Operação de guerra Estado enfrenta estiagem e pandemia

Entrevista
Fabrício Pereira de Melo

A crise com a pandemia causada pelo coronavírus tem exigido esforços nunca antes testados pela maioria dos estados brasileiros. Na prática, é como se vivêssemos tempos de guerra, mas com um inimigo oculto, invisível aos olhos. E apesar de o principal foco da crise ser no campo sanitário, exigindo praticamente toda a atenção das estruturas de Saúde, é na Defesa Civil que se concentra boa parte das estratégias de logística e de levantamento de informações para auxiliar a tomada de decisões.
Se não bastasse tudo que o coronavírus tem consumido em recursos e atenções, Santa Catarina ainda enfrenta a pior estiagem em 14 anos e que atinge todas as regiões do estado em mais de 150 cidades afetadas.
O coordenador do Colegiado da Defesa Civil do Estado, Fabrício Pereira de Melo, explica em entrevista à
Pelo Estado como que o órgão tem atuado em parceria com os municípios para conter essas duas situações críticas. Segundo ele, o estado hoje conta com uma boa estrutura que está presente em todos os municípios e pronta
para a agir em qualquer situação adversa.
Link para entrevista na versão impressa:
[Pelo Estado] – O quanto de atenção da Defesa Civil o coronavírus tem exigido?
Fabrício Melo- Todos os desastres são tratados na Defesa Civil. E hoje, a pandemia é o nosso principal foco de atenção, sem dúvidas. É o maior desastre que temos. Mas mesmo assim, os eventos normalmente acontecem concomitantemente. E ao mesmo tempo que temos que lidar com a questão do coronavírus enfrentamos uma forte estiagem, como não ocorria desde 2005 e 2006. Até o momento, nós temos cerca de 50% dos municípios em estágio de estiagem. E ainda temos outras situações que podem ocorrer, como chuvas fortes, granizo, frio intenso, tudo isso é monitorado. Por exemplo, recentemente tivemos evento de maré alta, não foi muito forte, mas exigiu nossa atenção.

[PE] – Onde mais precisamente a Defesa Civil atua na questão da pandemia?
Fabrício Melo – Nosso papel é o de gerenciamento de crise. Nós já trabalhamos com planos de contingência, sempre preparados para o pior. Temos uma experiência em trabalhar em conjunto com outras secretarias, com outros órgãos, já temos essa articulação. E cada evento tem uma agência que toma a liderança. Nesse caso da pandemia é a Secretaria de Saúde, a Defesa Civil entra como suporte e apoio na parte estratégica, gerenciamento e levantamento de dados. Para exemplificar, nós temos as barreiras sanitárias, as fiscalizações, os abrigos para moradores de rua, Nós não atuamos diretamente na questão da Saúde, mas damos todo o suporte.

[PE] – Os hospitais de campanha também são uma atribuição da Defesa Civil?
Fabrício Melo – Nesse caso foi uma decisão do governo do Estado, que passou essa responsabilidade para a Defesa Civil. Nós sempre atuamos na questão de providenciar recursos, por exemplo, se precisar de caminhões para transportar mortos, se precisar de uma lancha, essas coisas, a Defesa Civil atua muito nessa frente. No caso dos hospitais de campanha, nós vamos atuar desde a escolha do local, se vai precisar montar mesmo ou não, no levantamento de informações, vamos articular para tentar conseguir aquele material, e até atuar no caso de conseguir pessoal.

PE] – Ainda há muitas barreiras sanitárias no estado?
Fabrício Melo – As barreiras sanitárias tiveram um pico muito forte mais no início do isolamento. Nas duas últimas semanas tivemos uma tendência bem forte de abertura [do isolamento] e as barreiras praticamente desapareceram em várias cidades ou ficaram somente para orientação. Daqui a pouco pode começar a fechar de novo, tudo vai depender do avanço da pandemia. Agora nós temos uma nova tendência, que é do aumento dos casos, e isso pode fazer com que tenhamos um maior isolamento, quem sabe até com a volta de barreiras. Tudo vai depender da dinâmica da doença.

[PE] – A Defesa Civil também trabalha no levantamento de dados sobre os casos e as mortes?
Fabrício Melo – A atuação principal está a cargo na Secretaria da Saúde, mas estamos atuando de forma regionalizada com os municípios. Em Balneário Camboriú, por exemplo, e na região, nós estamos dando uma ajuda bem forte nessa questão dos dados, números de casos, de atendimentos, internações, UTIs, mas é uma ação mais localizada, de apoio aos prefeitos. Isso complementa o que a Saúde já faz nos hospitais, centros de saúde.

[PE] – E na estiagem, como está sendo o trabalho?
Fabrício Melo – A Defesa Civil já tem uma expertise e atuamos em parceria com as secretarias de Agricultura e com a Epagri no âmbito do Estado. Tem toda uma questão técnica, agrícola e  fluvial que precisa ser analisada. Para decretação da situação de emergência, nesse caso da estiagem, ela tem que ser pela Defesa Civil, diferente do coronavírus, que é pela Saúde. Atuamos desde a parte preventiva, monitorando os rios, a quantidade de chuva, uma situação que começa lá atrás, prevenindo os municípios. Quando há o agravamento aumenta esse protocolo de respostas. Nesta fase fazemos o levantamento de dados, medimos quais regiões foram mais atingidas, organizamos a distribuição de caminhões pipa, tudo isso o Estado vai pedir para homologar a situação de emergência.

[PE] – E qual é o panorama?
Fabrício Melo -Nós já estamos com 150 municípios atingidos e muitos outros caminham para essa situação. O Oeste, historicamente, é a região que mais sofre com a estiagem, e a previsão climática é de que a média de chuvas para os próximos meses vai ser inferior ao esperado. Mesmo antes de faltar água nas casas das pessoas muitos municípios já estão decretando situação de emergência porque a economia já está afetada, falta irrigação nas pastagens, nas lavouras, e já se prevê que o problema está ali na frente.