Pelo menos 30.122 tainhas foram pescadas na última terça-feira (20) na Lagoinha do Norte, em Florianópolis. Foram mais de 50 toneladas de peixe, sendo o segundo maior lanço da história da região e o atual recorde da temporada de 2023, calcula o patrão do rancho, Anisio Souto, 58 anos.
“Em 2011, pescamos 33 mil tainhas e hoje chegamos perto desse número”, mensura Souto.
Dessa quantidade, seu Anisio diz que um pouco mais de 2 mil foram doadas para a comunidade. “Dessas, pouco mais de 27 mil tainhas que contamos para vender, depois uma quantidade que deixamos separada para dar para as pessoas que ajudaram. Uns levaram duas, três. Então todos que ajudaram conseguiram garantir uma tainhazinha pra casa”.
Ainda na segunda-feira (19), ocorreram os primeiros grandes lanços na Praia de Cima, em Palhoça, com 12 mil capturas, na Joaquina, com 3 mil, Cachoeira do Bom Jesus, com 3 mil e Praia Grande, em Governador Celso Ramos, com 1 mil tainhas.
Trabalho em equipe
A emoção tomou conta de todos que estavam por lá. Os pescadores levantavam a tainha como se fosse um troféu. Seu Anísio, em êxtase, revela que o trabalho conjunto para capturar as tainhas teve início às 6h da manhã.
“Já saímos bem cedo para garantir uma boa pesca. Estávamos com as canoas na ponta só esperando pela oportunidade. Mesmo assim, os peixes ficaram fora do lanço. Quando deu 8h da manhã, eu como sou o chefe, mandei café, pão em um outro barco para dar força pra turma de lá”.
Após muitas estratégias e muito trabalho em equipe, as primeiras tainhas começaram a aparecer. “Eu calculei 15 mil, teve gente que calculou 20 mil, 5 mil, mas esse número surpreendeu a todos”, declara Souto. “Nós choramos de ver o peixe dentro da rede. Acho que a ficha de hoje só vai cair amanhã”, completa emocionado.
Tradição de gerações
Patrick Dutra de Souza, de 23 anos, é um dos 35 pescadores envolvidos diretamente na pesca artesanal de tainha na Lagoinha do Norte. Para ele, essa é uma tradição passada por gerações que não pode acabar.
“Isso aqui é inexplicável. Vem desde o meu bisavô, avô. Tem gente que pensa que a pesca artesanal vai acabar, mas nós jovens não vamos deixar. Eu fico muito emocionado de estar aqui com a minha família, meu tio, meu avô, meu pai, todo mundo junto”, manifesta. “Hoje todo mundo come tainha”.
Cota na modalidade de emalhe anilhado
Apesar da modalidade de arrasto de praia não ter um limite estabelecido, a modalidade de emalhe anilhado reduziu de 830 para 460 toneladas, 44,57% abaixo do ano passado.
Já a pesca industrial foi proibida em decisão inédita pelo MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura) e MMA (Ministério do Meio Ambiente), também neste ano.
Para reverter essa situação, o governo de Santa Catarina recorreu ao TRF-4, na semana passada, no dia 15, para restabelecer a pesca industrial da tainha e aumentar o limite da pesca artesanal.
O secretário de Aquicultura e Pesca, Tiago Bolan Frigo, afirmou que o governo está em alerta, porque o limite da pesca artesanal está próximo de ser batido.
“Nossa preocupação é com a situação dos pescadores, especialmente os artesanais de malha, que estão próximos de atingir ou já ultrapassaram sua quota de captura limite.”
Ao fazer essa solicitação, o Governo também está buscando uma solução temporária para evitar a interrupção das atividades dos pescadores artesanais de malha, até que uma análise mais aprofundada sobre a situação seja realizada.
“Queremos reverter essa questão diante do prejuízo que ela pode causar ao Estado. Além disso, é fundamental que o pescador tenha garantido o direito de exercer o seu trabalho”, acrescenta Frigo.