15/07/2019
Parte 2
Para além do risco do agrotóxico propriamente dito, que, falando claramente, nada mais é do que um tipo de veneno, há também a irresponsabilidade de quem prescreve, de quem vende e de quem aplica. Para quem não sabe, a venda de um defensivo agrícola só pode ser feita se o comprador tiver em mãos um receituário. É como se fosse um remédio que se compra na farmácia: a receita traz princípio ativo, miligramas, posologia, dosagem, em fim, todas as informações para que o paciente tenha melhora e não piora em sua saúde por causa do remédio.
Somente engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas têm autorização para prescrever o que vai ser aplicado lá no campo, na plantação. “É preciso que seja despertada a consciência nesses profissionais e nos agricultores sobre isso. O produto tem uma finalidade, que é controlar uma doença, uma praga ou uma planta daninha. Mas, para ser usado, precisa de uma orientação técnica e é esse o ponto que precisa ser amplamente discutido no setor: o papel do responsável técnico e o rigor no uso do que é prescrito”, alerta o engenheiro agrônomo Ricardo Miotto, secretário adjunto da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural.
Ele defende que engenheiros e técnicos agrícolas precisam ter consciência de sua responsabilidade para que atuem de uma maneira absolutamente profissional e não como meros autorizadores de compra. “Pelo bem do meio ambiente e da saúde humana, essas prescrições devem ser feitas com profissionalismo, ética e com responsabilidade.” Por isso é tão importante que o agrônomo vá à propriedade para identificar o problema e, com base no diagnóstico, definir qual o químico deve ser aplicado e como, desde a dose até a periodicidade, passando pela diluição.
“Os riscos existem? Sim. Mas com a prescrição técnica e
seu cumprimento correto eles são minimizados.”
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O problema, destaca Miotto, é que em alguns casos, “exceções e não regra”, a prescrição é feita sem muito cuidado. Para seguir com a comparação, é como se fosse uma pessoa se automedicando com antibióticos, corticoides, analgésicos. É o agricultor quem diz do que precisa e de quanto, sem que o agrônomo tenha sequer conhecimento do que vai ser tratado com aquele produto.
Faz o receituário conforme solicitado, assina e pronto. Não se aprofunda em explicar como manejar o produto, como misturar, como aplicar, como ajustar o pulverizador. “Os possíveis erros são detectados mais tarde no meio ambiente e nos alimentos. É o que a Cidasc tem identificado, principalmente na análise de resíduos. Reforço que são exceções. De toda forma, precisamos atuar junto ao agricultor e ao profissional que assina o receituário, que têm papel fundamental para mudar esse cenário.”
Por Andréa Leonora/CNR-SC