Catarina deve multiplicar o número de micro e pequenas empresas sustentáveis e capacitadas para gestão e tecnologia.
Outro ponto focal é aumentar produtividade e renda em áreas de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para garantir que o catarinense esteja mais bem preparado para o novo cenário tributário. Essa é a direção fundamental para o equilíbrio futuro do Estado e para fazer a vida dos catarinenses melhor, de fato.
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PE_entrevista_23-11-2025
Contato: peloestado@gmail.com




