Pelo Estado 25/10 Com eleições 2022, Brasil volta à encruzilhada entre a direita e a esquerda

Com eleições 2022, Brasil volta à encruzilhada entre a direita e a esquerda

E aí, com as eleições de 2022, o Brasil mesmo que de forma tardia em relação ao mundo, chega a essa encruzilhada entre direita e esquerda. Desde a redemocratização no final dos anos 1980 até 2018, o país se mantinha numa posição peculiar, sem a direita organizada na vida partidária. A disputa ideológica ocorria, na verdade, entre a esquerda personificada no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o centro e centro-esquerda representado pelo PSDB. Havia no máximo, a narrativa antiesquerda.

Com a pandemia, as demandas por políticas de saúde e distribuição de renda ganharam relevância e a esquerda avançou em toda a América Latina. Em paradoxo, a direita conservadora pela primeira vez tem uma voz representativa nas eleições presidenciais com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Aliás, mais do que isso, Bolsonaro é ligado à extrema direita internacional. Então, essas eleições podem até conter a emoção e a disputa midiática daquela que elegeu Fernando Collor de Mello em 1989 ou o efeito de onda daquela de 2002 que elegeu Lula pela primeira vez, mas são inéditas. Pela primeira vez, polarizam entre esquerda e direita e apresentam dois candidatos muito conhecidos porque já exerceram a Presidência da República. Essa condição reduz a incerteza sobre o que esperar do futuro governo, seja ele de um lado ou de outro.

Por isso mesmo, numa eleição de extremos, seria aconselhável lembrar que, na democracia, tão importante quanto quem vence é quem vai para a oposição. É saudável que adversários e derrotados sigam em frente, vivos e fortes, até a próxima eleição. Que percam o mandato, não a voz. Porque para evitar colapsos e proteger a democracia é fundamental que haja tolerância mútua e respeito às regras institucionais e até as informais. Se não for por bom senso, que seja pela própria saúde. Como ensina Shakespeare, aquele que sempre soube da alma humana, a raiva não compensa, é “como tomar veneno esperando que os outros morram”.

 

“Brasil está dividido entre esquerda e direita, entre Norte e Sul”

 

Glaucio de Souza/Arquivo pessoal

O ex-prefeito de Rio Negrinho Julio Ronconi vive um momento típico das eleições em SC: está de mudança para acompanhar o movimento conservador do eleitorado. Fez 13,3 mil votos, sem conseguir se eleger deputado estadual, e agora decide seus próximos passos. O advogado é PSB desde 2006, mas neste segundo turno apoia Bolsonaro e Jorginho Mello. Deixou a prefeitura com 75% de aprovação e R$ 3 milhões em caixa, depois do município passar por tornado e enchente. Costuma dizer que só perdeu para a pandemia, porque seu adversário era médico.

Qual a principal percepção das eleições 2022?

O país está dividido entre a esquerda e a direita. Os partidos no entorno do PT e do PL estão perdendo força. O PSB, por exemplo, perdeu força. Partidos que estavam na órbita do 22, ou no caso, correndo com outros candidatos como Republicanos ou PP, perderam força. Até o Novo, de 16 deputados federais baixou para três. Dos 33 partidos, só 14 atingiram a cláusula de barreira. Para a próxima eleição, os partidos terão de se fundir e se unir para sobreviver. Não há mais espaço para centro-esquerda. Em SC, ou se votará na esquerda ou na direita. E o Brasil também está se dividindo entre Norte e Sul.

O que deve ocorrer, na sua opinião, com os partidos de centro?

Os partidos de centro vão ter de se reinventar. Quem é da esquerda vota no 13 e não vota em outro, porque quer ver o 13 crescer, não quer ver o 13 morrer. Os eleitores sabem que, se Bolsonaro ganhar a eleição, Lula não virá mais. (Fernando) Hadad deve perder em SP. Então, o PT vai ficar sem expressão nacional. Por que (Romeu) Zema está entrando de cabeça na campanha de Bolsonaro? Porque já está fechado: se Bolsonaro ganhar essa, o próximo candidato a presidente vai se chamar Zema. Ele sabe que se Bolsonaro ganhar, Lula estará fora daqui a quatro anos, com 80 anos não virá mais e a esquerda não tem outro nome. Talvez surja lá em Pernambuco, representante da família Campos, mas a esquerda terá muita dificuldade de crescer. A esquerda, se continuar na mesma batida, defendendo os mesmos programas de 20 anos, está fadada a morrer. Nesse cenário, será Zema e Tarcísio,Tarcísio e Zema: os dois vão protagonizar as eleições de 2026. Se Bolsonaro perder, ele será novamente um dos candidatos em 2026. A questão será como vai se portar o Congresso que elegeu a maior parte de direita, se os parlamentares manterão esse posicionamento ou mudarão.

Como foram as eleições para o PSB de Geraldo Alckmin em SC?

O PSB fez péssima eleição. Não fez o dever de casa de lançar os 41 candidatos, lançou apenas 26 nomes a deputado estadual. Os candidatos a deputado federal tiveram desempenho muito ruim. Djalma (Berger) estava fora cenário há várias eleições. Os votos do (Cláudio) Vignati eram do PT e ficaram com o PT. Alguns partidos não souberam enxergar o cenário, Dário (Berger) talvez tivesse condições de ir ao segundo turno com mais chances. Devo sair do PSB, partido não me ajudou, zero, neste segundo turno meu apoio é para Bolsonaro e Jorginho Mello. Jorginho foi excelente senador, tem condições de governar bem o Estado. A vida é assim, cada escolha, uma renúncia.

Qual seu palpite para domingo?

Acho que Bolsonaro ganha a eleição, porque o poder de mobilização da direita é muito maior do que o da esquerda. São profissionais da rede social e é o que vai mandar nessa e nas próximas eleições: a internet e a rede de WhatsApp. Aquela reunião que se faz com 200 pessoas, isso vai acabar. Fiz reuniões em algumas cidades com 200 pessoas e consegui 15, 12 votos. É uma questão de tempo e tem de ter bandeiras, se não tiver uma boa bandeira, pode esquecer. Não adianta dizer sou de direita ou sou de esquerda, precisa dizer qual causa defende. Já que não se vai agradar todo mundo, agrada-se pelo menos um público alvo.

 

Filipe Scotti/Divulgação Fiesc

SC+Elétrica

Santa Catarina quer ser protagonista em desenvolvimento, produção e exportação de tecnologias ligadas à mobilidade elétrica. Para isso, a Fiesc lidera o SC+Elétrica, programa de incentivo em parceria com diversas entidades. O presidente Mario Cezar de Aguiar e o diretor da GM, Adriano Barros, experimentaram o Bolt, modelo 100% elétrico da montadora, com autonomia que supera os 400 quilômetros, em exposição na Federação das Indústrias.

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Produção e edição

Adriana Baldissarelli (MTb 6153) para APJ/SC e ADI/SC, com colaboração de Cláudia Carpes. Contato peloestado@gmail.com