“O microcrédito viabiliza o início de pequenos negócios e fortalece o empreendedor informal e o MEI”
Ivonei Barbiero, presidente da AMCRED-Sul
A liberação de crédito para pessoas de baixa renda, muitas delas sem acesso a outras fontes de financiamento para atividades produtivas, é ferramenta reconhecida pelo poder de gerar oportunidades e transformar vidas. Especialidade das 15 Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) que integram a Associação das Instituições de Microcrédito e Microfinanças da Região Sul do Brasil (AMCRED-Sul), o microcrédito empreendedor será a estrela de um evento promovido pela entidade em Florianópolis no dia 17 de outubro. O encontro, que antecipa a celebração pelo Dia Nacional do Microcrédito (18/11) terá debates sobre o panorama e as perspectivas do segmento e homenagens a agentes de crédito e clientes das instituições ligadas à entidade.
O momento é de consolidação do modelo adotado pelas organizações de microfinanças, que apostam na proximidade entre tomadores de recursos e instituição financiadora para potencializar os benefícios do crédito. No primeiro semestre do ano, empreendedores de baixa renda do Sul do País tomaram R$ 297,7 milhões em empréstimos de instituições ligadas à AMCRED. O valor é 34% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado – R$ 222 milhões.
Presidente da AMCRED, Ivonei Barbiero fala na entrevista a seguir sobre a importância do segmento, a metodologia adotada para democratizar o acesso a recursos e sobre a importância de fortalecer as microfinanças em outras áreas, como o saneamento básico.
Pelo Estado – O Encontro do Programa de Microfinanças da Região Sul será realizado em Florianópolis no próximo dia 17. Qual a importância desse evento para o setor de microcrédito?
Ivonei Barbiero – Essa será uma oportunidade de reunirmos os principais atores do setor para discutir o impacto e as perspectivas do microcrédito na Região Sul. Vamos reunir representantes do setor e do Governo e parceiros estratégicos como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Agência de Fomento de Santa Catarina (Badesc) e a Associação Brasileira de Garantia de Crédito (BR Garantias).
Além de debater o cenário atual, vamos falar das perspectivas futuras das microfinanças e homenagear agentes de crédito que têm ajudado a transformar vidas por meio do microcrédito e clientes que construíram histórias de sucesso a partir de parcerias com as OSCIPs. Nosso objetivo é valorizar as histórias dessas pessoas e reforçar o papel crucial do microcrédito na promoção do empreendedorismo, especialmente entre os brasileiros de baixa renda, que muitas vezes não têm acesso a outras formas de financiamento.
Pelo Estado – O brasileiro tem uma veia empreendedora muito forte. De que maneira o microcrédito produtivo pode ajudar a fomentar essa capacidade?
Ivonei Barbiero – O microcrédito produtivo oferece uma via de acesso ao capital até para quem está fora do sistema bancário tradicional. Muitos brasileiros são criativos, têm ótimas ideias e disposição para empreender, mas faltam recursos. Também é preciso considerar que muitos são obrigados pelas circunstâncias a buscar novos meios de gerar renda.
O microcrédito não só viabiliza o início de pequenos negócios, mas também fortalece o empreendedor informal e o Microempreendedor Individual (MEI), criando oportunidades reais par as pessoas.
Pelo Estado – Como as instituições associadas à AMCRED-Sul trabalham para garantir que o crédito oferecido não sobrecarregue financeiramente os tomadores de empréstimos?
Ivonei Barbiero – Um dos pontos fortes do nosso modelo é a atuação dos agentes de crédito. Eles são fundamentais para fazer uma análise detalhada da realidade financeira de cada candidato a tomador de recurso. O objetivo é garantir que o empréstimo esteja dentro da capacidade de pagamento do cliente. Além disso, oferecem orientação sobre como organizar o orçamento doméstico, o que evita que o crédito se torne um fardo. O objetivo é que o microcrédito seja uma ferramenta de crescimento e não um gerador de problemas financeiros. Para executar esse trabalho, os agentes conhecem a realidade de cada indivíduo ou família beneficiado pelos recursos.
Pelo Estado – A programação do encontro do próximo dia 17 inclui a apresentação do projeto Sanear. O que é essa iniciativa?
Ivonei Barbiero – O acesso ao saneamento básico é uma questão de saúde pública e dignidade. Infelizmente, porém, muitas famílias ainda vivem em condições precárias, sem acesso a serviços básicos como água potável ou tratamento de esgoto. A ideia do Projeto Sanear é atuar diretamente nessas situações. Com o apoio do setor público, queremos oferecer microcrédito para a construção de caixas d’água, fossas sépticas e outras melhorias no saneamento doméstico. Esse é um investimento que tem um impacto direto na qualidade de vida das pessoas e na saúde das comunidades.
Pelo Estado – O que podemos esperar para o futuro do microcrédito na Região Sul, especialmente considerando o crescimento de 34% na demanda no primeiro semestre deste ano?
Ivonei Barbiero – O crescimento expressivo na demanda por microcrédito reflete a confiança das pessoas nas instituições de microfinanças e o acerto da metodologia que utilizamos. A tendência é que essa demanda continue a crescer, à medida que mais pessoas veem o microcrédito como uma ferramenta para impulsionar seus negócios e melhorar suas condições de vida. Nosso desafio ]é expandir a atuação, alcançar ainda mais pessoas e diversificar as linhas de crédito, como já estamos fazendo com projetos voltados ao saneamento básico e energia fotovoltaica, entre outros. O futuro é promissor, e o microcrédito continuará sendo um pilar importante para o desenvolvimento social e econômico na Região Sul.
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PE_entrevista_06-10-2024
Produção e edição
Por Celina Sales para APJ/SC e ADI/SC
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