Leonel Pavan tem pressa. Quer saber do PSDB, seu partido, o que está acontecendo, em qual instância estão sendo tomadas as decisões e que decisões são essas. Ele retornou ao estado na noite de segunda-feira (19), vindo da Nova Zelândia, onde acompanhou a largada da Volvo Ocean Race em direção a Itajaí. Na tarde desta terça-feira (20), conversou pelo telefone com a reportagem do SCPortais e fez algumas declarações contundentes.
Na primeira parte da entrevista, ele respondeu sobre o anúncio feito pelo governador em exercício, Eduardo Pinho Moreira, de que extinguiria a Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (SOL), hoje sob responsabilidade de Pavan, tão logo este deixasse o cargo. O cenário da declaração foi a reunião almoço do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE-SC), realizado na Federação das Indústrias (Fiesc), em Florianópolis. Mas antes do final do dia os dois conversaram sobre o assunto e nós atualizamos as informações.
Leia a íntegra da entrevista:
SCPortais – O senhor volta da Nova Zelândia e é recebido com a notícia da extinção da SOL, anunciada pelo próprio governador. O que pretende fazer?
Leonel Pavan – Eu não posso fazer uma avaliação ainda. Eu sei que a Secretaria é muito importante. Ela foi fundamental (para a arrecadação do Estado). Não dá tempo de sentar de tanto trabalho. É uma loucura. Muito trabalho. Mas eu ainda não conheço a forma como ele (Eduardo Moreira) vai administrar esse assunto.
SCP – Deve falar com ele ainda hoje?
Pavan – É que na verdade eu saio da Secretaria. Eu pretendo sair logo, agora.
SCP – No limite da desincompatibilização?
Pavan – Eu vou falar com ele (Moreira). O meu prazo máximo é dia sete (de abril). Vou ver até quando ele quer que eu fique.
SCP – Mas qual o seu plano pessoal, político? O senhor se candidata à reeleição como deputado estadual?
Pavan – É o seguinte. Eu preciso que o partido (PSDB) defina o que ele quer das suas lideranças. O que ele espera das suas lideranças, pelo menos de algumas. Eu tenho um histórico importante desde 2002. Ajudei o partido a crescer. Então, eu preciso que o partido defina o que ele quer de mim e quero essa definição logo.
SCP – É impressão minha ou o senhor está com um tom de desagrado?
Pavan – Se eu dissesse que estou totalmente contente seria mentira. Eu sou vice-presidente da legenda, mas falta um pouco mais de transparência nas decisões. Acho que falta um pouco mais de consideração com determinadas lideranças.
SCP – Há uma vontade do governador Eduardo Moreira de estar junto com o PSDB nas eleições de 2018… (Pavan interrompe)
Pavan – É. O Eduardo disse o seguinte: se o Pavan sair, eu vou extinguir (sobre a SOL).
(Atualização: na parte da tarde da terça-feira (20), Pavan foi ao Centro Administrativo para uma reunião com Moreira. A conversa durou cerca de uma hora. Ele defendeu a continuidade da SOL e disse que os três eixos atendidos pela Secretaria – Turismo, Cultura e Esporte – realizam trabalhos complementares. Falou sobre as mudanças na distribuição de recursos para garantir transparência e correção nos atos e reforçou a importância das ações desenvolvidas. Ainda destacou que o Turismo responde por 13% do PIB estadual e questionou como ficará o andamento de projetos importantes para o setor, como os centros de eventos, do Geoparque do Sul, da plataforma de vidro na Serra do Rio do Rastro, entre outros, caso a extinção seja confirmada. Ouviu do governador que vai voltar a estudar o assunto, dando uma sobrevida à Secretaria. De qualquer forma, ficou acertado que Pavan deixa o comando da SOL no dia 6 de abril, retomando o mandato de deputado estadual.)
SCP – Continuar até o final do governo é uma possibilidade para o senhor?
Pavan – É que eu não posso continuar.
SCP – Mas o senhor só tem que sair se se candidatar.
Pavan – Eu tenho que sair para uma possibilidade de candidatura. Porque eu pretendo estar na majoritária.
SCP – Ao Senado? (Pavan volta à carga sobre o PSDB-SC)
Pavan – Majoritária. Eu quero compor. A majoritária tem várias funções. Eu quero uma definição do partido se isso é realmente possível. Quando você deixa de ser lembrado em alguma coisa, sente que poderá não ser um dos indicados, ou que estão demorando para decidir as coisas. Eles precisam definir. Eu não vejo outro nome no PSDB, pelo menos por enquanto, que não seja o Paulo Bauer (senador). O Paulo colocou o nome à disposição. Só para governador. Governador ou mais nada. Então, Paulo é um candidato a governador. Eu quero saber, numa conversa transparente, onde é que está sendo discutido isso? As composições… a gente tem que ser ouvido. Eu acho que o Marcos (Vieira, deputado estadual) é um grande presidente, mas eu também me sinto como integrante importantíssimo na construção do PSDB e sou vice-presidente. Quero ser ouvido também. Tem vários eventos que ocorreram e que eu não estive presente…
SCP – Por conta da sua atividade na própria Secretaria?
Pavan – Não, não. Eu tenho que ser convidado, né? Tenho que ser lembrado. Tem que ser dito o que está acontecendo.
SCP – O fato de não estar totalmente contente, como falou, pode levá-lo a uma mudança de legenda?
Pavan – Isso é muito difícil. Isso é muito difícil.
SCP – De acontecer ou de decidir?
Pavan – É muito difícil de acontecer. Por isso eu preciso de uma definição.
SCP – Quando o senhor fala muito difícil é burocrática, partidária, política ou pessoalmente?
Pavan – É difícil… isso de mudança de legenda. É difícil de acontecer isso.
SCP – Da sua parte, o senhor acha que o ideal é permanecer no PSDB?
Pavan – Eu gostaria muito. Quero muito. Eu sou do partido.
SCP – Porém…
Pavan – A gente precisa é ter definições. Eu sou do PSDB e quero ser sempre PSDB. Eu preciso que a legenda, as lideranças, sejam mais democráticas.
SCP – E transparentes, como o senhor falou?
Pavan – Democráticas. Participação maior. Se estiver havendo democracia, eu não estou participando desta democracia. Eu sou PSDB. Ajudei a construir esse partido e não me sentirei bem fora da legenda. Não me sentirei bem, em hipótese alguma. Por isso que é difícil qualquer mudança. Eu não vou me sentir bem fora do partido que eu ajudei a construir.
(Pavan dá uma pausa e retoma)
É mais fácil eu ficar fora da política do que sair do PSDB. Quando você se sente incluído em um projeto, acaba se envolvendo mais politicamente. Isso não é só para mim. Isso é para as pessoas com quem eu converso, que sentem um pouco de frieza em algumas decisões. Para se sentir compromissado em continuar na política, no partido a que você pertence, também precisa participar das decisões. Ela (a decisão) não pode acontecer e ser avisada depois. Tem que participar dos debates, das histórias, dos eventos… A minha cara é o PSDB. Eu me sentiria muito… seria muito ruim para mim eu ficar fora de um projeto partidário. Mas a vida é feita de momentos e cada momento, conforme ele for escrito, você toma as suas decisões.
SCP – O senhor está num momento de decisão?
Pavan – Não. Eu estou precisando realmente que o partido decida algumas coisas. Quando falo partido, não me refiro a todos. Eu me refiro a quem decide. Ser lembrado, pelo menos em algumas coisas importantes, é fundamental dentro de um partido democrático que nem o nosso.
SCP – O senhor pretende fazer uma conversa com o presidente Marcos Vieira, ou outras lideranças do PSDB, para falar sobre sua insatisfação?
Pavan – Não. Não é insatisfação. Eu já requeri por WhatsApp ao presidente uma reunião. Com os deputados estaduais, federais, senadores e presidentes dos órgãos do PSDB. Estou esperando o retorno. Seria, para mim, talvez a coisa mais difícil, politicamente, dos meus últimos tempos, eu ficar fora de um processo, de uma decisão do meu partido, fora das decisões do meu partido. Quando as coisas estão acontecendo sem você saber, você acaba requerendo o que não seria necessário requerer.
(Entrevista feita e editada por Andréa Leonora. Transcrição de Taynara Nakayama – 20/03/2018)