O governador catarinense Carlos Moisés (PSL) foi eleito na onda do 17 de Bolsonaro e tendo como slogan justamente o fato de não figura da dita “velha política”. Num primeiro momento, com aprovação de mais de 70% das urnas, até conseguiu apoio do parlamento na aprovação do orçamento e na reforma administrativa. E foi só. Em mais de um ano de governo, Moisés não formou uma base na Alesc. E com o passar dos anos de uma legislatura isso começa a pesar.
Os partidários do PSL que ajudaram o então coronel do Corpo de Bombeiros a se eleger pularam fora do barco e, pior, passaram a fazer a mais contundente oposição, a exemplo de Jessé e Ana Campagnolo. Mal ou bem as coisas vinham caminhando. A Reforma da Previdência, que tramitava antes da crise, tinha gerado um clima menos tóxico entre os poderes. A deputada Paulinha (PDT) começou a ter um protagonismo como liderança.
Mas caiu no colo de Moisés a pior crise que um governo já possa ter enfrentado em Santa Catarina. O resultado pós coronavírus não será positivo em nenhum cenário. Mortes são registradas diariamente e o número de infectados só cresce. Já passamos de 500. As perdas econômicas são uma realidade, com ou sem quarentena.
Entre os organismos de Saúde e os setores econômicos —um pregando isolamento mais prolongado e outro pedindo liberação da economia o quanto antes— Moisés parece não saber para onde correr, ou se socorrer.
Depois de uma desastrosa negociação encabeçada pelo secretário Douglas Borba, da Casa Civil, que tentou empurrar a abertura total da quarentena logo ao fim da primeira semana de isolamento, o governador teve que voltar atrás. De quebra culpou em parte o governo federal pela decisão, por não ter enviado equipamentos necessários para abertura dos novos leitos.
No vácuo de uma liderança mais impositiva da Casa D’Agronômica, os deputados correram na frente e ocuparam plateia com as respostas que a crise que se impôs demandou. Aprovaram a suspensão do pagamento do ICMS e mais uma série de medidas que atingem toda a população, a exemplo dos projetos que tratam do corte de energia, água e gás.
O governo sentiu a pressão, chamou à mesa todos os lados, empresários, deputados, Ministério Público e setores da Saúde, como manda a etiqueta republicana, mas esqueceu de se calçar politicamente.
Nas últimas semanas, dia após dia, o governador foi liberando setores pontuais da quarentena. Primeiro a construção civil, depois, os autônomos, cadeia automotiva, e na próxima segunda-feira, dia 13, se anuncia a liberação também o comércio.
“O setor do comércio quer retomar as suas atividades e aceita as imposições feitas pelo Estado, de uma prática segura, de distanciamento entre as pessoas, de utilização de equipamentos de proteção individual. É nesse caminho que estamos construindo a solução para a retomada das atividades. Nós entendemos que não há contradição porque o apelo do governo é para as pessoas que puderem:fiquem em casa”, afirmou na coletiva desta quarta, 8.
Na Justiça catarinense já há uma interpelação assinada pela Associação Brasileira dos Juristas Pela Democracia cobrando respaldo técnico para as decisões. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público do Trabalho (MPT) fizeram a mesma cobrança sobre a liberação dos autônomos, mas em carta enviada ao governador, o que indica que novos pedidos sobre a possível liberação do comércio também possam surgir.
Na Assembleia, os deputados estão na iminência de levar um projeto de Jessé à votação. A proposta visa nada menos que considerar ilegal o decreto da quarentena. Mesmo que isso derrube todas as medidas que já foram aprovadas com base no texto do decreto. De quebra, o secretário da Saúde, Helton Zeferino, será sabatinado e vai ser cobrado a dar respostas, na próxima terça, dia 14.
Só na sessão desta quarta, o parlamento aprovou em uma tacada só 40 indicações pedido de equipamentos de proteção individual (EPIs) e respiradores para várias unidades hospitalares espalhadas pelo estado.
O Moisés da campanha não era político, mas o Moisés governador, se não souber ser político neste momento, corre sério risco de ficar com o pincel na mão e uma fatura pós-crise.
Por Fábio Bispo