Pelo Estado Entrevista - Otmar Muller, presidente da SCGÁS

“Santa Catarina é destaque como o 3º maior estado em extensão de rede, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro”

Otmar Müller, presidente da SCGÁS

 

Otmar Müller, presidente da SCGÁS, que neste mês completa dois anos de gestão à frente da Companhia, fala sobre os desafios e planos de investimentos nos próximos anos. 

 

Pelo Estado – Em 2025 a SCGÁS completou 30 anos, quais setores a Companhia atende atualmente e como se posiciona em relação às demais distribuidoras de gás do país? Explique mais sobre a trajetória da Companhia no estado.

Otmar Muller – A SCGÁS completou 30 anos em fevereiro de 2024 e 25 anos de operação em abril de 2025. Atualmente, Santa Catarina é destaque como o 3º maior estado em extensão de rede, e a SCGÁS é a 2ª maior distribuidora em número de municípios e indústrias atendidas.

A trajetória da SCGÁS começou ainda nos anos 1980, quando o Estado se mobilizou para integrar Santa Catarina ao traçado do Gasoduto Bolívia-Brasil. Em 1994, a Companhia foi oficialmente fundada após a aprovação da Lei Estadual nº 8.999 e a assinatura do contrato de concessão com validade de 50 anos. A operação iniciou com a ligação da indústria Döhler, em Joinville, que continua sendo cliente da distribuidora.

Nos anos seguintes, a rede se expandiu ainda mais. Em 2001, iniciou a atuação no mercado automotivo, com a ligação do primeiro posto em Jaraguá do Sul. Já em 2004, passou a atender estabelecimentos comerciais, conectando o Colégio Elias Moreira, também em Joinville. Foi em 2005 que começou o fornecimento para o mercado residencial, com um projeto-piloto no Condomínio Elisa Kontöpp, em Joinville.

De lá pra cá, são 72 municípios atendidos, mais de 1.640 km de rede construída e 31 mil consumidores conectados. A SCGÁS atende aos segmentos industrial, automotivo, comercial e residencial, promovendo eficiência energética, segurança e responsabilidade ambiental.

 

Pelo Estado – Em relação à cobertura de gás natural, como Santa Catarina se posiciona em relação a outros estados?

Otmar Muller – Atualmente, Santa Catarina é destaque como o 3º maior estado em extensão de rede, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. A SCGÁS é a 2ª maior distribuidora em número de municípios e indústrias atendidas. As 72 cidades atendidas pela rede abrangem 67% da população do estado.

 

Pelo Estado – No início do ano, a Companhia aprovou o investimento de R$ 873,1 milhões na expansão da infraestrutura e no consumo de gás natural no Estado. Como está o andamento dessa meta?

Otmar Muller – O investimento de R$ 873,1 milhões está distribuído ao longo dos seis anos do Plano Plurianual de Negócios da SCGÁS, documento do planejamento estratégico da empresa. Diversos projetos estão em andamento para a realização das metas de expansão da infraestrutura.

Apenas em 2025, a SCGÁS prevê investir mais de R$ 117 milhões na expansão da rede de gás natural em Santa Catarina. O plano inclui a construção de 105 km de novas redes, elevando a infraestrutura total para mais de 1.730 km até o final do ano. Dentre os principais projetos do ano, destacam-se o início da operação da Unidade Termoelétrica de Trombudo, os investimentos em Redes Urbanas e a construção da nova Estação de Saída de GN em Siderópolis e o reforço das redes da região sul.

Outro importante objetivo em andamento é a ampliação das redes urbanas e a entrada em novos municípios, com destaque para o mercado urbano. Exemplo disso é que, recentemente, a cidade de Criciúma atingiu a marca de 10 mil clientes residenciais atendidos. A meta para todo o Estado é ultrapassar 34 mil clientes residenciais em 2025.

Além disso, neste ano estão planejados investimentos significativos no projeto Redes do Sul, com R$ 13 milhões previstos para expansão de mais de 70 km de redes de distribuição e conclusão da nova Estação de Transferência de Custódia (ETC) em Siderópolis. Também estão previstos mais de R$ 29 milhões para obras urbanas em municípios como Itajaí, Itapema e Porto Belo, onde a Companhia pretende construir mais de 66 km de novas redes.

 

Pelo Estado – Qual o objetivo do projeto Corredores Azuis da SCGÁS e quais estratégias a Companhia tem usado para expandir operações com a oferta de postos de alta vazão?

Otmar Muller – O projeto Corredores Azuis da SCGÁS tem como principal objetivo fomentar a mobilidade sustentável no transporte de cargas pesadas em Santa Catarina, por meio da expansão da infraestrutura de abastecimento de Gás Natural Veicular (GNV) em pontos estratégicos do Estado.

A região Sul de Santa Catarina se consolida como uma das mais estratégicas para o avanço da mobilidade sustentável no setor de cargas. Por meio do projeto Corredores Azuis, a SCGÁS implantou postos de abastecimento de gás natural veicular (GNV) em sete municípios da região: Passo de Torres, Içara, Criciúma, Sangão, Sombrio, Maracajá e Jaguaruna. Esses pontos integram uma malha de 20 unidades de alta vazão espalhadas por rodovias federais. A iniciativa busca garantir abastecimento ágil, eficiente e contínuo para frotas pesadas, especialmente ao longo das principais rodovias federais que conectam SC a outras regiões, como as BRs 101, 116, 280, 282 e 470.

Para expandir as operações com a oferta de postos de alta vazão, a SCGÁS tem adotado uma série de estratégias coordenadas. Entre elas, destaca-se a parceria com o BRDE para financiar caminhões movidos a GNV, kits de conversão e estações de abastecimento, e atua junto ao órgão regulador estadual para a criação do segmento “Usuário Frotista GNV”, facilitando a adesão de transportadoras ao uso do combustível.

Ainda, está projetada a ampliação da rede com a instalação de novos postos em cidades estratégicas do interior, como Chapecó, Mafra, Campos Novos e Vargem Bonita, fortalecendo a interiorização do gás natural e impulsionando cadeias produtivas regionais alinhadas à agenda nacional de transição energética.

Atualmente, Santa Catarina conta com 56 caminhões movidos a GNV registrados no Estado, em um universo de 1.463 em todo o Brasil, conforme dados da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN, 2024). A SCGÁS projeta que esse número aumente nos próximos anos com a consolidação da infraestrutura e a busca por alternativas mais competitivas e limpas no transporte rodoviário.

O projeto “Corredores Azuis” está alinhado à agenda nacional de transição energética e à integração entre GNV e biometano no setor logístico, coordenada pelo Ministério de Minas e Energia. Com as ações implementadas, a SCGÁS avança na meta de interiorizar a oferta de gás natural e fortalecer cadeias produtivas regionais com soluções sustentáveis.

 

 

Pelo Estado – Quais as metas para médio e longo prazo?

Otmar Muller – Com relação aos planos de expansão da rede de distribuição, o Plano Plurianual de Negócios (PPN) 2025-2030 da SCGÁS estabelece metas com foco na expansão da infraestrutura de gás natural, interiorização do fornecimento e crescimento sustentável do mercado em Santa Catarina. Entre os principais objetivos, destacam-se:

  • Investimentos de R$ 873,1 milhões até 2030, destinados à ampliação da rede, conexão de novos consumidores e reforço da infraestrutura de abastecimento;
  • Interligação de 52.361 novos consumidores, incluindo 152 indústrias, 12 postos de GNV, 351 estabelecimentos comerciais e 51.846 residências;
  • Expansão da rede em 575 km, totalizando mais de 2.200 km de gasodutos até 2030, o que reforça a posição da SCGÁS como uma das maiores distribuidoras do país;
  • Aumento de 14,5% no volume de gás natural distribuído, promovendo o energético como alternativa sustentável e eficiente para diversos setores;
  • Ampliação da cobertura territorial, com a meta de passar dos atuais 72 para 80 municípios atendidos;
  • Interiorização do fornecimento, com destaque para projetos estratégicos como o Projeto Planalto Norte, o Projeto Redes do Sul e o Projeto Serra Catarinense, além da construção de uma nova Estação de Transferência de Custódia (ETC) em Siderópolis;
  • Expansão do mercado residencial, com foco em parcerias com construtoras e ações para acelerar as conexões, visando ultrapassar 34 mil clientes em 2025 e atingir mais de 80 mil até 2030 — um crescimento superior a 200%.

 

Pelo Estado – Como está a distribuição de gás em relação às regiões do Estado, quais áreas é necessário avançar em mais investimentos e o que está previsto?

Otmar Muller – Atualmente, a SCGÁS atende a 72 municípios, que contém 67% da população de Santa Catarina, com maior concentração da rede de distribuição nas regiões Litoral, Nordeste, Vale do Itajaí, Grande Florianópolis, Sul do Estado e a Serra Catarinense. Nessas áreas, a infraestrutura já consolidada está sendo ampliada com foco na aceleração de conexões, principalmente no setor residencial, e no reforço da infraestrutura urbana.

No entanto, ainda existem regiões com necessidade de expansão significativa, como o Planalto Norte e o Oeste Catarinense. Essas áreas estão entre as prioridades da Companhia, que tem direcionado esforços para interiorizar o gás natural e ampliar o acesso ao energético em regiões mais distantes da rede principal. O Projeto Planalto Norte é um dos principais projetos de expansão de rede da SCGÁS e visa atender às necessidades já manifestadas há longa data das indústrias papeleiras ali presentes.

Entre os avanços recentes, destaca-se a entrega do Projeto Serra Catarinense, em outubro de 2024. Foram construídos mais de 221 km de gasoduto, com investimento superior a R$ 350 milhões, superando desafios técnicos e ambientais ao longo de 14 anos de planejamento e execução. Esse projeto levou o gás natural à região de Lages, promovendo o desenvolvimento local e a diversificação do suprimento energético. A propósito, em 07/05, a SCGÁS disponibilizou gás natural ao Hospital Tereza Ramos, de Lages, para abastecer caldeiras, que até então eram movidas à diesel.

Para ampliar o atendimento no Oeste, a SCGÁS lançou uma chamada pública em São Lourenço do Oeste para seleção de propostas de fornecimento e logística de gás natural. A iniciativa prevê o uso de Gás Natural Comprimido (GNC) ou Gás Natural Liquefeito (GNL) e Biometano, conforme modelo regulamentado pela Resolução ARESC nº 075 Rev1/2021, que permite o abastecimento via redes locais ou estruturantes em áreas ainda não conectadas à rede principal. O objetivo é identificar as melhores soluções para estudar possibilidades da distribuição na região.

Essas ações refletem a estratégia da SCGÁS de interiorizar o gás natural, reduzir desigualdades regionais no acesso ao energético e fomentar o crescimento sustentável em todas as regiões de Santa Catarina.

 

Pelo Estado – Como a SCGÁS tem lidado com os desafios globais e que podem afetar a competitividade do gás natural?

Otmar Muller – O conflito entre as mudanças climáticas decorrentes do aumento da presença de gás carbônico na atmosfera versus o crescente do consumo de energia, é o maior dilema já vivenciado pela humanidade.

A energia sob suas diversas formas – combustíveis para transporte, eletricidade, calor – é indispensável para qualidade de vida e conforto da humanidade, e tem demanda crescente. Desta forma nenhuma das fontes de geração pode ser desprezada: carvão, petróleo, gás natural, hídrica, biomassa, solar, eólica e nuclear. O dilema: a longo prazo, como sobreviver sem reduzir o conforto?

Um dos vários caminhos é dar prioridade às fontes com menores emissões de gases de efeito estufa. Entre as energias de origem fóssil o Gás Natural tem o privilégio de ter as menores emissões. 

Infelizmente nos anos recentes os conflitos bélicos em regiões produtoras de gás – Rússia e Oriente Médio – deflagraram grande instabilidade no fornecimento, provocando forte elevação nos preços internacionais. No Brasil, mesmo havendo produção nacional para 85% do consumo, temos hoje o suprimento do gás 149% mais caro que em 2020. Esta inflação reprimiu o consumo pela perda de competitividade perante outros combustíveis. É um problema nacional.

Estamos engajados em conjunto com as companhias distribuidoras dos demais Estados em ações junto a entidades e autoridades federais na busca de alternativas para reverter este quadro.

 

 

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