Na última semana, o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística (Fetrancesc), Ari Rabaiolli, foi o anfitrião do 3º Encontro de Segurança do Transporte Rodoviário de Cargas do Sudeste-Sul. O tema principal do evento foi o que mais angustia empresários e trabalhadores do setor: o roubo de cargas. E é este o principal assunto da entrevista que Rabaiolli concedeu com exclusividade para os veículos da rede ADI-SC e Adjori-SC.
Eleito para presidir a entidade em 2016, ele concluirá o primeiro mandato no ano que vem e pretende concorrer à reeleição. Rabaiolli é formado em Gestão de Logística, ramo que abraçou ao criar sua própria transportadora, em 1989, depois de alguns anos como bancário. O sonho embalado por mais de 20 anos abriu novos caminhos.
Foi presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e de Operações Logísticas de Joinville, é presidente do Conselho Regional do SEST Senat-SC e da Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de Transportes (Transpocred-SC), e ainda representa o estado na Confederação Nacional do Transporte (CNT), da qual é vice-presidente regional para Santa Catarina.
ADI-SC/Adjori-SC – Como o senhor avalia o 3º Encontro de Segurança do Transporte Rodoviário de Cargas do Sudeste-Sul?
Ari Rabaiolli – Posso dizer que foi um sucesso. Tivemos uma ótima participação, bom público, com um excelente nível de palestras. Uma das informações mais importantes que tivemos durante o 3º Encontro de Segurança do Transporte Rodoviário de Cargas Sudeste-Sul foi que o Estado de Santa Catarina está cada vez mais usando a tecnologia no combate aos crimes e, em especial, ao roubo de cargas.
ADI/Adjori – Como está a situação sobre esse tema no país? E em Santa Catarina?
Rabaiolli – Tivemos debates interessantes entre os nove estados que participaram do encontro. Com muita troca de informações entre os delegados das divisões especializadas no roubo de cargas em suas respectivas regiões. Especialmente do Sudeste, onde se concentra o maior volume de roubo de cargas no país, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro. Nosso estado, comparativamente, está entre os de menor número de registros de roubo de cargas no país. O levantamento da NTC (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) sobre 2018, mostra que foram registrados mais de 22 mil ataques a motoristas de caminhões no Brasil. O prejuízo foi em torno de R$ 2 bilhões, entre veículos e cargas. Os números são altos, mas já indicam recuo em relação a 2017. Em Santa Catarina ocorreu o mesmo.
Foram 103 ocorrências no primeiro semestre de 2018. E no primeiro
semestre de 2019 foram 41 registros.
ADI/Adjori – Saiu algum documento com demandas do setor de transportes de cargas?
Rabaiolli – A partir do que foi debatido, será firmado um compromisso de que nós iremos tratar com o governo e, principalmente, com os parlamentares, medidas que podem vir a contribuir para uma ainda maior redução do índice de roubo de cargas no Brasil, priorizando os estados em que o problema é maior, como eu disse, Rio de Janeiro e São Paulo. Só para dar uma ideia do tamanho do problema para esses estados, 40% do roubo de cargas estão concentrados no Rio de Janeiro. Por outro lado, apenas 50 pessoas cuidam da divisão especializada nesse tipo de crime. É um efetivo muito pequeno, que não dá conta de investigar o grande número de casos, que chega próximo a 30 por dia.
ADI/Adjori – O senhor falou em governo e parlamentares. De todos os níveis?
Rabaiolli – Sim. Temos que fazer um trabalho junto ao Ministério da Justiça, por exemplo, para que haja um reforço dos efetivos das divisões especializadas. Não só no Rio de Janeiro, mas em todos os estados.
ADI/Adjori – No ano passado foi anunciada uma ação conjunta das forças de segurança de Santa Catarina para resolver os casos de roubos de cargas. O plano foi efetivado? Quais os resultados?
Rabaiolli – No começo de 2018 tivemos a criação da Divisão Especializada em Roubo de Cargas de Santa Catarina, envolvendo diferentes órgãos da Segurança Pública.
Somando aí a aprovação da lei que cassa a inscrição estadual de receptadores de cargas roubadas, tivemos uma redução da ordem de 60% em 2018 sobre 2017.
Roubos de cargas em SC
(média anual)
2015 – um roubo a cada 2,26 dias
2016 – um roubo a cada 1,42 dias
2017 – um roubo a cada 1,74 dias
2018 – um roubo a cada 3,28 dias
2019 – um roubo a cada 10,13 dias
Comparação: Rio de Janeiro/2018 um roubo a cada 48 minutos
Produtos mais visados
- Carne
- Polietileno
- Têxtil
- Ferroso
- Maquinários
- Grãos
- Cigarros
- Combustível
- Peixe
- Alimentos
- Diversos
- Bebidas
Fontes: Fetrancesc e Polícia Civil SC
ADI/Adjori – É uma preocupação permanente. Tanto que as empresas também tomam suas medidas de proteção.
Rabaiolli – O assunto roubo de cargas realmente vem preocupando muito. Por mais que as empresas se protejam, com gerenciamento de risco e outras medidas de prevenção, as ações dos criminosos estão cada vez mais ousadas em reverter os sistemas de segurança usados pelas empresas. Isso interfere, sim, na questão do seguro das cargas. As seguradoras hoje estão exigindo uma participação obrigatória em todas as ocorrências desse tipo, que varia de 10% a 25%. Isso quer dizer que se for roubada uma carga no valor de R$ 1 milhão, a participação obrigatória do empresário fica entre R$ 100 mil e R$ 250 mil. Além disso, a cada ocorrência de roubo de carga, a seguradora vai ajustando o custo da apólice. É como ocorre em seguro de carros. Se você precisa usar, perde bônus. O pior é que identificamos pelo menos um caso em que o roubo foi forjado, típico golpe do seguro. Empresas laranja usam o roubo de cargas com o intuito de lavagem de dinheiro. Um tipo de crime está relacionado com outro, mas são casos muito pontuais.
ADI/Adjori – Ou seja, não é só sobre cargas, mas também sobre os caminhões.
Rabaiolli – Historicamente, no Brasil, 20% dos caminhões roubados junto com a carga não retornam. Desaparecem em desmanches. O prejuízo para as empresas é muito grande e repercute no preço dos produtos, uma vez que parte da perda é repassada ao consumidor final. O custo do seguro hoje, para uma empresa de transportes, juntando o gerenciamento de risco, com monitoramento do veículo a cada 10, 15, 20 minutos, dependendo da região, e contratação de escolta, fica na base de 13%. É um prejuízo que se espraia pela sociedade como um todo.
ADI/Adjori – O setor dos transportes é um termômetro da atividade econômica. É possível afirmar, pela movimentação, que há efetiva retomada da economia brasileira?
Rabaiolli – Nós estamos percebendo uma confiança um pouco maior do mercado com a reforma da Previdência e a expectativa da reforma tributária. E agora, neste segundo semestre e em 2020, deve ter um crescimento.
Jornalistas: Andréa Leonora (ADI-SC) e Murici Balbinot (Adjori-SC)
Fotos: Reality Produções e www.frotacia.com.br
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