Na última parte da entrevista da Coluna Pelo Estado com o governador Raimundo Colombo são tratados assuntos diversos, desde a relação com o governo federal até a atração de investimentos para Santa Catarina, passando pela preocupação com a Segurança Pública e o abalo que sofreu ao ver seu nome citado em delações da Operação Lava Jato. Com o objetivo de mostrar ao leitor um panorama das diversas áreas do Estado, desde a posse de Colombo como chefe do Executivo catarinense a rede formada pelos diários da CNR-SC/ADI-SC/Central de Diários e, mais recentemente, o SC Portais, publicou inúmeras entrevistas com o próprio governador Colombo, com seu vice, Eduardo Moreira, além de secretários de Estado, e presidentes de empresas, instituições e órgãos públicos. Nesta última entrevista à coluna no cargo de governador, Raimundo Colombo deixou uma mensagem ao povo catarinense: “Quero agradecer a todos. Todos que torceram, que ajudaram. Acho que nós vivemos juntos um período de superação. Santa Catarina enfrentou a crise como nenhum outro estado, apresentou os melhores resultados. Só posso agradecer pelo privilégio de ter tido a oportunidade de governar nosso Estado”.
[Pelo Estado] – Como avalia a sua relação com o governo federal ao longo de seus mandatos?
Raimundo Colombo – Olha, a presidente Dilma (Rousseff, que sofreu impeachment em 2016) foi correta com Santa Catarina. Obras importantes foram realizadas e eu não tenho nenhuma reclamação. E o presidente Temer (Michel, vice-presidente que assumiu o governo federal com o impeachment da titular) tem tratado Santa Catarina e a mim, pessoalmente, de uma forma destacada. Considero isso algo importante: buscar um bom relacionamento, construir pontes, estabelecer acessos que permitam ao Estado desenvolver seus projetos. Só tenho a agradecer e reconhecer que fomos bem atendidos.
[PE] – Mas teve que se impor também, como na renegociação da dívida com a União.
Colombo – Há momentos difíceis, em que você precisa se posicionar com mais firmeza, mas sempre de forma respeitosa. Isso foi compreendido e o resultado foi bom.
[PE] – Foi a maior vitória?
Colombo – A negociação da dívida foi um dos momentos mais difíceis, porque o governo federal não queria abrir mão. Tivemos que tomar decisões duras, que até fogem um pouco desse aspecto de harmonia. Mas era necessário para defesa do interesse do Estado. Era uma injustiça que precisava ser corrigida. E foi.
[PE] – Segurança Pública foi uma preocupação permanente?
Colombo – Investimos muito na Segurança Pública, o trabalho do nosso pessoal é muito bom, temos um corpo funcional capacitado, preparado. Quase todos têm educação em nível superior, têm qualificação de alto nível, a fase de formação é muito boa. Agora é preciso continuar investindo em tecnologia e em inteligência, e aumentar os efetivos. Fizemos isso e precisa haver continuidade.
[PE] – Caso contrário?
Colombo – Vira o caos. A maior ameaça que pesa sobre a sociedade brasileira é o crime organizado, é o aumento da violência, é o cenário do consumo e da venda de drogas. Isso tudo tem trazido consequências muito graves para a sociedade. Neste caso, o Estado brasileiro não pode relativizar, não pode facilitar. Tem que jogar muito duro. É a maior ameaça à liberdade das pessoas que se tem hoje no Brasil. Se isso não for contido, daqui a alguns anos teremos uma guerra urbana no país.
[PE] – O senhor vê luz no fim desse túnel?
Colombo – Eu tenho certeza de que o Estado vai prevalecer. Agora, não pode deixar isso piorar. Temos que agir muito rapidamente e algumas coisas de conceito precisam ser avaliadas. Uma integração maior entre o Judiciário e o Executivo, por exemplo, para que se consiga ter uma gestão melhor sobre essa questão, que está se agravando.
[PE] – Qual a sua resposta às críticas que recebe à política de incentivo fiscal mantida pelo Estado?
Colombo – A política de incentivo fiscal visa equilibrar a economia. Em alguns setores nós temos desvantagem. Somos importadores de grãos, por exemplo, que trazemos do Centro-Oeste. Sem o incentivo fiscal, todas as agroindústrias vão migrar para o Centro-Oeste. É uma questão de fazer escolha e a escolha foi proteger Santa Catarina. Nós não praticamos a guerra fiscal. Praticamos a proteção fiscal de Santa Catarina. E não inventamos nada. Apenas seguimos uma política que vem dando certo há muitos anos, e por isso Santa Catarina é o que é. Tivemos o maior crescimento do PIB no Brasil em 2017 e o maior volume de geração de empregos em termos absolutos, exatamente porque cuidamos bem da economia. Os números mostram que as nossas escolhas foram acertadas.
[PE] – O que isso está trazendo de investimentos para o estado?
Colombo – Temos recebido muitos contatos de muitas empresas que estão começando a fazer seu novo plano de investimentos, agora que a situação do país começou a melhorar e as decisões precisam ser tomadas. A Parati trouxe uma nova linha de produtos, a fábrica da GM em Joinville anunciou investimentos significativos em expansão, a Berneck está criando sua segunda unidade no estado. E muitas outras conversas estão em curso, na fase de acordos em que o sigilo é exigido. É uma lista de mais de 20 interessados em investir no estado, de diferentes setores e em todas as regiões. O momento é de retomada do crescimento e Santa Catarina, por ser um estado muito competitivo, pela qualidade da mão de obra, pelas vantagens estruturais, como, por exemplo, os portos, desperta o interesse e atrai investimentos. Vamos crescer muito em 2018.
[PE] – A decisão de não aumentar impostos também pesou?
Colombo – Tudo contribui. A opção por não aumentar impostos foi decisiva para atrair essas empresas. Soma-se aí a segurança jurídica. Não alteramos contratos e com isso mantivemos a credibilidade.
[PE] – Em seu período de governo o Estado assumiu financiamentos. Qual o perfil da dívida que vai deixar?
Colombo – Em melhor situação do que estava quando assumi, porque a renegociação com a União diminuiu muito o valor da dívida e o desembolso mensal, já que houve um alongamento. As dívidas com o BNDES também foram alongadas. Com a retomada do crescimento, a arrecadação cresce e, obviamente, o Estado fica em uma situação mais folgada. Por outro lado, mantivemos os nossos ativos. Os outros estados se desfizeram de seus ativos, ou estão vendendo. Nós não nos desfizemos de nenhuma ação de nenhuma empresa. Continuamos com todo o nosso patrimônio. Temos ativos como os recebíveis do Prodec que nunca aceitamos antecipar. Temos uma dívida ativa em carteira de R$ 18 bilhões. O Congresso está discutindo agora, para o mês de fevereiro, fazer um programa de venda dessa dívida ativa, o que colocaria um dinheiro significativo no caixa. Então, o Estado tem recebíveis importantes para contrapor qualquer dificuldade de caixa. Os outros estados não têm mais.
[PE] – O Fundam 1 (Fundo de Apoio aos Municípios) fluiu sem maiores dificuldades, mas o Fundam 2 está travado. Pretende resolver isso antes da licença?
Colombo – Estou lutando para isso. A Secretaria do Tesouro Nacional liberou os R$ 700 milhões que solicitamos e o BNDES está fazendo o enquadramento. Nesse aspecto é que estamos tendo dificuldades operacionais. Não é um problema da disponibilidade do dinheiro. O dinheiro está disponível, mas nós queremos atender a integralidade dos municípios, dando autonomia para que eles decidam onde os recursos devem ser aplicados. É aí que não está havendo compreensão por parte do BNDES. Eles reconhecem o sucesso do Fundam 1, mas defendem que esse modelo não é permitido pelos órgãos de controle por conta da dificuldade de fiscalizar os 295 municípios. Estamos construindo uma alternativa, talvez o Estado passando recursos para cidades com até 10 mil habitantes, ou 15 mil, tirando dinheiro do Orçamento para isso e colocando o dinheiro do BNDES para obras do próprio Estado.
[PE] – Do que não vai ter saudade?
Colombo – De tanto incômodo. Você fica sempre esperando qual a bomba que vem. Estou sempre ansioso. Você sorri menos, conta menos piada, se isola mais… está sempre tenso.
[PE] – Nesse sentido o pior momento foram os ataques aos ônibus?
Colombo – Do ponto de vista do governo, tivemos os ataques a ônibus, em duas ou três fases; tivemos as greves, que sempre trazem um transtorno enorme; e tivemos a ação do clima, enchentes, ventos fortes, ressacas. Mas do ponto de vista pessoal, o pior momento foi ver meu nome citado na Lava Jato.
[PE] – Que transtornos isso trouxe?
Colombo – Sob o ponto de vista pessoal foi uma das coisas que mais me incomodou ao longo de toda a minha vida, e não só desses sete anos. E isso tem consequências. Foi um momento de muito sofrimento e que ainda não está superado. Nós estamos muito seguros, porque reunimos todos os documentos que comprovam claramente tudo o que sempre dissemos: nunca vendemos nenhuma ação, nunca fizemos nenhum contrato, não foi realizada nenhuma obra que possa indicar qualquer mal feito da nossa parte. Pelo que o advogado me informa, já há compreensão de que de fato não houve nenhum problema do governo. Já em 2012 anunciamos, oficialmente, que não haveria faria nenhuma venda porque existia uma baixa avaliação da empresa (Casan) por causa de uma discussão trabalhista e previdenciária. E com a JBS não tem o que discutir. A doação foi oficial, para o PSD nacional, que passou para uma centena de candidatos no estado e no país. Tenho certeza que seremos absolvidos, porque os documentos comprovam e a minha consciência garante.
[PE] – Isso pode atrapalhar a sua campanha para o Senado?
Colombo – Já atrapalhou a minha vida. Mas eu entendo que isso será esclarecido antes da eleição. A Justiça tem consciência de que terá que liberar as pessoas, ou punir as pessoas, antes do processo da eleição. A informação que eu tenho é que dentro de pouco tempo vai sair o parecer da Justiça. Quero esclarecer isso, provar a nossa retidão. É o que me importa. O processo político brasileiro tem que ser alterado, corrigido, e eu vou colaborar com tudo o que puder. Mas é muito importante esclarecer essa situação e não deixar nenhuma dúvida na cabeça de nenhuma pessoa.