Onze dias nesta segunda-feira (04). Este é o tempo que todos os brasileiros estão ouvindo, vendo e lendo sobre a tragédia de Brumadinho (MG). Fotos e vídeos chocam até os mais frios dos seres humanos. Imagine, então, o impacto disso tudo, de tanta destruição e morte, nas crianças, tão expostas aos noticiários quanto os adultos.
Brumadinho é apenas o exemplo mais atual, mas são frequentes as manchetes que impactam e trazem tristeza.
Como proteger as crianças de tantas notícias ruins?
Quem responde é a psicopedagoga catarinense e especialista em desenvolvimento cognitivo infantil Lorena Nolasco. Ela reconhece que é praticamente impossível manter as crianças alheias a um acontecimento dessas proporções. E afirma que isso também não é necessário. Ao contrário, defende que é importante que as crianças lidem com essas realidades, tanto na escola quanto em casa, de maneira transparente, de acordo com sua faixa etária e de sua capacidade de percepção.
“Dentro da escola, quando um assunto como este vem à tona, é interessante colocar para as crianças, independentemente da idade, o que é real em termos de informação. E essa informação deve chegar de maneira palatável e condizente com a capacidade cognitiva delas”, ensina. “Já em casa, a carga de opinião costuma ser maior, porque ali estão os conceitos, valores e crenças da família que educa essa criança. Mas, da mesma forma, conversas que envolvam esse tipo de temática devem ter o tom mais sereno e tranquilo possível”, completa.
Abaixo, mais algumas dicas da profissional:
1 – Crianças menores geralmente procuram os pais ou responsáveis diretos para perguntar sobre acontecimentos desse tipo. São essas figuras que dão a elas as noções de cuidado e de autoproteção ao falar frases como “desce daí que é perigoso”. Então, por serem uma referência, é importante que os pais e responsáveis se coloquem como fonte de informação segura e clara para os pequenos.
2 – Monitorar o que as crianças acessam na TV, nas redes sociais e aplicativos de conversas também é fundamental para evitar traumas. É importante não compartilhar fotos impactantes das pessoas envolvidas nas tragédias. Mas, se por descuido a criança tiver algum contato com esse tipo de material, deve-se explicar que isso é errado, que aquela dor poderia ser da própria família, que há pessoas tristes com o ocorrido. Isso ajuda a formar uma maturidade tecnológica nos adultos e nas crianças.
3 – Se a criança insistir em tocar no assunto, mesmo após uma conversa explicativa, é porque a resposta dada não a satisfez. Os pais devem, então, responder de maneira paciente exatamente ao questionamento da criança de acordo com a idade e a possibilidade de compreensão dela.
4 – É importante verificar a intensidade da emoção da criança diante do fato. Se as circunstâncias foram explicadas adequadamente, mas ela não esquece o assunto, tem dificuldade de dormir ou não quer ir para escola por medo, pode haver uma fragilidade emocional que precisa ser investigada. Se a tragédia for próxima à criança, é indispensável que haja acompanhamento profissional.
5 – É importante dizer que a morte faz parte da vida, que em algum momento não estaremos mais aqui. Se há uma dor por perda, dentro ou fora da família, a criança quer e deve participar dessa emoção, desse luto. Simplesmente excluí-la desse processo não é a melhor opção. É claro que situações de estresse como velórios e enterros podem ser evitadas, mas falar sobre o que significa a morte é relevante.