Casa civil -  conciliador no governo Carlos Moisés
Entrevista

Amandio João da Silva Junior
A crise causada pelo caso dos respiradores caiu como um balde de água fria para o governo de Carlos Moisés (PSL). As investigações que apuram o caso colocaram no centro das atenções dois importantes secretários do governo, Helton Zeferino, da Saúde, e Douglas Borba, Casa Civil. Mas como diz o ditado, há males que vem para o bem.
A inevitável a troca dos secretários envolvidos nas investigações trouxe para a linha de frente, para atuar na Casa CIvil, João da Silva Junior, que logo nas primeiras agendas se lançou ao trabalho de rearticular a gestão de governo.
Aos 46 anos, Amandio é diretor da DB Empresas, companhia com sede em Rio do Sul, mas com uma clientela que está em Blumenau, Joinville e Florianópolis. Já participou de associações e federações comerciais do Estado e também atuou como adjunto na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável.
Em entrevista à Pelo Estado, Amandio fala dos desafios impostos em meio a crise institucional e sanitária que o governo atravessa, e é otimista: “Sairemos primeiro e sairemos melhor dessa crise”
Confira a entrevista na versão impressa:
[Pelo Estado] – Como é assumir a Casa Civil nesse momento e tentar mudar a gestão que vinha sendo imposta até então?
Amandio da Silva – Não é um momento fácil, mas eu sempre fui movido a desafios. É um grande desafio que foge, inclusive, da minha linha de vida. Atuei apenas um ano no poder público como secretário adjunto, em 2019, depois saí, fiquei seis meses fora e fui chamado pelo governador. Te confesso o seguinte, como eu já sabia e conheço o governador, sei das suas qualidades, das suas virtudes e acho que vamos superar esse período de dificuldades profundas, de falta de interlocução, com apoio da Alesc, dos Poderes constituídos, do setor privado, inclusive com o setor produtivo. Vamos virar o jogo.
Obviamente temos que fazer mudanças estruturais de gestão, mas isso não depende só do Amandio. Estou executando um pedido do governador. Não estou fazendo nada da minha cabeça. A gente senta, discute, o governador dá o direcionamento e a gente executa. Então eu quero deixar muito claro que uma única pessoa só não faz uma mudança sozinho.

[Pelo Estado] – Sua primeira agenda como chefe da Casa Civil foi justamente na Alesc, onde conversou com deputados e com o presidente Julio Garcia (PSD). Por que essa primeira agenda na Assembleia?
Amandio da Silva – Primeiro que a Assembleia é um poder constituído e você não consegue governar, ou ter harmonia entre os poderes, sem dialogar. E a Assembleia tem uma relação direta com o Executivo,  assim como tem o Poder Judiciário. Então eu quis trazer como um simbolismo ir primeiro à Assembleia falar com o senhor presidente Julio Garcia, que é um homem maduro, uma liderança importante de Santa Catarina, que trabalha na harmonia entre os poderes, que tem nas suas mãos uma responsabilidade muito grande, que é liderar e gerir uma casa tão importante, com 40 deputados. Política e gestão se faz com gestos, ações e atitudes.
Esse gesto foi justamente no sentido de dizer o seguinte: se há e havia reclamação de ausência de diálogo, mais proximidade, o gesto foi exatamente esse e agora, nós, além daquele dia, estamos indo reiteradamente a Assembleia Legislativa, entrando em contato com todos os deputados, para que se restabeleça o diálogo. Tenha convicção, não só pelo nosso trabalho, mas pela mudança de postura do governo, pela receptividade da Assembleia, é que em poucos dias teremos essa harmonia de volta, vamos superar a pandemia e vai voltar a normalidade.

[Pelo Estado] – Pelo que temos visto, principalmente na CPI dos Respiradores, ainda existe uma forte crítica ao governo. Poderá haver mudanças na base e liderança na Alesc?
Amandio da Silva – A deputada Paulinha (PDT) faz um ótimo trabalho lá. Principalmente nesse momento de muita dificuldade. Ela realmente está sendo uma grande guerreira na defesa e na interlocução do governo. Não se trata disso por enquanto. A não ser que ela esteja cansada em algum momento, mas eu acho que não é o caso. A gente pretende, com esses diálogos que estamos mantendo diariamente com a casa, não só com a casa institucional com o presidente, mas com seus deputados, criar de novo um ambiente de confiança.

[Pelo Estado] – Sobre a questão dos gestos, a liberação das emendas dos deputados seria um desses gestos que o senhor fala?
Amandio da Silva – A gente liberou R$ 60 milhões em emendas da Saúde, que estavam atrasadas. E agora estamos trabalhando – ontem tive reunião com Secretario da Fazenda e com o Secretario da Infraestrutura, e com pessoal da FECAM, fizemos uma nova planilha pra uma segunda rodada de emendas, que já estão nos seus prazos também. Nós vamos fazer o esforço de honrá-las, isso ajuda também no processo de interlocução, porque é um direito, é um compromisso assumido do governo com os deputados. E a gente precisa obrigatoriamente assumi-lo.

[Pelo Estado] – Como o senhor avalia a decisão do governador de transferir para os municípios o poder de decidirem sobre a flexibilização da quarentena?
Amandio da Silva – Primeiro, é uma constatação: a decisão tomada de forma corajosa e o protagonismo do governador em 17 de março, quando não se falava nisso, ele criou nosso lockdown em SC, isso assustou muita gente, mas foi uma decisão, além de corajosa, muito assertiva. Esse momento que vivemos agora é crucial, porque os prognósticos apontam que ainda estamos entrando no inverno e a tendência é de aumento nos casos de contaminação e infelizmente até de óbito. Mas ao mesmo tempo nós temos uma segunda pandemia, que é pandemia econômica, que precisa ser verificada e evitada, ou seja, tem gente que não vai ficar doente, ou não vai se contaminar pelo vírus, mas tá sofrendo outro tipo de doença, que é a questão social, o desemprego. Portanto, esse modelo que nós adotamos para ir liberando aos poucos a volta a normalidade, também é um modelo de sucesso.
Deve entrar na segunda-feira em vigor uma ferramenta que vai entregar a população e as lideranças públicas dos executivos municipais a possibilidade também de tomada de decisão. por parte dos municípios. Nós temos 295 municípios, dos quais 180 possuem casos confirmados e 110 não possuem. Por que os 110 que não possuem nenhum caso precisam ter os mesms regramentos do que aqueles que possuem?

[Pelo Estado] – O transporte coletivo retorna nesta semana?
Amandio da Silva – É factível, dependendo do regramento, dos protocolos e daquilo que foi definido, a decisão será anunciada na segunda -feira junto com a FECAM.

[Pelo Estado] – Como estão acompanhando a situação dos frigoríficos no Oeste?
Amandio da Silva – Nós nos reunimos na semana passada praticamente todos os dias com os frigoríficos, com os sindicatos, porque o entendimento do governador é que se nós tivéssemos o fechamento dessas unidades nós íamos criar um problema histórico para Santa Catarina. O governo fez um esforço, deslocou equipes para a região Oeste, conversou com as lideranças, mobilizou a nossa estrutura, para não fechar plantas de frigoríficos. Obviamente que o nosso primeiro ponto é respeitar a vida das pessoas e do trabalhador, mas é possível fazer isso, dando continuidade aos trabalhos.

Jornalistas
Edição e texto: Fábio Bispo (peloestado@gmail.com)
Conteúdo e redes sociais: Fábio Bispo e Eliane Ramos