O presidente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop/SC), Luiz Vicente Suzin, analisou as conquistas do setor em 2019 e as expectativas para a nova década. De acordo com ele, é preciso ser eficiente em todas as áreas para permanecer competitivo no embate com as todas as empresas, da agricultura, da indústria, do comércio e da prestação de serviços. O dirigente comentou o relacionamento com o governo de Estado, que começou com sobressaltos, com a ameaça da retirada de incentivos, mas depois alcançou solução equilibrada e moderada. Para ele, a melhoria contínua dos processos, investimentos em tecnologia e o aperfeiçoamento de produtos e serviços são as premissas do setor para atender as mudanças e as transformações dos novos tempos.
[Pelo Estado] – Como o segmento cooperativista está se preparando para os desafios do futuro?
Luiz Vicente Suzin – Principalmente com o uso crescente das novas tecnologias, com a tendência pela automação e pela robotização. As novidades chegam cada vez com mais velocidade. Uma das nossas preocupações é capacitar os cooperados. Nesse aspecto, as cooperativas e o Sescoop/SC fazem permanentes investimentos em treinamento, qualificação e requalificação.
[Pelo Estado] – Além dos investimentos em tecnologia e informação, de que mais o segmento precisa para avançar?
Suzin – O sistema pode evoluir ainda mais, se o governo vislumbrar o cooperativismo como um setor de alto interesse social e comprovada eficiência econômica, que trabalha para o bem-estar da sociedade, criando empregos e gerando riquezas. Mais do que políticas públicas, deve abandonar a ideia de aumentar a carga tributária ou retirar programas de incentivos a setores essenciais, como a agricultura. No campo da pesquisa agropecuária, o setor tem que ser mais ouvido. Uma das possibilidades é o estabelecimento de convênios no que concerne à transferência de tecnologias e, neste caso, a Ocesc está aberta para uma relação de parceria com outras entidades, como Fiesc, Fampesc, Facisc, Fecam, Faesc e Fetaesc.
[Pelo Estado] – Que avaliação o sr. faz do primeiro ano do novo governo do Estado?
Suzin – As primeiras movimentações da nova administração estadual em relação à agricultura e o agronegócio estiveram pautadas pelo desejo de eliminar incentivos fiscais. Essa predisposição e as ações decorrentes criaram insegurança jurídica, geraram passivo tributário e desestabilização da gestão comercial de cooperativas e empresas. Foi um período de tensão e estresse. Entretanto, o diálogo, a transparência, a interlocução das entidades e a participação da Assembleia Legislativa permitiram construir uma ponte de compreensão entre o governo e o setor produtivo em favor de uma solução. Esse ambiente de respeito e cooperação permitiu a proposição de medidas em benefício do cooperativismo e do agronegócio, ou seja, em favor da sociedade.
[Pelo Estado] – Como ficou a questão dos incentivos fiscais para o agronegócio?
Suzin – A inclinação inicial para eliminar os incentivos sobre alimentos, insumos e outros itens de consumo deu lugar a uma solução equilibrada e moderada. Os alimentos da cesta básica, por exemplo, mantiveram os incentivos. De todos os itens da cesta básica que tiverem incentivos revogados, tinham impacto para o cooperativismo a farinha de trigo e de arroz, arroz, feijão, leite UHT, carnes e subprodutos de aves e de suínos. Recém-convertida em lei pela Assembleia Legislativa, a Medida Provisória (MP) 226/2019 ajustou, em seu artigo 3º, o percentual de redução de base de cálculo do arroz e da farinha de arroz, para efetivamente ficar com alíquota final de 7%. Essa MP, agora convertida em lei, continha uma emenda substitutiva geral, de iniciativa do Executivo, incluindo as carnes e subprodutos de aves e suínos na cesta básica. O sistema de crédito de ICMS foi mantido para as operações com milho e farelo de soja. Essa foi uma medida essencial em razão do colossal volume dessas duas matérias-primas usadas na elaboração de rações para nutrição dos gigantescos planteis de aves e suínos.
[Pelo Estado] – Qual é o tamanho do cooperativismo em Santa Catarina?
Suzin – São 258 cooperativas catarinenses – com atuação no campo e nas cidades – que reúnem mais de 2,4 milhões de associados. As cooperativas catarinenses geram riquezas da ordem de R$ 35,6 bilhões, mantêm 63.348 mil empregos diretos e recolhem mais de R$ 2,8 bilhões de tributos por ano.
[Pelo Estado] – O que o sistema Ocesc tem feito para estimular a participação de jovens e mulheres no setor?
Suzin – A participação das mulheres e dos jovens no quadro social das cooperativas de Santa Catarina cresceu nos últimos anos. Atualmente, 38% dos associados às cooperativas (936.597 cooperadas) são mulheres e 16% dos associados (391.384 jovens) tem idade de até 25 anos. Então, o engajamento deles é uma realidade no nosso cooperativismo. Eles trazem coesão e motivação, além de elevarem a qualidade das ações direcionadas a organização do quadro social.
[Pelo Estado] – Qual a real contribuição social e econômica das cooperativas?
Suzin – Cooperativismo é uma forma de atuação e interação humana baseada no trabalho e na lealdade que requer a participação laboral e econômica do cooperante. Um dos mais caros princípios do cooperativismo é o trinômio educação/formação/informação que, quando presente e praticado, proporciona a qualificação técnica e gerencial das cooperativas, eleva a qualidade da gestão, fortalece as convicções doutrinárias dos cooperados e fideliza seu relacionamento com a cooperativa. Outro aspecto importante é o interesse pela comunidade, uma forma de conduzir a cooperativa de forma sintonizada com as carências e potencialidades da comunidade.
[Pelo Estado] – Qual é o diferencial entre as cooperativas e as empresas em geral?
Suzin – Vários estudos demonstram que as cooperativas, nas regiões onde atuam, melhoram a qualidade de vida da população. Na consecução de seus objetivos, direta ou indiretamente trabalham para promover o desenvolvimento sustentado da comunidade local ou regional nas quais estão inseridas. Esse é um modo de promover o desenvolvimento, que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades específicas, além de fomentar o intercâmbio externo, aproveitando suas vantagens locais.