SUS gastou quase R$ 3 bilhões com acidentes na última década
29/05/2019

 

No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres nas ruas e estradas já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos dez anos, ao custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS), valor atualizado pela inflação do período. Os números fazem parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que considera as proporções epidêmicas | Foto: Arquivo EBC

 

Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, José Fernando Vinagre, os números mostram que os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais. “É preciso reconhecer o importante aprimoramento da legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente após a Lei Seca. No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o trânsito brasileiro mais seguro”, destacou.

 

Segundo a análise do Conselho, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre. Ao avaliar o volume total de vítimas graves do tráfego nos últimos dez anos (1.636.878), é possível verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos, sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e em maiores de 60 anos (8,4%). Outra constatação: quase 80% das vítimas eram do sexo masculino.

 

 

Vítimas entre 2009 e 2018

  • Crescimento – 33% na quantidade de internações em todo o país
  • Pior cenário proporcional Tocantins, com aumento de 2.147% no período. Na sequência vem Pernambuco, com aumento de 725% no período.

 

Estados que registraram queda no número de internações

 

  • Maranhão (-40%)
  • Rio Grande do Sul (-22%)
  • Paraíba (-20%)
  • Distrito Federal (-16%)
  • Rio de Janeiro (-2%)

 

 

Percentual de internações por região

 

Em números absolutos, 43% das internações registradas no SUS no período ficaram concentradas em estados do Sudeste, região que reúne também metade da frota de veículos automotores do país. Outros 28% dos casos graves ficaram no Nordeste e o restante ficou diluído entre o Sul (12%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7%).

 

Para a presidente da CFM, Carlos Vital, a solução para reduzir os acidentes depende de uma série de fatores de prevenção, reforço na fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento dos itens de segurança dos veículos. “Neste contexto, os médicos desempenham papel fundamental nas discussões sobre direção veicular segura. O impacto desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e médicos se dividem no atendimento entre os acidentados e os que procuram assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos”, destacou.

 

 

Despesas para além das internações

Antonio Meira Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, lembra que os custos com os acidentes de trânsito vão além das hospitalizações. “Estamos falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito, no entanto, teríamos um impacto positivo muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam ser direcionados para outras áreas prioritárias da assistência em saúde no país”, pontua.

 

Estimativas conservadoras, segundo ele, calculam em cerca de R$ 50 bilhões ao ano os gastos com os acidentes, incluindo atendimento médico-hospitalar, seguros de veículos, danos a infraestruturas, perda ou roubo de cargas, entre outras despesas. “É preciso lembrar que existem outros custos envolvidos neste contexto, como o do absenteísmo por doença (falta do trabalhar por atestado ou licença-saúde), com auxílios doença e tudo o mais que o País tenha investido no indivíduo que veio a óbito ou que ficou inválido em idade produtiva. Mais grave do que toda essa matemática, porém, são as sequelas físicas e emocionais – muitas vezes irreversíveis – que cada um destes acidentes deixa na vida das pessoas”.

 

 

Mortalidade em queda

 

Segundo o levantamento do CFM, que considerou ainda dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, só em 2016 (ano mais recente disponível), foram registrados 37.345 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres. Embora a quantidade seja a menor registrada no período analisado (2007 a 2016), o número de mortes tem avançado em alguns estados, sobretudo das regiões Nordeste e Norte do Brasil.

  • Norte: (+) 30%
  • Nordeste: (+) 28%
  • Centro-Oeste: (+) 7%
  • Sul: (-) 15%
  • Sudeste: (-) 18%

 

Situação dos estados

Ao todo, 16 estados notificaram aumento desse tipo de agravamento.

 

  • São Paulo, Minas Gerais e Paraná liderem o ranking nacional em números absolutos de mortes no trânsito durante na última década

 

  • Piauí foi a unidade da Federação que apresentou o maior crescimento proporcional no período: 56%, passando de 670 óbitos em 2007 para 1.047 dez anos depois.

 

  • Maranhão teve o mesmo índice de registros de vítimas fatais, 56%Na mesma proporção, de 56%, cresceram os registros vítimas fatais no no período.

 

Tiveram reduções significativas de casos:

  • São Paulo (- 24%), apesar de ainda ser um dos líderes do ranking
  • Santa Catarina e Roraima (-23%)
  • Distrito Federal (-22%)
  • Espírito Santo (-20%).

 

(Da Assessoria do CFM)