A trajetória do prefeito de Major Vieira até a prisão

Nícolas Horácio/Coluna Pelo Estado

A história do prefeito de Major Vieira, Orildo Severgnini (MDB), que está no 5º mandato à frente do município – quase 20 anos de Prefeitura – teve um dos seus dias mais dramáticos nesta quinta-feira, 13. Orildo Severgnini (MDB) foi preso de forma preventiva na Operação Et Pater Filium, por suspeita de prática de corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, crimes ligados a empresários da construção civil.

O filho do prefeito, Marcus Vinícius, servidor público licenciado e empresário, também foi detido. A prisão dos dois não tem prazo fixo e deve se estender até que a investigação se encerre, de acordo com o Ministério Público de Santa CAtarina (MPSC), que atua no caso.

Na tarde desta quinta-feira, 13, a força-tarefa do MPSC e Polícia Civil de Canoinhas, que também investiga o caso, realizou uma coletiva de imprensa online trazendo mais informações. De acordo com a força-tarefa, foram encontrados na primeira fase da operação, no final de julho, R$ 297 em espécie na casa do prefeito. Em uma caixa, por exemplo, estavam R$ 57 mil, que tinha como destinatário um investigado da empresa Planaltina. Também são investigados empresários ligados às empresas Décio Pacheco e Derpa, do Paraná, Br Construções, Construções Santa Catarina e a própria Planaltina.

Outros R$ 24,5 mil foram encontrados na casa do filho. Com o prefeito, também foram encontrados cheques assinados por empresas que celebraram contratos com a Prefeitura. A investigação vai analisar um total de R$ 10 milhões em contratos celebrados entre a prefeitura e as empresas investigadas. Os crimes teriam ocorrido de 2014 até 2020, com indícios de corrupção no final de 2019 e no início de 2020.

“Temos que avaliar cuidadosamente tudo que foi apreendido, inquirir as testemunhas e assegurar amplo direito de defesa. Não temos ninguém condenado, a gente sabe que existem indícios fortes de autoria, mas tudo depende de confirmação, ou não, no decorrer do processo. Temos convicção de que essa nova fase que inauguramos, detalhando todo objeto da investigação, vai acabar fazendo que agentes públicos pensem duas, três, dez vezes se vale a pena praticar desvios de recursos públicos”, disse o Procurador de Justiça Fabio de Souza Trajano, que ocupa o cargo de Sub-Procurador-Geral de Justiça do MPSC.

Trajano também lembrou que Major Vieira tem PIB anual de R$ 1 mi. Ou seja, o valor dos contratos investigados – R$ 10 milhões em cinco anos – aproxima-se do dobro da arrecadação própria do município no período.

A trajetória política de Orildo Severgnini

Major Vieira é uma pequena cidade do interior catarinense, no Planalto Norte, a 393 km da Capital e pouco mais de 8 mil habitantes. Severgnini, que perdeu a eleição de 2012, voltou ao poder em 2016, vencendo Adilson Lisczkovski (PSDB). Antes da prisão, Severgnini esteve à frente de diversas entidades, como o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região do Contestado (CISAMURC), a Associação dos Municípios do Planalto Norte (AMPLANORTE) e a Associação dos Municípios da Região do Contestado (AMURC).

O Consórcio de Desenvolvimento Econômico do Planalto Norte (CODEPLAN) também foi comandado por Severgnini. Ele também foi vereador entre 1989 e 1992, diretor da Secretaria de Estado da Infraestrutura, curador da Universidade do Contestado e presidente da APAE.

O auge da sua carreira política foi a presidência da Federação Catarinense de Municípios (Fecam), que caiu no colo de Severgnini em 4 de junho, depois que Saulo Sperotto, prefeito de Caçador, deixou o cargo para concorrer à reeleição. Ele era o vice-presidente da gestão e ficaria no poder até o fim dos mandatos dos atuais prefeitos, que termina em dezembro de 2020.

A prisão preventiva de Severgnini ocorreu na manhã desta quinta-feira, 13, após diligência do MPSC e da Polícia Civil de Canoinhas, na segunda fase da operação Et Pater Filium. Após a prisão, Severgnini, renunciou à presidência da FECAM, cargo que assumiu em junho. A expressão em latim Et pater filium – o pai e filho – foi usada na operação, porque estão associados aos atos duas duplas de pai e filho: empresários, de um lado, e funcionários públicos, de outro.