Iparque: a fábrica de ideias que impulsiona cidades do Sul de Santa Catarina

Um lugar para ideias. É assim que podemos definir o Parque Científico e Tecnológico (Iparque) da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). Um espaço voltado para inovação, tecnologia e desenvolvimento para as cidades de Santa Catarina.

Instalado no bairro Sangão, em Criciúma, o Iparque conta com mais de 900 mil metros quadrados, são 6,2 mil metros quadrados de área construída, onde atuam aproximadamente 60 profissionais altamente qualificados que prestam serviços para órgãos públicos e privados, além de contribuir com o Ensino, a Pesquisa, a Extensão e a Inovação. Criada em julho de 2011, estrutura completa 14 anos nesta sexta-feira, dia 11.

O espaço é composto pelo Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas (Ipat); o Instituto de Engenharia e Tecnologia (IDT); o Instituto de Alimentos (Iali), além da Incubadora Tecnológica de Ideias e Negócios (Itec.in), do Centro de Pesquisa e Estudos Ambientais (Cpea) e do Centro de Engenharia e Geoprocessamento (Cegeo).

Iparque foi inaugurado dia 11 julho de 2011. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

Quando se fala que a Unesc é uma universidade comunitária, muitas pessoas acreditam que é sobre bolsas de estudos, o que também é verdade, mas, o termo ‘universidade comunitária’ vai além. É literalmente, o significado da palavra ‘comunitária’, ou seja, feita por pessoas para as pessoas. O Iparque é o significado disso. Neste espaço, as ideias são colocadas em prática, são criados projetos de desenvolvimento para diversos municípios do Estado. Alunos saem das salas de aula e aprendem na prática o que o professor ensinou, mas também profissionais ajudam no desenvolvimento das cidades, seja com projetos, com soluções ou até mesmo com novas ideias.

A reitora em exercício da Unesc, Gisele Coelho Lopes, ressalta que o Iparque tem um papel estratégico, tanto para a Universidade, quanto para o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico do Sul de Santa Catarina. “Ele é uma extensão da instituição voltada à inovação, à pesquisa aplicada e à conexão direta com as demandas da sociedade e do setor produtivo. Por meio dele, transformamos conhecimento em soluções, impulsionamos o desenvolvimento de novos negócios, fortalecemos cadeias produtivas e colaboramos para que nossa região se torne cada vez mais competitiva, sustentável e inovadora”, enfatiza.

Mas, afinal, o que é o Iparque? 

O Iparque está situado em uma área que anteriormente foi uma mineradora, chamada de Indústria Carboquímica Catarinense (ICC), o qual beneficiava os rejeitos do carvão no local e por trem iria até Imbituba. E esta área degradada foi fornecida para a Unesc que, desde então, procura o desenvolvimento de pesquisa e ciência dentro do campus para melhorar a realidade da região.

“A Universidade Comunitária tem esse foco, que é o de melhorar a região. Então, aqui temos diversos cursos inseridos, além de mestrado, doutorado, cursos das mais diversas áreas de engenharia e meio ambiente, que se encontram para as mais variadas contribuições para a região”, ressalta Jóri Ramos, coordenador do Labs Cidades do Iparque.

Municípios atendidos

Atualmente, o Iparque atende aproximadamente 12 municípios, principalmente da Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC), Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC) e Associação Municípios Região de Laguna (AMUREL). “Mas, hoje, por exemplo, nós temos trabalhos na região serrana também”, detalha Ramos.

O Labs Cidades conta com aproximadamente 20 profissionais. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

Um espaço voltado às cidades 

Dentro do Iparque, existe um espaço denominado de Labs Cidades, um laboratório voltado para a solução de problemas dos municípios. “Tem um foco importante de cidades inteligentes, outro objetivo que é a contribuição para a mobilidade urbana, tanto de um município específico, quanto de mobilidade urbana regional, tem também como foco o eixo de acessibilidade, que é um tema muito importante, e a colaboração nas mais diversas áreas de infraestrutura e meio ambiente, que os municípios aqui da região necessitam”, frisa Ramos.

Conforme o coordenador do Labs Cidades, o local é um laboratório híbrido para desenvolvimento de projetos. “A gente está apto com pesquisadores, alunos e técnicos a desenvolver soluções dos variados temas, principalmente relacionado a infraestrutura e meio ambiente, que é a nossa competência ao longo de vários anos. Então, este laboratório tem este foco, que está interligado com o objetivo principal da universidade, que é comunitário, que é desenvolver a sociedade, a comunidade, produtos eficientes e de excelência”, garante. “Hoje, nós atendemos diversas empresas e municípios, entendemos as suas demandas e seus anseios e procuramos uma resolução científica e técnica, com o corpo docente, com os técnicos e com nossos alunos”, acrescenta.

Dentro do Lab Cidades já saíram projetos que ajudam os governos e também a sociedade diariamente.

Quem elabora os projetos?

O laboratório funciona de forma interligada entre técnicos e engenheiros, professores, pesquisadores e também alunos. “Hoje, temos uma hierarquia que funciona com os professores, técnicos e abaixo dos técnicos sob supervisão dos professores temos os alunos. Dentro da responsabilidade, por serem projetos que são implementados, temos toda uma responsabilidade de conduzir isso a quatro mãos. Cada um assume sua responsabilidade para um bom desenvolvimento. Então, esse tripé funciona muito bem e vem funcionando ao longo dos anos”, ressalta.

Hoje o setor conta com aproximadamente 20 profissionais, que atuam entre alunos, técnicos e professores. No laboratório, atualmente, atuam principalmente alunos da Engenharia Civil, Engenharia de Agrimensura, Engenharia Ambiental, Geografia e, agora, por exemplo, está sendo estudado uma proposta que vai precisar de alunos dos cursos de História, Pedagogia e Direito.

Projetos em andamento 

Uma porta de entrada para o mercado de trabalho

Além ajudar no desenvolvimento de municípios da região de Santa Catarina, o Parque Científico e Tecnológico, também é uma porta de entrada dos estudantes para o mercado de trabalho. Um dos exemplos desta prática é a estagiária e estudante de Engenharia Civil na universidade, Hemely Bortoni Martins.

Integrando o Labs Cidads, ao lado de professores e técnicos, a estudante atua, principalmente, no desenvolvimento de pranchas e orçamentos dos projetos. Desde que iniciou na equipe, Hemely contou que já trabalhou em iniciativas voltadas à Prevenção Contra Incêndios (PCI), construção de Centro Comunitários e Unidades Básicas de Saúde (UBSs), além de projetos internos do próprio Iparque.

 Hemely Bortoni Martins utiliza o ensinamento da sala de aula para atuar no Labs Cidades. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

“Trabalhar na área ao longo da faculdade agrega bastante o currículo e nos ajuda a crescer profissionalmente, pois conseguimos ver na prática o que estamos estudando nas salas de aula. Então, aqui no Iparque por termos vários profissionais, como engenheiros civis e engenheiros eletricistas, consigo aprender um pouco de cada área, ampliando meu conhecimento”, ressalta.

Por ser estagiária e ainda estar em processo de formação, antes de ser totalmente finalizado, o trabalho da estudante sempre passa por avaliações de outros profissionais e coordenadores. Em caso de dúvidas, os professores também estão à disposição para ajudar todos os estudantes que atuam no local. “O estágio no Iparque é uma forma de saber a área que você quer atuar e o auxílio dos profissionais mais experientes, tanto na parte do estudo quanto trabalho, agrega absurdamente”, afirma.

Fernando Bertan, gerente do Iparque, comenta que no Iparque, os acadêmicos recebem treinamento e desenvolvem novas competências. “Eles ganham experiência para o mercado de trabalho. Com isso, a Unesc forma mão de obra qualificada, preparada para atender às demandas da indústria regional e também de todo o Brasil”, observa.

Auxílio para indústrias e municípios

Por ser considerada uma universidade comunitária, uma das principais finalidades do Iparque é no auxílio aos municípios e também às equipes de engenharia de empresas, principalmente localizadas no Sul de Santa Catarina. Dentro do parque tecnológico, esta função fica a cargo do Instituto de Engenharia e Tecnologia (I-DT), coordenado pelo engenheiro e professor, Mateus Milanez, que atua com uma equipe de, ao todo, 14 profissionais dos cursos de engenharia da Unesc.

O ponto principal do I-DT é os laboratórios de ensino, utilizados para dar suporte à comunidade por meio de projetos de extensão. Porém, além da parte prática, o local também possui iniciativas de pesquisa, voltadas aos cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, que, posteriormente, são aplicadas nas indústrias dos municípios de Santa Catarina com suportes técnicos ou estruturais.

“Nós temos projetos voltados com a parte de resíduo do carvão, que são iniciativas desenvolvidas em conjunto com as mineradoras. Por meio desta iniciativa, como a parte do resíduo do carvão utilizado hoje costuma ser descartado, nós reutilizamos as cinzas como cimento, basicamente. Porém, também temos projetos voltados à área médica, como a fabricação de tecidos, fios odontológicos e biomateriais”, comenta.

Municípios da AMREC são assistidos pelo Iparque. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

A maioria dos projetos executados no Instituto de Engenharia e Tecnologia são feitos a partir de demandas encaminhadas pelas Secretarias das Obras ou empresas dos municípios da AMREC, AMESC ou AMUREL, além das regiões da Serra catarinense. Dessa forma, com informações e equipamentos disponíveis no Iparque, os profissionais estudam os problemas que chegam e fazem determinados testes antes de encaminhá-los para o processo de execução.

“Geralmente, como determinados municípios ou empresas não possuem um conhecimento técnico ou estrutural necessário para desenvolver algumas obras ou iniciativas, a Unesc, por meio do Laboratório de Engenharia e Tecnologia, oferece este suporte. Pegamos as matérias-primas necessárias, seja de uma indústria ou prefeitura que entra em contato, e desenvolvemos um projeto aos clientes. Posteriormente, fazemos um acompanhamento periódico”, explica Milanez.

Embora a equipe seja grande, formada por 14 profissionais, o coordenador pontua que não é possível determinar uma periodização específica para o desenvolvimento dos projetos executados no Iparque. Cada iniciativa depende da necessidade de cada cliente e também das características dos materiais que estão sendo estudados, podendo demorar entre 15 e 30 dias até a execução final, pois inicialmente são feitos estudos e testes para não ocorrer nenhum problema na hora de executá-lo.

Teoria alinhada com a prática 

Na equipe coordenada por Milanez, 100% dos profissionais que atuam nos desenvolvimentos de projetos são estudantes dos cursos de engenharia oferecido pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, que na maioria das vezes são bolsistas em treinamento. Conforme o engenheiro e professor, com o aprendizado somado com teoria e prática, os estudantes que passam pelo Instituto de Engenharia e Tecnologia ganham uma base sólida para aplicarem nas indústrias futuramente.

Por se tratar de uma instituição de ensino, o principal viés do Iparque é oferecer ensinamentos aos estudantes que atuam nos setores do Parque Científico e Tecnológico, diferente das empresas que trabalham diariamente apenas no processo de rendimento e lucro. No local, seja no departamento de engenharia ou nos outros institutos que formam o Parque Tecnológico, os professores realizam um acompanhamento e monitoramento do começo ao fim, desde o primeiro dia dos estudantes no departamento.

“Como professores, nós temos tempo para ensinar, sendo a nossa principal função como universidade. Posteriormente, quando os estudantes chegam nas indústrias, já entram com uma bagagem grande do que ensinamos, seja no Iparque ou nas salas de aula. Além disso, muitos estudantes chegam com um conhecimento comparado e até mesmo maior do que determinados colaboradores das indústrias após aprenderam a teoria o conhecerem os equipamentos, sabendo dos seus processos e limitações”, comenta.

Olhar para o futuro

No entanto, para disponibilizar todo suporte necessário tanto para as empresas quanto para os municípios, todos os profissionais que atuam no Iparque costumam ter os pensamentos voltados para o futuro, estudando e percebendo as principais necessidades que as empresas precisarão no amanhã. Para ficar um passo a frente, Milanez explica que toda a equipe costumam avaliar o Sul de Santa Catarina, para saber as principais potências que precisam ser feitas na região.

“Costumamos fazer uma avaliação regional para corrermos atrás e descobrimos o que precisamos, principalmente em tecnologias, já que queremos trazer para as salas de aula para nossos estudantes conseguirem ter uma base. Então, precisamos estar de olho no que está acontecendo ao redor do mundo, para que, dessa forma, sabermos o futuro da nossa indústria ou engenharia. Com isso, sempre conseguimos estar um passo à frente”, frisa.

O técnico do Instituto de Engenharia do Iparque, Tchesare Andreas Keller, destaca que seu setor é voltado à prestação de serviços para a parte de engenharia e tecnologia. “Na parte de ensino, além de treinamento e aulas práticas, a gente tem o desenvolvimento de profissionais, sendo um treinamento de profissionais para liberá-los ao mercado. Sabemos que eles têm uma visão diferente da gente, por sermos formadores de profissionais, e muitas empresas buscam aqui com a gente justamente isso. A gente tem uma rotatividade alta, pois formamos os profissionais, ensinamos eles a trabalhar com a parte teórica e prática, e as empresas olham para a gente com os olhos diferentes, buscando os trabalhistas e levando para o mercado de trabalho”, comenta.

Keller enfatiza que diversos estudantes desenvolvem seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) no Instituto de Engenharia do Iparque. “As pesquisas são executadas durante a graduação para desenvolvimento de novas técnicas de execução, novos materiais que vão ser empregados, testes de produtos que estão sendo desenvolvidos. A gente tem essa abertura com as empresas”, conta.

Tchesare Andreas Keller presta serviços para os setores de engenharia e tecnologia. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

Estudos 

O técnico detalha como os estudos são feitos, tanto para empresas como para os governos municipais. “Quando necessário, vamos ao local e fazemos as coletas dos materiais para analisarmos o que vai ser executado ou descobrir o material que vai ser empregado na construção. Coletamos as amostras e verificamos a qualidade dos materiais. Trazemos os materiais para o Iparque, fazemos os procedimentos normativos e classificamos o solo. Posteriormente, com os resultados, outro setor monta o projeto em cima dos dados preliminares que a gente consegue. Fazemos a caracterização de todos os materiais da cama de estrutura do pavimento, que é o subleito, sub-base, base, revestimento asfáltico”, reitera.

Keller explica como que isso se aplica em um bem para a comunidade. “Se a gente não fizer todos esses estudos de qualidade, não conseguimos garantir que o que está sendo entregue para a comunidade é uma obra de qualidade. Então, a gente precisa fazer essa caracterização. Um projeto bem feito e depois podemos ir lá verificar se está conforme o executado do projeto. Se não tiver, o que está sendo entregue para a comunidade terá uma durabilidade muito baixa. Então, não adianta eu entregar uma obra para comunidade e um ano depois está pior do que estava um ano antes. A gente fazendo todas essas caracterizações, estudos e verificações de qualidade, conseguimos garantir que o que está sendo entregue para a comunidade é um benefício bom e duradouro”, afirma.

O técnico comenta que quando a execução do projeto apresenta problema, pode, sim, voltar ao Iparque. “O questionamento sempre vem para o setor que ficou responsável pela parte final. Posteriormente, a gente se reúne e verifica sobre qual problema está acontecendo e o que está acontecendo. Em seguida, fazemos estudos para melhorar isso e para entender se o problema está no nosso projeto ou no que foi executado. Fazemos toda uma verificação antes”, esclarece. Se for necessário, abrimos uma janela de inspeção, verificamos todas as camadas, como foi executado, verificamos a compactação e depois a gente reavalia. Fazemos um levantamento prévio da melhor forma possível, sendo baseada nas normas, alinhando com o pessoal do projeto. Então, a gente tenta não deixar passar nada. Mas, ninguém está imune a erros”, completa.

O Instituto de Engenharia do Iparque tem trabalho sendo desenvolvidos desde Passo de Torres até Laguna.

 Investimentos 

Por ser uma universidade comunitária, o Iparque não tem fins lucrativos, mas isso não quer dizer que não há custos. “Temos os nossos custos com as pessoas e com manutenção de equipamentos. Tudo que temos aqui na Unesc que gera uma receita é investido aqui dentro, seja em ensino ou compra de equipamentos. Então, sempre no desenvolvimento da instituição. Quem lucra com isso é sempre a comunidade, retornando como um benefício”, destaca.

Ensaios 

Keller detalha na prática como os ensaios são feitos no Iparque, sendo um teste para uma empresa visando verificar a qualidade final de uma pavimentação asfáltica.

Fernando Bertan, gerente do Iparque, ressalta que um dos pilares do Iparque é a extensão, realizada por meio da prestação de serviços. “Essas atividades incluem projetos de engenharia, P&D+I, ensaios de controle de qualidade e suporte técnico às indústrias da região. Os acadêmicos atuam em conjunto com os engenheiros da Unesc, colaborando na busca por soluções para o setor industrial, adquirindo, assim, experiência profissional — muitos deles já seguem carreira nas áreas em que atuaram”, comenta.

Tradição familiar que virou tema de estudo

Dentro do Iparque, o passo a passo para o surgimento de uma ideia não é um processo definido. Todos os pesquisadores possuem as suas próprias influências que, posteriormente, a transformam em temas de estudo no Parque Científico e Tecnológico. O doutorando e engenheiro de materiais Henrique Borba Modolon, por exemplo, está desenvolvendo uma pesquisa baseada em uma tradição familiar, influenciado pelo avô, que é pescador de tilápias no Sul de Santa Catarina.

Apesar de ser uma pesquisa curiosa, o pesquisador já vem estudando e desenvolvendo o tema desde o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), enquanto ainda cursava a graduação de Engenharia de Materiais na universidade. Posteriormente, a ideia passou a ser estudada durante o mestrado e, atualmente, é o tema de pesquisa do seu doutorado. A finalidade é utilizar o colágeno, retirado da pele da tilápia, como um curativo para tratar queimaduras.

Henrique Borba Modolon atuando em um dos laboratórios do Iparque. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

“Nosso grupo de pesquisa trabalha na reutilização de resíduos, utilizando produtos que atualmente são descartáveis. Por exemplo, o peixe quando é filetado, o filé, que é 30% do animal, é a única parte utilizada. O restante é sempre descartado pelos pescadores. Então, como o Brasil é o terceiro país que mais produz tilápia no mundo, passei a estudar este processo e perceber que o colágeno extraído da sua pele, pode ser utilizado com a função de recuperação”, conta.

Modolon iniciou o tema estudando possíveis formas de extração do colágeno do animal. Após evoluir no processo de estudo, o doutorando está na parte de aplicação nas feridas. No estudo, os cuidados com o meio ambiente é uma das principais partes do projeto, onde são utilizados apenas materiais e fontes renováveis para não degradar a natureza. Ainda, além de não provocar problemas ao meio ambiente, o colágeno também não degrada o corpo humano no processo de cicatrização.

“Em uma queimadura, temos que utilizar um curativo que em determinado momento terá que ser retirado, causando dor e desconforto. Já a pele da tilápia será absorvida pelo corpo e não precisará ser retirada. Este foi meu pensamento nesta pesquisa, utilizar um material que não degrade ou agrida o corpo das pessoas. Quero que este biomaterial seja eficiente, curando as pessoas com menos dor e menor custo”, diz.

Modolon está desenvolvendo um curativo para tratar queimaduras. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus

Resultados conquistados

Desde que iniciou o processo de pesquisa no doutorado, o engenheiro de materiais ressalta que já teve resultados positivos, mesmo a pesquisa ainda estando apenas no início. O estudo ainda está apenas no módulo de protótipos, mas os testes iniciaram e estão sendo aplicados em seres humanos, com apoio dos professores dos cursos da área da saúde na Unesc.

“Meu objetivo é construir um curativo multicamadas, então, estou estudando para criar uma espécie de hidrogel. O principal objetivo é criar uma forma de curar pessoas queimadas de uma forma mais barata e acessível, sendo disponibilizado principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Queremos disponibilizar para todo mundo, ao redor de todo Brasil”, estabelece.

Por ser extraída do peixe, o tema e a pesquisa ainda são temas considerados inovadores, pois o colágeno é mais comum ser retirado de bovinos, suínos e, até mesmo, em aves, como na China. Então, para o pesquisador, o processo de pesquisa para obter os resultados necessários são os maiores desafios neste projeto, devido à escassez de conteúdo que estão disponíveis para aplicar os testes, que são feitos vários por dia.

Além do apoio do Iparque e dos cursos da área da saúde na Unesc, a pesquisa de Modolon também recebe parcerias da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Salvador (BA) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Quando uma pessoa se queima, às vezes é necessário até amputar o membro queimado. Por conta desta importância, a pesquisa demora, já que temos que estudar, entender e aplicar da melhor maneira possível”, pontua.

Laços entre pesquisadores e clínicos

Apesar da extração de colágeno para a recuperação de queimaduras ser uma das principais linhas de estudo do engenheiro de materiais, o uso da tilápia também tem outra função durante o seu processo de pesquisa. Por meio do osso do animal, o pesquisador também faz a extração de hidroxiapatita, um mineral geralmente encontrado na estrutura óssea ou dentária e que está sendo estudado em parceria com os estudantes e profissionais do curso de Odontologia da Unesc.

Segundo o professor do curso de Odontologia e coordenador da clínica de Odontologia da Unesc, Muryel da Rosa Bortot, no momento o material está passando pelos testes preliminares para, posteriormente, começar a ser utilizado nos pacientes. Todavia, a data dos atendimentos ainda não foi definida, já que a pesquisa ainda continua em andamento. Para o dentista, devido ao baixo custo, o biomaterial ajudará com resultados mais rápidos nos atendimentos dos pacientes.

“Então, utilizarmos uma tecnologia como esta para benefícios dos nossos pacientes, faz com que tenhamos sucessos na nossa pesquisa. A hidroxiapatita é cara na maioria das vezes e, conseguir de uma forma tão boa com menor custo, se torna mais atrativa para ser aplicada nos pacientes, trazendo um benefício de forma integral, comparado a outros biomateriais que temos atualmente”, ressalta.

Ainda, para a reportagem, o professor também destaca a importância das parcerias entre os pesquisadores do Iparque com iniciativas feitas pelos cursos de graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense. “A atuação do Iparque com nossas pesquisas clínicas fazem com que consigamos estreitar laços entre o pesquisador e o clínico, melhorando os atendimentos dos pacientes e ajudando a termos resultados um pouco mais rápidos”, estabelece.

Iparque e sociedade 

A reitora em exercício destaca como o Iparque contribui para fortalecer a relação entre a universidade, o setor produtivo e a sociedade. “O Iparque é um elo fundamental nessa relação, pois permite que a ciência ultrapasse os muros da universidade e se materialize em desenvolvimento, inovação e geração de valor para empresas, instituições e para a comunidade. Por meio de projetos de pesquisa aplicada, consultorias tecnológicas, desenvolvimento de produtos e processos, além da formação de profissionais qualificados, o Iparque promove um ambiente colaborativo em que a nossa Instituição, setor produtivo e sociedade caminham juntos, cocriando soluções para os desafios atuais e futuros”, comenta.

Reitora em exercício garante que o Iparque atua na formação de pesquisadores.

Gisele garante que a Unesc tem investido de forma constante na qualificação da infraestrutura física e tecnológica do Iparque, na formação de pesquisadores, na atração de empresas e startups e na ampliação de parcerias estratégicas. “Recentemente, reforçamos os investimentos em laboratórios de ponta, ambientes de inovação e projetos de extensão tecnológica. Além disso, buscamos constantemente editais de fomento, parcerias com governos e empresas para garantir a sustentabilidade e a expansão das atividades do parque. Esses movimentos consolidam o Iparque como um espaço de referência em inovação, ciência e transformação social”, destaca.

O prefeito de Criciúma, Vagner Espindola, ressaltou que o Iparque tem atuado no planejamento da cidade e no desenvolvimento da sociedade. Ainda, lembrou que a Unesc nasceu de uma legislação municipal. “A Unesc e a Prefeitura de Criciúma é como se fosse um corpo só. Assim, nós estamos umbilicalmente ligados, até porque a própria universidade, nasceu de uma legislação municipal e o Parque Científico e Tecnológico, de igual forma. Tivemos, sim, muitas, mas muitas parcerias e projetos, como, por exemplo, esse projeto que nós estamos falando agora, da avenida que vai rasgar lá o São Luís até a rodovia Jorge Lacerda, estou falando da Antônio Scotti, é um projeto do Iparque”, frisa. Confira abaixo uma galeria de imagens do projeto da avenida Antônio Scotti. 

O chefe do Poder Executivo criciumense destacou que o projeto do Parque Ecológico no Morro Cechinel também iniciou pelo Iparque. “Este projeto também é uma parceria com a Unesc, e tantas outras pesquisas e extensão, não apenas para a prefeitura, mas para toda a nossa sociedade”, comenta.

Nos 100 dias de governo, Espindola lançou o projeto ‘Criciúma +25’, um projeto que visa fortalecer os principais setores que impulsionam o desenvolvimento da cidade e beneficiam as próximas gerações. O prefeito destacou o trabalho da Unesc e do Iparque para as próximas décadas. “A Unesc está inserida através do Iparque, pensando a cidade de Criciúma. Iniciamos agora o nosso programa ‘Criciúma +25’, justamente pensando e planejando a cidade, e o Iparque tem dado suas contribuições em todos os eixos, que vão de mobilidade, ao desenvolvimento econômico”, observa.

O processo de formação de pesquisadores é um dos principais pilares que caracterizam o Parque Científico e Tecnológico em Criciúma. Entretanto, para além das paredes da universidade, a estrutura também proporciona importantes serviços para o desenvolvimento econômico da região carbonífera como um todo, principalmente para segmentos da iniciativa privada e para o poder público.

Para o presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), Frank Hobold, o Iparque representa um impacto direto no desenvolvimento socioeconômico regional.  “Tudo isso é potencializado pela força da Unesc, reconhecida como uma das principais universidades comunitárias do estado, com atuação destacada em ensino, pesquisa e extensão. Professores e estudantes contribuem para criar soluções inovadoras, fortalecendo o ambiente de negócios e qualificando nossa mão de obra”, enfatiza.

Já o presidente da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC) e prefeito de Lauro Müller, Valdir Fontanella, ressaltou a parceria entre a universidade e o poder público. “Essa integração entre Iparque e municípios é um exemplo de como a integração gera resultados concretos para as cidades. Os serviços oferecidos pelos institutos e pela incubadora do Parque Científico e Tecnológico fortalecem a gestão municipal, impulsionam o desenvolvimento regional e aproximam a inovação das necessidades da população. Aqui em Lauro Müller, por exemplo, o apoio técnico foi essencial para revisar o nosso plano diretor com base no novo zoneamento urbano. Essa colaboração mostra o quanto é importante trabalhar em conjunto, unindo o conhecimento da academia com a experiência da administração pública. É isso que buscamos todos os dias na Amrec: soluções inteligentes e coletivas para o futuro da Região Carbonífera”, frisa.

Futuro do Iparque

Conforme Gisele, a gestão da Unesc tem uma visão muito clara e ousada para o futuro do Iparque. “Trabalhamos em um projeto de expansão física, com novos ambientes para laboratórios, incubadoras e espaços de inovação aberta. Do ponto de vista acadêmico e científico, o nosso foco é fortalecer ainda mais a integração dos cursos de graduação e pós-graduação, estimulando projetos multidisciplinares, pesquisas aplicadas e inovação social. Além disso, queremos ampliar a atuação do Iparque como catalisador do desenvolvimento regional, sendo um ambiente que não apenas gera conhecimento, mas que transforma esse conhecimento em desenvolvimento econômico, social, ambiental e tecnológico, beneficiando diretamente toda a nossa comunidade. Nos próximos meses estaremos lançando novos laboratórios multiusuários e também projetos estruturantes para apoiar a região nas soluções de desafios estratégicos”, destaca.

Para o gerente do Iparque, o Parque Científico e Tecnológico está em pleno desenvolvimento com projeto modernização do seu espaço, na ordem de até R$ 20 milhões, por meio de investimentos próprios e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

“Os projetos prevêem a modernização da infraestrutura física dos laboratórios do Instituto de Pesquisa Ambientais Tecnológicas (IPAT), do Instituto de Alimentos (IALI) e da Incubadora Tecnológica (ITEC-in). Já está em andamento a aquisição de equipamentos de última geração e tecnologia de ponta. Essas aquisições contribuirão para ampliar o portfólio de produtos, melhorar a qualidade dos serviços e atendimento aos clientes, proporcionar parcerias com o setor produtivo do Estado de Santa Catarina e outras regiões. O mercado está cada vez mais exigente na busca de soluções modernas e resultados confiáveis. Não podemos deixar de destacar, a melhora no atendimento a comunidade acadêmica, através de seus pesquisadores, professores e alunos”, pontua.

O futuro do Iparque da Unesc é promissor e reafirma seu compromisso com o desenvolvimento regional. Com uma trajetória marcada pela inovação e pela conexão entre conhecimento acadêmico e necessidades reais, o Parque Científico e Tecnológico continuará sendo um espaço estratégico para o fomento de projetos que impactam positivamente a sociedade e auxiliam os governos na busca por soluções sustentáveis e eficazes. Através de parcerias, pesquisas aplicadas e iniciativas empreendedoras, o Iparque seguirá contribuindo para a transformação social e o fortalecimento das políticas públicas.