O plástico descartável virou o inimigo número um de ambientalistas, sobretudo quando a pauta é o descarte de resíduos no oceano. Segundo relatório lançado pela Organização não Governamental (ONG) Oceana, o Brasil figura na oitava colocação entre os países que mais descartam plástico no mar. São 1,3 milhão de toneladas lançadas anualmente, volume que representa 8% deste tipo de poluição em todo o planeta. O próprio setor plástico reconhece o problema e alerta para a necessidade de construção de políticas públicas eficientes que colaborem com a educação relacionada ao processo de reutilização destes materiais dentro de uma cadeia sustentável, mas que também contribuam para que a indústria se mantenha viva e empregando.
Lideranças do setor defendem que a indústria do plástico não é a vilã do meio-ambiente. E que sem ela inserida na cadeia produtiva como uma alternativa ao papel, ao vidro, ao metal e a outras matérias-primas, os recursos naturais rapidamente poderiam se tornar escassos levando em conta as elevadas taxas de consumo. Elias Caetano, diretor executivo do Sindicato das Indústrias Plásticas do Sul Catarinense (Sinplasc), explica que as empresas entenderam a necessidade de participar da discussão e das soluções para que os efeitos dos descartáveis no meio ambiente sejam reduzidos e, até mesmo, zerados.
“Sem dúvida nenhuma, reconhecemos o problema. O setor tem feito um esforço gigante para lidar com o impacto ambiental dos plásticos e reduzir o desperdício do material para o meio ambiente. Isso é um compromisso muito sério que o setor assume e leva com a maior seriedade. Vivemos em uma guerra de narrativas. Nessa guerra a gente entende que deve prevalecer a sensatez baseada em critérios técnicos”, argumenta.
Se colocar como parte da discussão foi apenas o início. O setor tem alavancado pesquisas e investido em soluções no sentido de materializar mudanças que atendam às novas necessidades e exigências dentro de uma economia sustentável. “Estamos investindo em tecnologias que tornam os produtos mais amigáveis à reciclagem. Por exemplo: substituindo produtos com multicamadas de difícil reaproveitamento por monomateriais, investindo em tecnologias que estão permitindo reduzir o volume e a espessura de embalagens e reduzindo assim a quantidade de plástico empregada em suas aplicações”, conta Caetano.
O Sinplasc sustenta que Santa Catarina é o segundo maior polo reciclador de plásticos do Brasil e tem dado a sua contribuição para que o volume de poluição reduza. Isso também alerta para o quanto o setor plástico catarinense contribui na criação de um modelo sustentável de negócios, preservando a cadeia produtiva, empregos e renda. “Conhecemos os gargalos e os desafios dessa cadeia produtiva, bem como os fatores críticos para a ampliação dos índices desta atividade, que além de resolver o problema dos resíduos plásticos, gera emprego, renda e inclusão social”, pondera.
Caetano argumenta que o setor está longe de ser o inimigo da natureza. Na análise dele, o problema não está na origem e sim no final da cadeia de consumo, com o descarte inadequado e a ineficiência de políticas públicas para incentivo à reciclagem e correta separação dos resíduos. O resultado é a poluição da natureza e a lentidão no reaproveitamento dos materiais que poderiam se tornar parte de uma cadeia de economia circular, reduzindo o desperdício e maximizando recursos por meio da reciclagem e reutilização em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos.
“Temos que contrapor o viés ideológico e mercadológico envolvido neste cenário de hostilidade ao plástico. Os produtos plásticos, conforme inúmeras pesquisas, reduzem o gás de efeito estufa quando comparado com outros materiais, reduzem o consumo de água e energia, reduzem o uso do solo e o volume produzido de resíduos sólidos urbanos, já que é mais leve e menos volumoso. O plástico já tem essas vantagens intrínsecas nele, mas o impacto ambiental que o plástico provoca quando descartado indevidamente é tratado pelo setor com seriedade”.
Elias Caetano, diretor do Sinplasc
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Relevante para a economia
No Senado Federal, tramita o Projeto de Lei 2.524/22, iniciativa legislativa apresentada pelo então senador Jean-Paul Prates, do Partido dos Trabalhadores (PT) do Rio Grande do Norte. O texto estabelece a proibição da fabricação, importação, distribuição, comercialização e uso de plásticos depois de um ano da publicação da medida. Também prevê a meta de ter todas as embalagens de plásticos retornáveis e comprovadamente recicláveis até 2029.
O Sindicato das Indústrias Plásticas do Sul Catarinense enxerga uma possível aprovação deste PL com preocupação, já que inviabilizaria a sequência da indústria. O setor plástico na mesorregião Sul catarinense, que engloba a área de Laguna a Passo de Torres, gera diretamente mais de 2,5 bilhões de reais em riqueza ao ano. São 11.516 trabalhadores. Outro dado que evidencia a importância do impacto socioeconômico do setor de descartáveis na região Sul está no volume da produção, que representa 70% da produção brasileira, ou seja, é o maior polo nacional do segmento.
O diretor do sindicato entende que a aprovação da matéria poderia afetar diretamente metade destes empregos. “Medidas de banimento não educam o cidadão. E criminalizar produtos lícitos e úteis para a sociedade não ajudará as pessoas a adotarem padrões de consumo sustentáveis começando pela separação dos seus resíduos. Uma proibição prejudicaria muito a valorização desses materiais pela população. A valorização de materiais recicláveis é fundamental para viabilizar o seu reaproveitamento em vez de desperdiçá-los”, opina Caetano.
A nível estadual, três projetos de leis tramitam na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) com o mesmo objetivo de enrijecer o crescimento do setor. São os PLs 199/2023, 0423/2023 e 0137/2023. Como demonstração de apoio à indústria do plástico, até setembro deste ano 12 associações comerciais e industriais já tinham se manifestado contrárias a estas legislações e favoráveis à manutenção do setor. Entre estas entidades estão associações empresariais de Criciúma, Içara, Tubarão, Braço do Norte, São Ludgero, Grão-Pará, Araranguá, Orleans, Urussanga, Cocal do Sul, Forquilhinha, Sombrio, Morro da Fumaça e Jacinto Machado.
Para José Valcir Zanette, presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), a ideia de rompimento do plástico na cadeia produtiva é tratada como assunto emergencial. No entendimento dele, o foco da discussão deveria ser o processo de conscientização em torno de uma transição justa para o setor, e não a proibição do uso de descartáveis.
“É o que está acontecendo com o carvão, que é a transição energética justa. Com o plástico também deve acontecer isso, para que haja readaptação com inovação e mudanças. Seria simples acabar com o plástico, mas é um setor com grande representação para o Sul de Santa Catarina, com mais de 200 empresas responsáveis por mais de 11 mil empregos diretos e uma movimentação financeira de R$ 2,5 bilhões ao ano”, defende.
O contraponto também em forma de PL
Diante dos desafios, a indústria aguarda com atenção a tramitação do Projeto de Lei 1.874/22, com texto aprovado no Senado e encaminhado para a Câmara dos Deputados. Este projeto é de autoria da Comissão de Meio Ambiente (CMA) e estabelece a Política Nacional de Economia Circular (PNEC), com objetivo de estimular o uso consciente dos recursos e priorizar produtos mais duráveis, recicláveis e renováveis.
O ambiente de cooperação é hoje o grande gargalo para que a engrenagem funcione, desde a ponta com a separação adequada do lixo até a transformação do material reciclado em um novo produto, mas também é a grande solução para aniquilar de vez o problema da poluição gerada pelo plástico. Procurados pelo setor, os deputados federais Luiz Fernando Vampiro e Ricardo Guidi (que deve retornar para a Câmara em novembro), além do senador Esperidião Amin, estão imbuídos em participar desta discussão.
“O setor espera que o texto seja aprovado sem sofrer acréscimo ou modificação. Junto com esta lei proposta tem outras regulamentações acerca deste tema que devem surgir em breve. São decretos tanto do Governo Federal quanto do Ministério do Meio Ambiente e do Governo do Estado de Santa Catarina para fomentar a logística reversa e estabelecer metas audaciosas para ampliação do índice de reciclagem”, explica Elias Caetano, do Sinplasc.
O diretor do Sinplasc ainda argumenta que há três novas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) voltadas para a economia circular. Elas vão auxiliar a indústria na organização deste processo e formalizar a ideia de logística reversa, economia circular e reciclabilidade.
A lei que tramita na Câmara se aplica às ações do poder público, do setor empresarial, industrial, comercial, agropecuário e de serviços. A ideia de economia circular é evitar que a engrenagem pare no descarte pós-consumo, fazendo com que todo material reaproveitável siga para reciclagem e reuso, seja com o objetivo original ou transformado em outro bem de valor e consumo.
“Dentro do texto desta lei já tem a previsão do mecanismo de transição que prevê estímulo à criação de novos empregos, incentivo à pesquisa e inovação, criação de condições atrativas para investimento público e privado. Isso vem de encontro ao que o setor mais precisa para fazer a reciclagem acontecer. A reciclagem é uma atividade extremamente carente de apoio. Então está previsto apoio por este mecanismo de transição”, sustenta.
Responsabilidades compartilhadas
Com problema e solução identificados, a indústria do plástico se antecipou à própria aprovação da lei para aplicar políticas voltadas para a economia verde. A prova disso é o arranjo desta indústria no Sul do estado, que está distribuída principalmente em três segmentos: fabricação de descartáveis, fabricação de embalagens e as recicladoras de material plástico.
“São nossas três principais atividades. A economia circular é interessante para todos os elos da cadeia produtiva dos plásticos. Resolve o impacto ambiental dos materiais plásticos, vem de encontro para atender uma obrigação das empresas em cumprir com a política nacional dos resíduos sólidos através da lei 12.305/2010, que confere a obrigação compartilhada entre diversos atores da sociedade para destinação ambiental adequada”, explica o diretor do Sinplasc, Elias Caetano.
Para que a engrenagem funcione, o Sinplasc entende que cada agente precisa fazer a sua parte no processo, sobretudo para que o material reciclável retorne em grande escala para a indústria e então seja reaproveitado. “A lei é um grande alento, mas não resolve tudo. Ela dá direcionamento para que o setor possa se desenvolver e desenvolver novas tecnologias. O Brasil está engatinhando para tecnologias voltadas para para reciclagem, para a etapa de coleta e triagem. O processo é ineficiente de produção nesta etapa da cadeia produtiva e são muito rudimentares. Tem muita pesquisa e desenvolvimento a ser feito”, considera.
Em Santa Catarina, cases de sucesso exemplificam as medidas e soluções adotadas pela indústria do plástico.
Economia circular com reciclagem de big bags
A indústria plástica está se reformulando para continuar ativa, mantendo empregos, oferecendo soluções e abastecendo o mercado. Pensando nesses aspectos, a Teixeira Têxtil, empresa de Forquilhinha, no Sul de Santa Catarina, com mais de 20 anos de história no setor de embalagens, tem se destacado por uma iniciativa de sustentabilidade e promoção da economia circular. A empresa atende, principalmente, o setor agrícola, oferecendo uma linha de big bags (grandes sacolas industriais reutilizáveis) fabricadas com polímeros reciclados.
Maílson Feliciano de Oliveira, analista ambiental, social e de governança de (ESG, na sigla em inglês) da empresa, conta como a linha de big bags foi desenvolvida, utilizando matéria-prima de logística reversa. “Inicialmente, trabalhávamos com sacarias convencionais, entretanto percebemos a necessidade de evoluir para produtos que minimizem o impacto ambiental. Hoje, o carro-chefe da empresa é a linha big bags, produzida com materiais reciclados provenientes de outros big bags descartados, que são coletados e reprocessados, evitando o descarte inadequado”, explica.
Essa inovação foi motivada pelos impactos negativos do descarte de grandes volumes de sacarias plásticas, que costumavam ser destinados a aterros sanitários. Oliveira destaca que, no Brasil, cerca de 58 milhões de quilos de tecidos de ráfia são consumidos anualmente pelo agronegócio. “Essa solução de logística reversa resolve um problema ambiental importante, recolhendo e reaproveitando produtos que já não tinham destinação correta”, afirma.
Desafios e conscientização
Um dos principais desafios enfrentados pela empresa para implementar a logística reversa foi a resistência cultural ao processo de devolução das big bags. Para superá-lo, a empresa realiza um trabalho constante de conscientização junto aos clientes. “Desde o fechamento do contrato de venda, os clientes são informados sobre a importância da logística reversa e a necessidade de devolver os big bags usados. Foi preciso criar um diálogo constante, explicando a importância da devolução das embalagens e os impactos positivos dessa prática no meio ambiente”, explica Oliveira.
(Foto: Divulgação)
Hoje, a empresa observa que a prática da logística reversa já se incorporou à rotina dos principais clientes, localizados em estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Oliveira detalha que após o uso dos big bags, eles são devolvidos à empresa e passam por um processo completo de reprocessamento para serem transformados em novos produtos. “Cada remessa de embalagens é classificada e, se necessário, higienizada para remover contaminantes. Depois disso, o material é triturado, lavado e tratado para a produção do PCR (polímero reciclável), que será utilizado na fabricação de novos big bags. Esse processo permite reduzir significativamente o consumo de água e energia”, garante.
Além do agronegócio, que é o principal mercado para os big bags, a Teixeira Têxtil está estruturando pontos de coleta de embalagens em várias regiões do país para facilitar a logística reversa e promover a economia circular. “Estamos sempre buscando novas parcerias e soluções para viabilizar o reaproveitamento das embalagens de maneira mais eficiente. Oferecemos uma solução econômica, já que os clientes não precisam arcar com os custos de descarte em aterros sanitários”, frisa.
Qualidade e resistência dos reciclados
Mesmo com o uso de materiais reciclados, a empresa garante a qualidade e resistência dos big bags. Conforme Oliveira, são realizadas análises periódicas em laboratórios certificados, que comprovam a durabilidade do produto, capaz de suportar mais de duas toneladas. A sustentabilidade é um dos pilares estratégicos da empresa, que além de evitar o descarte inadequado das embalagens, contribui para a redução das emissões de dióxido de carbono.
“Essa economia de recursos naturais e a redução de emissões mostram o nosso compromisso com o meio ambiente e a importância de práticas sustentáveis no setor industrial”, destaca. “Ainda realizamos outras ações como projetos de educação ambiental e iniciativas de recuperação de áreas degradadas”, pontua.
Oliveira ressalta que a cada 10 mil unidades de big bags reciclados, a empresa evita a emissão de duas mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
Parceria de sucesso
Em um movimento inédito no Brasil, a empresa de embalagens Canguru, localizada em Criciúma, em parceria com a Dow, fornecedora da matéria-prima, e a indústria de fraldas CCM, desenvolveu uma nova embalagem para fraldas geriátricas que incorpora 20% de resina pós-consumo reciclada (PCR).
Esse produto marca um avanço na sustentabilidade no setor de embalagens e busca reduzir o uso de matéria-prima virgem e fortalecer a economia circular. “Com o uso da PCR, conseguimos reduzir o consumo de 20% de matéria-prima virgem, trazendo benefícios tanto para o meio ambiente quanto para as empresas parceiras e para a sociedade”, explica o representante da Canguru, Taylor Lompa.
A resina pós-consumo reciclada utilizada nesse processo é proveniente de embalagens que já cumpriram seu ciclo e foram descartadas corretamente pelos consumidores, retornando para o sistema produtivo por meio de cadeias de reciclagem. Dessa forma, a nova embalagem de fralda geriátrica é um exemplo de como resíduos plásticos podem ser reintroduzidos no ciclo de produção, trazendo novas funcionalidades sem comprometer a qualidade do produto. “Esse projeto é pioneiro no Brasil no segmento de fraldas geriátricas. É uma contribuição importante para reduzir o desperdício e avançar na sustentabilidade”, destaca.
De acordo com Lompa, os avanços tecnológicos da empresa permitiram que o material reciclado alcançasse uma qualidade similar aos plásticos tradicionais. “A comparação que faço é com o papel reciclado: no início, ele era grosseiro, com aparência e odor diferentes. Hoje, o plástico reciclado passou por evoluções semelhantes e alcançou uma qualidade de impressão muito próxima ao material virgem. Detalhes, como pontinhos brancos quase imperceptíveis, são uma prova de que podemos reduzir o impacto ambiental”, observa.
O desenvolvimento do produto surgiu da conexão do projeto Greenow, mantido pela Canguru. O próximo passo foi o desenvolvimento do design e dos padrões das embalagens durante quatro meses, que resultou na doação de 1.440 fraldas geriátricas ao Asilo São Vicente de Paulo, em Criciúma.
O lar de idosos está entre as 808 instituições atendidas pelo projeto Nutrindo Amor, que já realizou a doação de 1,6 milhões de unidades de fraldas usadas por 55.800 pessoas em todo o país.
Inovação ambiental e tecnológica
A composição das embalagens que revestem as fraldas entregues ao Asilo São Vicente de Paulo possui 20% de resina pós-consumo (PCR). “A ação representa um marco para a indústria brasileira do setor, que está cada vez mais focada em soluções e tecnologias para o aproveitamento de matérias-primas recicladas, com a garantia da mesma qualidade de acondicionamento dos produtos em relação às embalagens com resina virgem. Esta é mais uma conquista de uma grande equipe que se empenhou muito para conectar todas as partes e tornar este projeto possível”, destaca o diretor comercial da Canguru Embalagens, Marcelo Vieira de Sá.
A embalagem das fraldas geriátricas, conta com 20% de Revoloop, a matéria-prima pós-consumo da Dow, fabricante da resina. Para fabricá-lo, embalagens utilizadas são coletadas por cooperativas e processada mecanicamente. “Esta inovação destaca nosso compromisso com a reciclagem e a redução do impacto de carbono das embalagens. Ao incorporar materiais reciclados, não só contribuímos para a sustentabilidade ambiental, mas também promovemos um ciclo de vida mais responsável para os produtos. Continuaremos a investir em soluções inovadoras que refletem nossa dedicação a um futuro mais sustentável”, finaliza Iván Trillo, líder em Soluções Circulares e renováveis na América Latina.
O principal gargalo
Em dezembro de 2022, o Governo do Brasil assumiu o compromisso de recuperar, até 2040, 50% de todas as embalagens plásticas geradas no país, evitando o descarte no meio ambiente. A fala foi feita por Joaquim Leite, ministro de Meio Ambiente à época, durante o encontro do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC, na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU), no Uruguai.
A meta na avaliação do diretor-executivo do Sinplasc é ousada e não é uma missão exclusiva das empresas do setor. “A obrigação para os consumidores é separar e colocar os materiais pós-consumo nos destinos corretos. Os municípios devem fazer a coleta separada dos recicláveis, orgânicos e rejeitos. Aliás, apenas os rejeitos deveriam ir apenas para aterros sanitários. Então deveriam ter coletas seletivas mais eficientes e abrangentes, tanto para coletar os recicláveis quanto os compostáveis. Não indo para o aterro sanitário”, frisa.
É que dentro das indústrias quase nada mais é desperdiçado. O maior desafio está do lado de fora das linhas de produções. Caetano reforça que para o objetivo seja atingido, é preciso ampliar a conscientização, fazendo com que todo o material gerado seja corretamente descartado para que possa retornar para a cadeia e, assim, o plástico que era lixo retorne a ser uma matéria-prima.
“É uma meta audaciosa. É possível, mas tem que resolver o gargalo da fonte. Não tem sistema de coleta eficiente, mecanizada para que cooperados e catadores trabalhem em condições salubres, ergonômica, com plantas semi-mecanizadas, com tecnologia para dar vazão ao volume. Enquanto todo mundo ficar pegando pedacinho por pedacinho na mão, com processo totalmente manual, não vai alcançar. O gargalo está aí. Se a indústria tem que percorrer 700 quilômetros para buscar matéria-prima, quer dizer que o gargalo está nesta etapa, na coleta seletiva municipal e na triagem”, conclui.
Cada brasileiro produz, em média, um quilo de lixo por dia. Mas cada um pode assumir suas responsabilidades para dar a destinação correta aos resíduos, conforme mostra o vídeo criado pela TV Senado. Confira:
Trabalho fundamental
Para que a cadeia do plástico seja retroalimentada de forma adequada, seria preciso que ela funcionasse perfeitamente. Mas, na prática, no dia a dia de quem trabalha com a reciclagem, ainda há desafios a serem superados, principalmente quando o assunto é o correto descarte de resíduos. E lá na ponta, quem sofre, são as pessoas que dependem do melhor reaproveitamento de materiais recicláveis para sobreviver, como as cooperativas de catadores.
Em Criciúma, a empresa responsável pela coleta seletiva do lixo encaminha o material recolhido até o Ecoponto. Na estrutura, custeada pelo governo do município, estão instaladas a Associação Criciumense de Catadores (Acrica) e a Cooperativa de Materiais Recicláveis (CTMar).
Somente na CTMar são 16 famílias sustentadas pela mão de obra de separação de materiais recicláveis. Por mês, os profissionais separam quase 30 toneladas de resíduos que podem ser reciclados.
O plástico representa o segundo maior volume na triagem da cooperativa. O material é também o mais rentável. “O papelão, por exemplo, a gente vende a R$ 0,40 o quilo se for prensado e R$ 0,20 se não for prensado. Já alguns tipos de plástico, como o PEAD, chega a R$ 2,50 por quilo. Esse valor já foi melhor, mas ainda é o que nos dá maior retorno”, calcula Pedro Paulo Lima, presidente da CTMar.
A situação poderia ser ainda melhor se houvesse mais conscientização da população. É que de todos os resíduos que chegam para a cooperativa, grande parte não é reaproveitada. “Chega muito material que não é reciclável. A empresa que faz a coleta seletiva não abre os sacos de lixo para ficar verificando o que tem. Ela é responsável por recolher o que as pessoas colocam nas lixeiras e trazer para a gente. Até bicho morto vem. O povo ainda não está educado sobre o que é e o que não é reciclável. E isso atrapalha bastante o nosso trabalho aqui”, aponta o presidente.
Quando os resíduos são despejados na esteira para a separação, o tempo passa a valer dinheiro. Quanto mais rápido a seleção dos materiais, maior o volume somado e mais quilos serão vendidos. É por isso que na cadeia do plástico a participação de cada um de nós possui extrema relevância. “Quanto menos tempo a gente levar para separar, mais dinheiro a gente ganha”, pontua Lima.
Jucenir Leandro trabalha há sete anos na CTMar. É a funcionária mais antiga da cooperativa. Com o emprego na separação da esteira, ela conseguiu renda para cuidar dos cinco filhos. O salário dela seria melhor, caso os materiais chegassem de maneira mais organizada.
“Se as pessoas separassem corretamente, ajudaria bastante. Grande parte dos resíduos vai fora. Enchemos mais sacos com lixo do que com materiais que podemos vender para reciclar. Essa atividade poderia ser mais valorizada. Se as pessoas tivessem a consciência que aqui na ponta tem gente precisando do material correto para trabalhar e que muitas famílias vivem disso, talvez dariam mais importância para os materiais recicláveis”.
Jucenir Leandro, funcionária do CTMar
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E o plástico tem papel fundamental. Além de gerar o maior retorno financeiro, o material também é o de mais fácil manuseio. Ou seja, o que tem a maior capacidade de ser reutilizado e retornar para a cadeia como uma nova solução que não seja despejando no meio ambiente.
A estimativa é de que de todo o material encaminhado para as cooperativas, menos de 60% realmente é de material reciclável. Este cenário, analisa o presidente da CTMar, só mudará com esforços na educação. “É preciso intensificar um programa de educação. Eu acredito que é preciso focar nas crianças, com iniciativas nas escolas para ensinar os alunos a fazer a destinação correta dos resíduos recicláveis. Eles vão levar este conhecimento para casa e repassar aos pais”, frisa Lima.
Os materiais separados nas cooperativas são encaminhados para indústrias de transformação. São essas empresas que darão nova utilidade ao que era lixo e que poderá voltar a ser matéria-prima para novos produtos.
Se liga, me recicla
Visando um futuro com sustentabilidade e unindo indústria e sociedade, a Copaza, empresa de embalagens plásticas localizada em Içara, atende clientes em todo o Brasil e parte da América Latina, criou o projeto ‘Se liga, me recicla’. O objetivo é atender a população e conscientizar as futuras gerações sobre a importância da preservação do meio ambiente e da reciclagem.
O projeto iniciou em julho deste ano em escolas municipais de Içara. Conforme Diogo Perdoná, coordenador de Marketing da Copaza, desde o início da ação já foram retiradas duas mil toneladas de resíduos que seriam destinados para aterro sanitário.
Perdoná ressalta a importância de levar educação e sustentabilidade para estudantes e poder mudar as futuras gerações.