Mourão em SC: “Em política, até a raiva é combinada”
Foto: Filipe Scotti/Fiesc

 

Especial Vice-Presidente

Hamilton Mourão

 

Em passagem por Florianópolis para evento que marca início das comemorações dos 70 anos da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) deu uma palestra apresentando os desafios da atual gestão e os indicativos de quais caminhos o país deve seguir. Em tom professoral, falou por mais de uma hora para um auditório lotado.

Na sua análise coube comparações com a Grécia Antiga, reflexões sobre a expansão chinesa, comentários sobre o belicismo americano e, claro, muitas opiniões sobre a política nacional. Já conhecido pela postura mais polida e discreta, evitou citar nomes ao tecer comentários sobre questões mais quentes do Planalto.

Mesmo assim, não se furtou de temas como Orçamento Impositivo, os motins dos PMs no Nordeste e as polêmicas geradas em torno da divulgação de vídeos de Bolsonaro.

Saiu daqui levando para Brasília um pedido da Fiesc:  maior participação federal na conclusão de obras de infraestruturas no estado.

 

 

Democracia

Mourão abriu sua palestra indo direto ao ponto sobre o momento político do país: “Os mares não estão tranquilos porque vídeos são divulgados, as redes sociais se encandecem e as pessoas nem sempre raciocinam sobre aquilo que estão escrevendo ou que estão discutindo”, afirmou sem citar nomes. Era uma referência à polêmica envolvendo o vídeo do presidente Bolsonaro convidando apoiadores para manifestações no próximo dia 15 de março.

Na sequência, disse que o objetivo da gestão é seguir aquilo que Bolsonaro declarou logo que tomou posse, em 1º de janeiro de 2019. “Nossa missão é reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”. Segundo ele, o objetivo é tornar o país na mais próspera e vibrante democracia liberal do hemisfério Sul.

 

 “Aqui ninguém está atentando contra democracia e isso precisa ficar claro.”

 

Concessões

Segundo o vice-presidente, a retomada do crescimento do país passa, necessariamente, pela adoção de políticas com a participação da iniciativa privada, as chamadas PPIs. “Até o final do ano passado foram quase 300 projetos qualificados, mais de 170 leilões, R$ 446 bilhões em investimentos diretos e R$ 90 bilhões em outorgas. A verdade é uma só: O nosso orçamento não tem espaço para investir o que precisamos, portanto precisamos do privado”, afirmou. Ele acrescentou que para conseguir resultados é preciso que o governo firme contratos bem feitos, com segurança jurídica aliada à eficiência.

 

Motins de PMs

Mourão comentou os problemas que o Ceará enfrenta na Segurança Pública, com episódios de policiais militares em motins, e isentou o presidente Bolsonaro de politizar a categoria. “Gestões passadas é que permitiram a criação de associações”. E fez um paralelo com o Exército, força que permanece impedida de se organizar em sindicatos ou associações de classe:

 

“Eu fico imaginando isso dentro do Exército, nós teríamos

a associação dos generais, que seria poderosíssima.”

 

Orçamento Impositivo

Ao comentar o embate com o Congresso em torno das emendas impositivas, o vice-presidente tentou minimizar a tensão. Disse que o governo precisará ter clareza para resolver a questão. “Está na moda falar em parlamentarismo orçamentário. Eu acho que a coisa tem que ficar mais ou menos esclarecida. Na minha visão, uma das tarefas fundamentais do Legislativo é definir o Orçamento”, afirmou ao citar que o valor de R$ 30 bilhões destinados às emendas são fruto de estudo realizado pelos congressistas.

 

Amazônia

“Ano passado perdemos a guerra da informação do meio ambiente”, disse Mourão, ao apontar como atores do episódio “inimigos internos do governo”. Também fez referência ao que chamou de “ferozes ecologistas” que estariam de olho no potencial agrícola do Brasil. “Nós possuímos a legislação mais avançada do mundo. Só aqui que proprietário rural tem que preservar parte de sua propriedade. Temos a melhor matriz energética, mais de 80% de energia limpa.” Escolhido para presidir o Conselho da Amazônia, Mourão disse que o presidente tomou uma decisão com duas grandes vantagens:

 

“Primeira vantagem é que está dando uma resposta para todo mundo que diz que o Brasil não cuida do meio ambiente e da Floresta Amazônica. Segundo que colocou a bomba no meu colo. O problema agora é meu”.

 

Caminhos

 No encerramento, Mourão listou o que considera pilares centrais para o país. “Temos que entregar para nossos filhos um país melhor”, afirmou dizendo que parte disso foi cumprido com a proposta de reforma da Previdência aprovada pelo Congresso. Ao falar que a democracia é primordial para essa receita disse que, apesar dos defeitos, este ainda é o modelo que o país precisa seguir para se manter no mapa do mundo globalizado e civilizado: “Basta entender que em política até a raiva é combinada”.

 

Jornalistas:

Eliane Ramos e Fábio Bispo (conteúdo para impressos, portais e redes sociais)

Andréa Leonora (coordenação)