Mês após mês, os números de variação no preço de locação dos imóveis residenciais em Florianópolis aumentam. É fato: morar na cidade está cada vez mais caro. Mas por que o aluguel na capital catarinense se destaca como um dos mais salgados do país?
A habitual explicação para o preço elevado, que atingiu o patamar de 23,41% de aumento nos últimos 12 meses de acordo com o último índice Fipe Zap de locação residencial, é a questão do desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
No entanto, por que não há uma oferta de imóveis suficiente na capital do Estado e o que motiva uma busca tão grande por Florianópolis como destino para se viver?
Marcos Alcauza, vice-presidente do Sindicato Patronal da Habitação (Secovi), que representa as empresas de comércio e serviços imobiliários, shopping centers e condomínios, explica que esse desequilíbrio entre oferta e demanda se dá por dois principais fatores. O primeiro é o grande fluxo de pessoas que migram para Florianópolis todos os anos.
— A Grande Florianópolis cresce mais de 1% ao ano e isso dá aproximadamente 10 mil pessoas por ano mudando para cá — destaca Marcos.
Entre os motivos que levam pessoas de diferentes regiões buscarem Florianópolis para morar — um movimento crescente registrado há algumas décadas — estão a segurança pública, as belezas naturais e a qualidade de vida do município.
— Em suma, é um lugar bom de se viver e cuja qualidade de vida está muito acima da média do Brasil. Então, Florianópolis é um objeto de desejo nacional e até internacional. As qualidades não param por aí. Hoje é um polo tecnológico, além de turístico. Santa Catarina como um todo é um estado mais bem organizado, socialmente falando, e acaba gerando mais riqueza e, portanto, mais qualidade de vida. No meu entendimento é um processo que não vai parar tão cedo — afirma.
Ao mesmo tempo, a indústria da construção civil não consegue entregar imóveis suficientes para abrigar o elevado número de pessoas, explica o vice-presidente do Secovi. Ele associa isso ao antigo plano diretor do município, mais restritivo em relação a produtividade dos terrenos.
— O nosso plano diretor era muito restritivo no que diz respeito à produtividade dos terrenos. Nossos processos de aprovação eram muito lentos e isso fez com que ao longo dos últimos anos não se conseguisse produzir o número de imóveis adequado ao número de pessoas que procuram Florianópolis para morar — detalha.
Distâncias e aluguéis curtos também influenciam
Mudanças no formato de locação também influenciaram na alta dos preços. A popularização dos aluguéis de “short stay”, ou “estadia curta”, como os realizados pela plataforma Airbnb e procurados, especialmente durante a temporada de verão, modificaram as ofertas.
Isto porque muito dos imóveis que eram alugados anualmente passaram a ser alugados pelos proprietários neste novo formato, que tem como público alvo turistas ou pessoas que trabalham em home office e passam pequenas temporadas em um local.
— Isso diminuiu mais ainda a oferta de imóveis para locação tradicional e pressionou mais ainda o preço para cima — afirma Marcos Alcauza.
A geografia da cidade também influencia nos preços, com grande diferença nos valores dos aluguéis entre regiões distintas. Contudo, mesmo aquelas mais distantes do Centro sentem os impactos do aumento do aluguel.
— As questões geográficas influenciam sim na formação do preço dos aluguéis. Um aluguel no bairro Ingleses é quase metade do que um aluguel no Centro, onde se concentram as oportunidades de trabalho e onde grande parte do fluxo econômico da cidade acontece. Porém, a valorização do aluguel e o aumento do custo, se deu como um todo, de forma regular. Então, proporcionalmente, em Ingleses também subiu bastante o aluguel, já que a cidade é pressionada como um todo pelo aumento da procura — afirma o vice-presidente.
Previsão é que crescimento continue
A tendência é que o crescimento continue nos próximos anos, trazendo mais pessoas para Florianópolis e intensificando a procura por imóveis. O vice-presidente do Secovi prevê que, mesmo com algumas questões, como a mobilidade urbana, o município se destaca na hora da procura por uma melhor qualidade de vida.
Já o aumento da oferta de imóveis deve demorar alguns anos para ser equilibrado, já que a mudança no plano diretor foi recente e os empreendimentos levam entre quatro e seis anos para serem concluídos.
— No que diz respeito à indústria da construção civil, essa mudança do plano diretor propicia o crescimento maior da oferta, mas ela vai se dar a médio e longo prazo. Então isso ainda leva um tempo para suprir a demanda — finaliza.
Além da mobilidade urbana, que aparece entre as principais preocupações com uma população crescente, Marcos destaca outros setores que demandam investimento do poder público, como infraestrutura, esgoto e tratamento de água.
Dados do índice FipeZap
Os números reforçam essa tendência de crescimento. Dados do índice Fipe Zap de locação residencial de fevereiro apontam uma variação mensal de 1,67%. O acumulado de 2024, somando janeiro e fevereiro, já é de 2,78% de aumento no valor do aluguel.
Nos últimos doze meses, o aumento foi de 23,41%. O preço médio do aluguel por metro quadrado na cidade é de R$ 51,18, acima da média ponderada de R$ 43,66 e o terceiro maior entre as 25 cidades avaliadas pelo índice.
Na frente de Florianópolis, aparecem somente as cidades de Barueri (SP), com R$ 59,95/m², e São Paulo (SP), com R$ 52,54/m². A cidade ainda tem a quinta maior variação acumulada no ano entre as capitais brasileiras, e a segunda maior variação acumulada nos últimos doze meses, também entre as capitais.
O levantamento mostra, ainda, a média dos preços dos aluguéis por metro quadrado em diferentes bairros de Florianópolis. Além disso, traz um recorte da variação anual do valor de locação de 2017 até 2024.
Veja os valores de aluguéis em bairros de Florianópolis
- Agronômica – R$ 59,4 /m²
- Centro – R$ 53,1 /m²
- Saco dos Limões – R$ 51,0 /m²
- Itacorubi – R$ 50,3 /m²
- Trindade – R$ 47,8 /m²
- Córrego Grande – R$ 47,7 /m²
- Ingleses do Rio Vermelho – R$ 42,7 /m²
- Estreito – R$ 42,5 /m²
- Coqueiros – R$ 39,0 /m²
- Capoeiras – R$ 36,2 /m²
Veja a variação anual do índice de locação em Florianópolis
- 2017 – +3,15%
- 2018 – +3,89%
- 2019 – +14,79%
- 2020 – +0,82%
- 2021 – +11,59%
- 2022 – +30,56%
- 2023 – +27,68%
- 2024 – +23,41%