sc_eleições_2022_entrevista Décio Lima_22_10_2022
“As primeiras obras devem ser as humanas que são mais baratas e mais importantes”
Antes mesmo do resultado final, as eleições 2022 têm gosto de vitória para o candidato Décio Lima (PT) por ter chegado ao segundo turno com 711 mil votos, 65% a mais do que em 2018. Nunca o PT havia ido tão longe em disputas estaduais, embora em 2002, por exemplo, tivesse feito mais de 800 mil votos no primeiro turno, mas perdeu a vaga para Luiz Henrique da Silveira. Vereador e prefeito reeleito em Blumenau na década de 1990, três vezes deputado federal, superintendente do Porto de Itajaí, o advogado e professor Décio Lima é candidato a governador pela Frente Democrática, formada pelo PT, PCdoB e PV, PSB e Solidariedade. Natural de Itajaí, casado com a deputada federal eleita Ana Paula Lima, três filhos, um deles adotivo, cinco netos, fundador do PT no Estado, Décio é como se fosse da família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta semana, entre uma e outra gravação para o programa eleitoral, conversou com a Pelo Estado, pedindo que os catarinenses apenas lhe concedam um olhar sem preconceitos.
“Dou a garantia de governar com todos os setores da sociedade, mesmo aqueles que me tratam com preconceito hoje.”
Como tem enfrentado o assédio eleitoral, esse fenômeno que tomou conta do segundo turno no Brasil e em Santa Catarina?
Isso é um crime. É inimaginável assistirmos, com provas, situações dessa natureza, depois de termos feito uma construção de 42 anos de liberdade, de democracia, de Estado de direito. São os lampejos da ditadura que infelizmente tomaram os valores de grande parte dos catarinenses. Estamos providenciando que seja aplicada a devida punição a cada denúncia para que se possa reeducar e mostrar que nada vai submeter os valores da liberdade e da democracia. Tenho plena convicção que temos algo que nos une a todos: a democracia e a liberdade. Não serão esses poucos algozes que haverão de nos intimidar. Estamos buscando todos os mecanismos que o modelo republicano disponibiliza, por meio do contencioso jurídico, com ações a cada denúncia que chega para responsabilizar essas pessoas que desprezam a liberdade e a democracia.
O peso da religião nestas eleições lhe parece proporcional?
Pertenço a uma formação cristã. Desde menino, fui levado pela minha mãe e meu pai ao catolicismo. Tenho uma família marcada por esses valores. Sou uma pessoa que trago sempre comigo a expressão da fé e a crença nessa construção extraordinária que a humanidade fez dentro os valores do amor, da solidariedade. Penso que este é um aspecto também relevante do que estamos vivendo. A religião é de todos. O Estado não pode ser dessa ou daquela igreja. O Estado não pode ser confundido com o processo da liberdade religiosa de cada um. O Estado tem de ser laico, esse é o Estado que a humanidade construiu até o presente momento, garantindo perfeição das suas ações. Acredito que esse debate está latente até o dia 30. Por tudo que assistimos, imaginar que o bolsonarismo ameaça de morte o nosso Papa Francisco, imaginar o que fizeram em Aparecida, levando para lá a política, sem respeitar a grandeza do que ela representa na fé do nosso povo e da nossa devoção. Sou devoto de Nossa Senhora Aparecida, aquilo me chocou profundamente, como acredito deva ter chocado muitos católicos e muitos cristãos em nosso país. Ao mesmo tempo, respeito lugares que sempre frequentei que são os evangélicos, os protestantes, todos esses segmentos têm inspiração cristã. Grande parte deles nesse momento, acredito, reflete sobre o limite que tem de haver entre a religião e a política. Para que a política seja boa e para que a religião, sobretudo, seja pura, de fé, amor e convicções.
A que atribui esse feito histórico de estar no segundo turno? Que, aliás, você tinha certeza que ocorreria, como dizia no primeiro turno.
Sempre fui o improvável do provável. A grande maioria, inclusive pelos acontecimentos históricos, não via como possível que eu pudesse estar no segundo turno. Como agora muitos olhares acreditam que eu não tenho chance de ser o resultado positivo no dia 30. Eu acredito, porque sempre fui movido pela paixão. Aprendi com o filósofo Espinosa: tudo na vida é paixão! Estou apaixonado por aquilo que represento, tenho muita clareza sobre o significado da minha responsabilidade e tenho comigo as certezas de que faria _ e farei_ o melhor pelo povo de Santa Catarina a partir do ano que vem. Pelo meu caráter, pelos meus conceitos e pela garantia de fazer um governo plural, não dogmatizado a um partido, que vai governar com todos os setores da sociedade, mesmo aqueles que me tratam com preconceito hoje. Gostaria inclusive de pedir aqueles que estão lendo essa matéria que tivessem um olhar não preconceituoso para mim. A minha caminhada na vida pública não é a do orçamento secreto, não é dos acontecimentos ruins que deixaram muitas pessoas desacreditadas da política, não é fazer algo que eu não tenha experiência. Sou o único candidato com experiência administrativa disputando o segundo turno. Trago oito anos de um mandato de prefeito que me permitiu uma reeleição com mais de 63% e com resultado aferido pelo Ibope na época de 85% de ótimo e bom. Trago a experiência do resultado a que levei à administração do Porto de Itajaí, que transformei no segundo maior porto em movimentação de cargas e contêineres do Brasil e ficou conhecido no mundo como o porto cinco estrelas do Brasil. Trago, portanto, essa segurança de quem conhece a administração pública e de quem exerceu três mandados de deputado federal e trouxe resultados para Santa Catarina como a duplicação da BR-101 Sul, a Ponte Anita Garibaldi, 30 institutos federais, o início da duplicação da BR-470, a finalização de obras estruturantes na BR-282, de Chapecó a Paraíso, a construção de vários momentos que impactaram a vida do povo catarinense junto com o governo do Brasil do presidente Lula e da presidenta Dilma. Trago certezas ao nosso eleitor daquilo que estou propondo para nossos programas a partir de janeiro de 2023.
Um resultado das eleições 2022 já se tem: o novo bipartidarismo do PL e PT no Brasil. Qual é seu passo seguinte com relação a esse cenário?
É muito difícil que o próximo presidente da República não seja o Lula. Isso ajudará muito o povo catarinense, porque no período dos nossos governos, SC recebia 60% dos recursos que o governo federal arrecadava. Isso nos permitiu tantas obras, como algumas poucas que já citei. Nos permitiu fazer ações nos municípios, com equipamentos, com o caminho da escola de ônibus, programas de inclusão com novas escolas, UPAs, policlínicas, enfim, eram investimentos do governo federal. Isso foi interrompido em SC. Hoje, SC recebe 7% do que o governo federal leva. Esse ano, por exemplo, R$ 97 bilhões serão arrecadados pelo governo federal. E, no período atual, não tem um tapa-buraco, não existe uma obra do governo federal. Às vezes, me pergunto como tem pessoas em SC que gostam do Bolsonaro, se ele não gosta de nós! Os números estão aí para serem checados. Veio e fez duas motociatas, andou de jet-sky, não tenho nada contra isso, mas é um presidente da República que virou as costas para o nosso povo. Na área da saúde, SC recebia R$ 4,3 bilhões, hoje esse número é R$ 3,7 bilhões. Até na área da saúde ele diminuiu os recursos. Os dados da Organização Mundial da Saúde mostram claramente: somos menos de 3% da população mundial e as mortes da pandemia foram 11% das mortes do mundo, porque negou a vacina para nosso povo. Dos 22 mil catarinenses que nos deixaram nesse triste acontecimento no mundo, segundo dados da OMS, no mínimo 14 mil poderiam estar vivos. Pessoas ligadas a nós, parentes, amigos. Eu mesmo perdi muita gente no meu entorno, pela negação da vacina, porque não governou com a ciência, não governou com a verdade, produziu mentiras, desprezou a vida do nosso povo. Foi uma tragédia o que aconteceu no Brasil e em SC. Temos de refletir se isso é bom que continue, esse processo de ódio e de raiva, num país como o nosso, formado por sentimentos valorosos do amor, da solidariedade, da nossa formação cristã. Um governo inspirado na arma: 42 milhões de armas foram vendidas agora no último período. Para quê? Arma é para matar as pessoas, não é para defender. O que defende as pessoas é uma boa segurança pública. Armas são para as autoridades policiais. O que defende as pessoas num ambiente seguro é incluir todo mundo, não conviver como convivemos hoje com 33 milhões passando fome. Isso tinha acabado no Brasil, tínhamos saído do mapa da fome. E hoje voltamos a ter esses flagelos terríveis de exclusão. Em SC são 900 mil pessoas em vulnerabilidade alimentar. Aqui que dizemos ser a Suíça brasileira. Na Suíça não existe isso. Então, acredito que nossas oportunidades estão colocadas no dia 30 para desenhar o futuro do nosso país e do nosso Estado.
Qual a expectativa e como será esse último giro de campanha semana que vem?
Animadíssimos, está um vira-vira, quero dar a garantia que vou fazer um governo com os valores pertencentes ao povo de Santa Catarina. Não sou soberbo ao dizer isso, sou o candidato do amor, da solidariedade, não sou o candidato da arma, sou do livro, não sou o candidato do orçamento secreto, sou da transparência. Tenho preocupações com os problemas de SC, precisamos recuperar o atraso na infraestrutura, cuidar as estradas, portos, salas de aula, mas, além disso, as minhas primeiras obras, meu compromisso e responsabilidade serão com as obras humanas. São as mais baratas e as mais importantes. Quero ser governador que possa olhar para você, olhar para todos os catarinenses, e dizer: aqui não tem mais pessoa em situação de rua. Aqui não tem mais gente passando fome. Aqui não tem mais criança fora da escola. Hoje estamos vivendo um retrato triste que somente aqueles que banalizam o mal não querem enxergar. O povo catarinense haverá de ser orgulhar porque vamos fazer um governo que seja paixão e tenha a alma da nossa gente.
Produção e edição
Adriana Baldissarelli (MTb 6153) para APJ/SC e ADI/SC, com colaboração de Cláudia Carpes. Contato peloestado@gmail.com