A família da autônoma Neli Marchesini Xavier da Cruz, 56 anos, mal se recuperava da covid-19, que infectou a mulher a filha e o neto, quando o ciclone bomba, que passou na semana passada por Santa Catarina, atingiu as casas em que viviam, que fica em um mesmo terreno, em Chapecó, no Oeste.
“Eu estava em casa na hora do ciclone. Arrancou todo telhado da casa de trás, estragou muitos móveis. Na casa da frente, arrancou o telhado, o forro, estragou uma parte elétrica, móveis, caixas d’água, encanamento de água da Casan e do poço artesiano” disse a moradora.
A sequência de eventos, seja a pandemia ou o anúncio do novo ciclone que passa pelo estado nesta semana, tem tirado o sono da família, que agora está toda abrigada em um dos imóveis ainda parcialmente destruído.
“Não conseguimos mais deitar e descansar a cabeça, quando tu acha que vai descansar a cabeça, vem um filme do que eu vi passando. A gente assistia na televisão e pensava que estavam inventando, mas quando a gente sente na pele é bem diferente”, ressaltou.
A mulher conta que ficou oito dias de cama por causa do coronavírus. “A gente passou uma semana bem terrível e, agora, quando estava tentando se levantar do problema da covid, veio tudo isso”, lamentou. Os ventos em Chapecó com a passagem do ciclone bomba registraram rajadas que ultrapassaram 130km/h.
Segundo o governo do Estado, estão sendo distribuídos itens de assistência humanitária para auxiliar as famílias catarinenses que foram atingidas pelo ciclone bomba. Neli conta que a família buscou ajuda na Defesa Civil da cidade, porém, recebeu apenas dois pedaços de lona e, com a ajuda do sobrinho, teve que comprar um rolo para cobrir a casa.
Danos na rede elétrica nos Bairros Centro e Efapi
O técnico eletricista Rafael Corrêa, 28 anos, relatou que no bairro Efapi, onde estava, em Chapecó, o cenário de destruição é assustador. Segundo ele, uma grande estrutura de linha de transmissão teve os cabos cortados e os ventos fortes produziram um efeito dominó, derrubando quase todos os postes de luz naquele intervalo.
Rafael também ajuda a entender o cenário de destruição no bairro Efapi: “Tinham três barracões de centros de eventos e um deles literalmente sumiu, só ficaram as duas paredes laterais e a parte do meio desapareceu por completo, os móveis foram arrastados, foi uma cena bem chocante”, relata o profissional.
Na região mais central de Chapecó, o técnico eletricista viu obras e edifícios em construção que tiveram a parte de proteção, como lonas e zincos arrancadas pela ventania. Casas foram destelhadas, placas caíram e muitos cabos de média tensão ficaram partidos no chão.
“A sensação de visualizar tudo isso é de desespero e vulnerabilidade diante a natureza”, completou Corrêa.
Até o momento, o estado soma 13 mortes e mais de R$ 427 milhões em prejuízos nos setores privado e público por causa do ciclone bomba. As primeiras 11 vítimas perderam a vida logo que o fenômeno ocorreu – dez em Santa Catarina e uma no Rio Grande do Sul. Além disso, duas pessoas morreram na reconstrução das suas casas.
Por Letícia Dorneles, especial para Coluna Pelo Estado.