Santa Catarina enfrenta um aumento de casos de chikungunya em 2025, com 550 notificações e 294 casos prováveis — um crescimento de 568,2% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados apenas 44 casos. Dois óbitos pela doença já foram confirmados este ano, e um terceiro está em investigação, de acordo com dados da Secretaria do Estado de Saúde (SES).
Até agora, o Oeste do Estado concentra a maioria das infecções de chikungunya, especialmente Xanxerê, que sozinha registra 141 dos 191 casos confirmados no território catarinense. Dos 295 municípios de Santa Catarina, 178 são considerados infestados pelo mosquito Aedes aegypti, vetor da doença.
— Em Xanxerê, ocorreu a chegada de algum caso importado, iniciando um processo de transmissão local, a partir da picada do mosquito, que se infectou e começou a transmitir para outras pessoas. Apesar do número de casos ser maior em Xanxerê, isso pode ocorrer em outros municípios — diz João Augusto Fuck, diretor da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive/SES).
“Dor dilacerante”
A chikungunya tem sintomas parecidos com os da dengue, como febre, dores musculares e erupções cutâneas. A principal diferença é que a chikungunya provoca fortes dores articulares, rigidez matinal e inchaço nas juntas — daí seu nome, que em maconde (língua africana) significa “aquele que se dobra”, referindo-se à postura curvada de quem sofre com as dores.
Ivone Satori, de 56 anos, moradora de Xanxerê, contraiu chikungunya em janeiro de 2025, mas recebeu o diagnóstico um mês depois, após passar por quatro atendimentos médicos com hipóteses equivocadas.
— Um falou que era virose, o outro suspeitou de dengue… Até desisti de ir ao hospital. Como não tinha febre ou pressão alterada, achavam que eu não tinha nada — diz ela.
Os sintomas, segundo ela, eram devastadores. Ela relata dores nas articulações e dificuldade para caminhar. O tratamento, que segue até hoje, é à base de codeína, um analgésico opióide usado em caso de dor intensa.
— Cheguei a me arrastar. Passei 12 dias na cama, precisava de ajuda para ir ao banheiro. Os pés, se você pisa numa rua que tem uma saliência, a impressão que dá é que você tem os ossos quebrados. É uma dor, assim, dilacerante — conta a mulher.
Ivone conta que, além dela, outros vizinhos no bairro dos Esportes, em Xanxerê, também tiveram chikungunya. De acordo com dados da prefeitura, o bairro soma 19 casos, ficando em quarto lugar entre as localidades com mais ocorrências na cidade. Santo Dias (56), Santa Cruz (51) e Centro (36) ocupam as primeiras posições.
— As cisternas são os principais focos de mosquito, mas o mais impressionante são os pequenos depósitos encontrados nos imóveis, como baldes, potes, pratos embaixo de vaso de plantas, plantas em vidros dentro dos imóveis, etc — explica a coordenadora do Programa de Combate à Dengue de Xanxerê, Janete Rodrigues.
Diagnóstico esbarra no desconhecimento
Ivone fez dois testes de dengue, que deram negativos, até descobrir que tinha chikungunya. Em Santa Catarina, segundo a Dive, os exames são feitos apenas pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), a partir de amostras coletadas nos postos de saúde.
Porém, por se tratar de uma doença que não era comum em Santa Catarina, até alguns anos atrás, a chikungunya muitas vezes é confundida com dengue ou zika. Isso dificulta o diagnóstico e o tratamento adequado.
— A SES vem realizando capacitações presenciais e remotas para orientar os profissionais de saúde sobre o manejo clínico da doença. Inclusive, nesta semana, a capacitação presencial foi realizada na região Oeste. A orientação para as pessoas é que na presença de sintomas, procure um serviço de saúde mais próximo da sua residência — diz João Fuck, diretor da Dive.