Liderança e Comunicação - “Vivemos um momento de mudanças”

Um dos mais importantes – e mais premiados – publicitários de Santa Catarina, Wilfredo Gomes também instalou e preside há seis anos o Grupo de Líderes Empresariais (LIDE-SC), que promove eventos para debate de temas importantes para o estado.

Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre as ações da entidade em 2019, já projetando 2020, e sobre o momento da Comunicação, do ponto de vista da Publicidade e Propaganda, bem como do Jornalismo.

 “Os meios estão mudando de maneira veloz, mas o fundamental, que é a informação, não muda. O fundamento não foi perdido.”

 

 

ADI-SC/Adjori-SC – Em 2019 o LIDE trouxe nomes fortes para Santa Catarina. O ritmo continua intenso para 2020?

Wilfredo Gomes – O LIDE completou seis anos em 2019, com uma consolidação muito grande nas suas três bases: o LIDE Empresarial, que é o LIDE-SC, o LIDE Mulher, focado para as empresárias e mulheres atuantes no mundo dos negócios, e o LIDE Futuro, vocacionado para jovens empreendedores, este novo mundo de startups, dessa nova economia, cada vez mais presente, principalmente em Santa Catarina. Hoje, já ultrapassamos 240 pessoas, com mais de cem empresas que fazem parte do LIDE-SC.

Importante destacar que devemos fechar o ano com 33 eventos. Foi um ano bem puxado. Semana, sim, semana, não, tivemos um evento, pequenos, médios e grandes. Sempre dentro de um aspecto que consideramos importante, que é a questão da inovação, não apenas do ponto de vista da tecnologia, mas dessa nova economia, nas empresas, nas indústrias, a reinvenção da maneira de prestar serviços. Fizemos muitos debates em cima disso. Logicamente, sem esquecer do nosso dia a dia, porque também falamos em segurança, aspectos intrínsecos à economia, enfim.

Quisemos trazer pessoas colaborativas, de várias empresas que puderam, de alguma maneira, demonstrar na prática o que significa isso. É um ano que os filiados e os convidados aproveitaram bastante. E coroamos isso tudo com nosso prêmio LIDE-SC, que é dia 28 de novembro na Federação das Indústrias (Fiesc).

 

 

ADI/Adjori – Como é feita a escolha e o que está sendo previsto para o dia da entrega?

Wilfredo Gomes – São oito categorias. Estamos na fase da escolha geral, onde membros da Fiesc, Acaert, ADI, Adjori, Sebrae, Fecomércio escolhem cases dentro dessas categorias. Depois, os três finalistas de cada categoria são submetidos a nova votação e o resultado é divulgado no dia 28. Os grandes homenageados deste ano, escolhidos pelo Comitê de Gestão como destaques, que é o prêmio LIDE Nacional, são a BMW, pelo aniversário de cinco anos da fábrica em Santa Catarina, e o empresário Mário Petrelli, presidente honorário do Grupo RIC, uma pessoa que tem uma passagem empresarial e política das mais importantes no estado.

No mesmo dia, faremos uma homenagem ao ministro Dias Toffoli, presidente do STF, cuja serenidade na condução de um dos poderes da República foi fundamental para os avanços significativos que tivemos este ano.

 

ADI/Adjori – O senhor está há seis anos à frente do LIDE-SC. Continua?

Wilfredo Gomes – Na verdade, não tem eleição, mas o Comitê de Gestão. O LIDE é uma organização não governamental (ONG), não é uma instituição. É como um clube de empresas para a geração de negócios em network (em rede). O Comitê de Gestão atua de maneira deliberativa, seguindo o padrão do LIDE Nacional, e que acaba sempre reconduzindo os gestores. Faço parte do Conselho de Administração do LIDE Nacional, que se reuniu semana passada e é presidido pelo ex-ministro Luiz Fernando Furlan. A cada dois meses o Conselho de Administração do LIDE Nacional se reúne, para avaliar o que está sendo feito e planejar ações futuras.

 

ADI/Adjori – Já tem alguma meta para 2020?

Wilfredo Gomes – Nossa ideia é sempre dar um passo seguro de cada vez, continuar aumentando o número de filiados, valorizar ainda mais o LIDE Futuro, com esses jovens que estão entrando no mercado de trabalho. Vivemos um momento de mudança no Brasil. As próprias mulheres, cada vez com mais presença e ascensão no mercado. Há mudanças, e temos que ter um olhar mais significativo para essas mudanças. Independentemente de partidos políticos, vivemos um momento de grandes reformas. Este governo que está aí, com a conclusão da reforma da Previdência, talvez esteja sendo o governo mais reformista da República. Foram consolidadas as leis do trabalho, da reforma econômica, essa questão da reforma da Previdência… Eles estão fazendo um trabalho que vai dar condições para o dinamismo da economia muito forte já em 2020. Entramos em um novo ciclo. Como organização que tem capilaridade e disposição, queremos acompanhar esse momento. Acho que o Brasil vai entrar em um novo e bom ciclo virtuoso.

 

 

ADI/Adjori – Passando para o seu setor de origem, que é a Publicidade. As mudanças são muitas e muito rápidas, e o setor da Comunicação não ficou fora desse processo. Como acompanhar?

Wilfredo Gomes – A gente debate muito isso. Hoje, o consumidor, até pelas ferramentas que tem nas mãos, acaba sendo protagonista da história. Os meios estão mudando de maneira veloz, mas o fundamental, que é a informação, não muda. A gente tem que saber lidar com essa história da fake news, da informação desassociada de um contexto. Temos que ter cuidado, mas acho que o mundo ainda vive de ideias.

O mundo da publicidade, desde que foi inventado, junto com a Revolução Industrial, evoluiu. Somos uma economia nova. Temos só 130 anos pós-escravatura, o que é uma barbaridade! Essa nova economia é muito recente na linha da História. É muito precipitado avaliar de um lado ou de outro. Claro que tem mudanças, mas não muda a necessidade de ideias, planejamento e o exercício da execução disso. Ter um produto, ter uma ideia para divulgar esse produto, ter uma estratégia, um planejamento para executar, não muda, independente do meio.

Antigamente, tínhamos a imprensa escrita, depois o rádio, depois a televisão, mídias complementares, mídias off-line, online, há tecnologias e processos que não acabam. O fundamento não foi perdido. Pensemos em um jogo de futebol em que a tecnologia da bola mudou. Mas é um jogo de futebol. Da mesma forma os fundamentos da comunicação estão presentes.

Há essa necessidade de mudança, e pensamos isso na nossa empresa, que é acompanhar essa revolução, muito mais rápida, e às vezes até inconsequente, porque gravita em muitos ambientes ao mesmo tempo, sem saber ao certo qual o dinamismo. As redes sociais mudam muito rapidamente, tem ondas. As pessoas se acostumam, preferem um ou outro, e esse processo é muito dinâmico. A capacidade de mudar é fundamental, em um processo de camaleão, de ter o dress code (conjunto de regras) conforme a “festa” é fundamental.

Fala-se que a televisão está acabando, mas perceba que os grandes players do mundo digital viraram grandes anunciantes. O Facebook anuncia na televisão. O Google anuncia na televisão. Spotify anuncia na televisão, Apple, Netflix. Esse erro de querer tudo ou nada é que é complicado. A gente tem uma memória muito curta nessas relações de história. O fato é que as coisas mudaram.

Uma pessoa de 80 anos não é mais um idoso. Tem gente de 70 anos fazendo maratona. A medicina mudou. Outro dia estive com o presidente de uma grande montadora internacional que dizia que a empresa iria se transformar em uma empresa de modais. Muda o modus operandi, mas as pessoas precisam se deslocar. Mudou, mas não quer dizer que o carro vai acabar. Antecipa-se muito uma teoria do caos, e de maneira irresponsável. As coisas mudaram e temos que acompanhar essas evoluções. Os jovens mudaram, têm outros usos e costumes, mas continuam precisando comer, se vestir, calçar, morar, viajar… as necessidades do ser humano continuam existindo. E hoje mais ainda, porque as pessoas vão viver mais.

A evolução da comunicação do século 20 ao começo do século 21 | Imagem de www.reamp.com.br

 

ADI/Adjori – Falamos do grande mercado de comunicação. E Santa Catarina, como está se saindo nesse contexto?

Wilfredo Gomes – Tem essa mutação, também. Já esteve mais nervosa, mas tem uma depuração natural. Muitas pessoas recuaram com a utilização de mídias de massa. O próprio governo do Estado, que é um dos maiores anunciantes, talvez o maior anunciante de Santa Catarina, agora está prestes a lançar uma nova licitação. Em um primeiro momento, entendeu que as mídias sociais eram suficientes e se viu que isso não é um fato. É preciso uma combinação de processos. Tem a necessidade das mídias instantâneas, mas também tem a necessidade das mídias de massa, principalmente da relação de utilidade pública, ou até de prestação de contas para a sociedade.

Acho que às vezes a gente toma atitudes muito precipitadas e paga um preço caro por isso. Santa Catarina, independentemente de ser um estado menor, é um estado vocacionado, pela distribuição das cidades, pela capilaridade que tem, e acaba tendo realidades muito diferentes. A realidade do Norte é diferente da do Sul, da Capital, do Oeste, do Planalto. É um estado um pouco mais equilibrado que a maioria.

Também do ponto de vista produtivo. No pior momento da recessão, sofreu menos que os demais; não que não tenha sofrido. É um estado exportador. É um estado produtor. Enfim, acho que Santa Catarina passa também por essa revolução, mas está tendo a capacidade de se adaptar de maneira mais rápida, diferentemente de outros estados. Tem uma convergência. A gente vê polos de tecnologias muito claros no Norte, em Blumenau, Florianópolis, Criciúma. Em Chapecó, temos notícias de várias empresas liderando em alguns segmentos dessa área de software.

 

ADI/Adjori – Semana passada vimos o anúncio do encerramento da distribuição de impressos de quatro jornais importantes, que agora estarão só no meio digital. É um caminho inevitável?

Wilfredo Gomes – É um caminho inevitável, mas tem algo um pouco diferenciado com relação à NSC, que é uma empresa que nasceu a partir da RBS (origem no Rio Grande do Sul), que tinha vínculos com a sociedade de maneira mais contundente.

A nova composição societária que foi formatada não tem envolvimento com a comunidade de fato. Isso explica o desprendimento. É uma visão muito empresarial. Números. Um pouco dissociada do que a sociedade espera, mas um pouco reflexo da própria sociedade. Olham muito mais o que entra, o que sai, o que sobra. E estão no direito deles de fazer essas revoluções. Acho que tem que ter bastante atenção nisso, porque, principalmente quando se fala de retrato de mídia impressa, ele tem uma formação de conteúdo para as lideranças, diferente de um veículo de massa, seja de maneira opinativa, seja de maneira editorial, que vai se perder bastante. E a partir disso surgirão pessoas mais empoderadas.

 

ADI/Adjori – Os tais influenciadores digitais?

Wilfredo Gomes – Talvez surjam. Ou talvez se empoderem mais essas coisas personificadas. O que precisará ter um pouco mais de cuidado. Como não há um gerenciamento de atitudes ou de pessoas, isso pode nascer e morrer em uma velocidade muito grande.

 

ADI/Adjori – Os processos são muito mais rápidos.

Wilfredo Gomes – E às vezes um pouco mais irresponsáveis. Então será preciso ter cuidado. É uma pena para Santa Catarina, que perde com isso, mas é um fato.

 

ADI/Adjori – Muitos jornais, mesmo do interior, estão migrando para o digital, colocando uma edição impressa por semana. No mercado publicitário, vocês se ressentem dessas mudanças?

Wilfredo Gomes – Os nossos maiores clientes continuam crescendo, abrindo lojas, e precisam vender. Se o meio jornal tem dificuldade na mídia impressa, vai ser anunciado no meio digital, nos influenciadores, na televisão, vai ser um mix de coisas. O mecanismo de produzir e vender, entender o que as empresas precisam, isso não mudou. Isso é o fundamento da economia. O que muda é a questão de estratégia, de planejamento, e que você tem que ter é um ferramental melhor, buscar parcerias, que é o que a OneWG está fazendo.

Estamos em vias de assinar um contrato grande com o grupo Kantar (Kantar IBOPE Media) para essas relações digitais, para poder ter um ferramental diferenciado, mais UpToDate, mais rápido para os nossos clientes, para ter essa convergência de maneira mais rápida. Isso não quer dizer que é uma anulação de meios. É uma adaptação.

 

ADI/Adjori – Para sair da caixinha de rádio, TV e jornal.

Wilfredo Gomes – Isso já se faz há muito tempo. Lembro que há 20 anos se falava em mala-direta. Primeiro mala-direta, depois marketing direto, depois o marketing interno das empresas. Cada período tem um modismo. A gente tem que cuidar muito com essa relação com modismo. Tem que ver na prática o que funciona, ou seja, o que ajuda na dinâmica desse eixo: produzir, colocar à venda, ter um preço adequado, um ponto de venda e vender.

Tem gente que convergiu tudo. Pega uma Netshoes, com venda digital. Quebrou. Foi vendida para o Magazine Luiza. Porque não era daquele jeito, não era tão simples. Magazine Luiza é um exemplo, um líder de market place digital, mas tem loja física. Esse equilíbrio não é excludente; é dinâmico caso a caso, lugar a lugar, processo a processo. Não dá para dizer que tudo é terra arrasada, nem não precisamos nos mexer. Achar esse ponto de equilíbrio tem sido nosso desafio, com nossos clientes e com o mercado em geral.

 

O gráfico compara o “arsenal” que a publicidade possuia nos anos 1980, no canto superior direito, com o que existia no mercado da comunicação em 2009. Um novo gráfico comparativo entre 2009 e 2019 já mostraria muitas diferenças | Imagem: comunicadores.info

 

ADI/Adjori – Há muito fechamento de empresas de publicidade no estado e no Brasil?

Wilfredo Gomes – As agências passaram por transformações nos anos 1990 e nos primeiros anos dos 2000. Foi uma década de euforia. Os salários eram fora de padrão, o volume de pessoas. Não eram empresas multidesk, ou seja, eram muito departamentalizadas. Se faziam uma coisa, não faziam outra. Isso mudou. As grandes agências multinacionais de São Paulo, que chegaram a ter 800 funcionários, hoje têm 200, 150. E produzindo mais, até. É outra dinâmica. A velocidade, a capacidade das pessoas, e essa coisa plural, que tanto o colaborador quanto a empresa precisam ter.

Naturalmente, teve gente que se adaptou e gente que não se adaptou. Muitas agências fecharam, muitas convergiram e muitas estão surgindo. A gente precisa vender, e para vender tem que ter ideia boa. Para ter ideia boa, tem que ter profissionais. Tem que saber vender a informação no lugar certo.

 

ADI/Adjori – As faculdades de Publicidade e Propaganda acompanham esse processo?

Wilfredo Gomes – Acompanha. Dependendo do segmento, é muito mais veloz. E aí talvez fique um pouco mais difícil de acompanhar. Tem segmentos que são mais voláteis, tem segmentos que são mais dinâmicos. Não dá para generalizar.

A juventude já nasce com um tablet na mão, tem outro tipo de cabeça, de disposição e vontade. Tem um empresário da construção em São Paulo que é exemplo disso. Enquanto as grandes construtoras reclamavam, ele começou a fazer apartamentos como no Japão, pequenos, de 30 m², com áreas comuns gigantescas e super bem feitas.

Esse empresário já vendeu cinco mil unidades. O que é isso? Convergência.  O cara para morar só precisa de um quarto e uma sala legal. E de convívio. Mudou a métrica. O que é isso? É uma convergência.

Não adianta fazer apartamento de 300, 400 m2. Hoje não tem mais empregado, quem ajude dentro de casa. As famílias estão menores. As pessoas não querem se isolar. O que fazer? Unidades menores, mais compactas, mais dinâmicas, e áreas comuns fantásticas. Essa capacidade de interpretar o mercado, de arrumar soluções, sejam elas da padronagem, de preço, da forma de utilização é que eu acho que a gente está precisando vivenciar um pouco mais, para entender que isso está mudando rápido e de verdade.

 

ADI/Adjori – O que acha que ainda vem por aí?

Wilfredo Gomes – As coisas mudaram muito. E continuam mudando. Algumas vão ficar mais chatas. As relações humanas, por exemplo, eu espero que sejam retomadas. Não é a perspectiva, mas é o que eu desejo. Elas estão cada vez mais frágeis pela impessoalidade da tecnologia. Conheço famílias que mesmo dentro de casa só se comunicam pelo WhatsApp. Não se ouve mais a voz. Isso é uma coisa chata. Os diálogos têm pouca profundidade e muita volatilidade. Mas a história mostra que sempre vem a acomodação. Essa coisa muito rasa funciona para algumas coisas e em alguns momentos, mas ninguém tira a importância do conhecimento e da experiência.

Tem uma nova onda de trazer as pessoas mais velhas para trabalharem, por causa da experiência. Talvez elas não saibam os termos atuais, ou lidar com a tecnologia, mas isso está virando o básico. A serenidade que a experiência traz é muito importante.

 

Jornalistas: Andréa Leonora (ADI-SC) e Murici Balbinot (Adjori-SC)
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