No pequeno município de Guaraciaba, Extremo-Oeste catarinense, já está em operação mais uma parte do complexo de produção de queijos da marca Gran Mestri. O diferencial é que na nova planta serão produzidos queijos tipo provolone e gorgonzola, com tecnologia e receitas legítimas italianas. A apresentação do empreendimento aconteceu há uma semana, na sede da Federação das Indústrias (Fiesc), em Florianópolis. Mas o grande dia será neste sábado (8), quando acontece a inauguração da unidade.
De acordo com o próprio Acari Menestrina, idealizador e presidente da indústria, foram investidos ali R$ 28 milhões em dez meses, desde a decisão até o começo da produção. A aposta é alta, ainda mais considerando que a empresa, criada em 2000, recebeu até agora investimentos que somam cerca de R$ 100 milhões.
Menestrina é um homem simples, com 42 anos de experiência na cadeia de lácteos e bom contador de causos. Cheio de frases de efeito, gosta de repetir que começou a se encantar pela área ainda muito jovem, “segurando o rabo da vaca pra nona tirar leite”. Simplicidade, neste caso, nada tem a ver com falta de ousadia, de metas bem definidas ou de preparação para avançar conforme o planejamento.
Pelo contrário. Atento ao mercado, às tendências e às oportunidades, ele fez a Gran Mestri alcançar o status de maior e melhor fabricante de queijos do país e a primeira a produzir provolone e gorgonzola em Santa Catarina. Para isso, investiu nas mais avançadas tecnologias, em equipamentos de ponta e nos mais experientes mestres queijeiros, vindos da Itália para treinar a equipe em Guaraciaba. “A gente faz queijo pra comer. O que sobra, a gente vende”, brinca ao citar mais uma de suas frases preferidas.
Pasto bom, leite bom e a baixo custo
Menestrina guarda a sete chaves os segredos de sua indústria. Outros ele faz questão de compartilhar. Por exemplo, que antes de ser um bom produtor de leite e de queijos é preciso ser um bom pasticultor, ou seja, aplicar tempo e recursos no pasto. “A vaca foi feita para comer pasto verde”, conforme o método neozelandês, seguido à risca pelo empreendedor, que chegou a trazer da Nova Zelândia as sementes para formação de pastagens de máxima qualidade, cultivadas em sistema rotativo. “Nossa atividade não precisa de grãos, mas de pasto. Assim temos leite orgânico e de baixo custo”, ensina.
O presidente da Gran Mestri, um dos responsáveis pela formação da bacia leiteira do Oeste do estado, afirma que o projeto da nova unidade é inovador para Santa Catarina. “Nosso estado ocupa apenas 1,13% do território nacional. Ainda assim, estamos na quarta posição do ranking nacional de produção de leite, com 10 milhões de litros ao dia e um crescimento de 8% a 10% ao ano, a maior taxa do Brasil. Atualmente, Santa Catarina produz mais leite que o Uruguai, sendo que 80% do que é produzido saem do Oeste. Das 70 mil famílias rurais do estado, também 80% têm na produção leiteira a principal atividade”, enumera.
Movido a desafios, Menestrina conta que quando chegou à região, na segunda metade da década de 1970, vindo de Rio dos Cedros, no Vale do Itajaí, não havia telefonia, as estradas eram precárias e mesmo o fornecimento de energia era instável. Nestas condições, o êxodo rural era grande e preocupante. Foi ele, como extensionista da antiga Acaresc, hoje Epagri, quem levou para o Oeste as primeiras vacas, o primeiro equipamento de cerca elétrica e até as primeiras pastagens apropriadas. “Hoje, no Brasil, a nossa é a única empresa que produz queijo, manteiga e requeijão com leite padrão internacional. Temos um trabalho muito forte junto aos produtores de leite, com agrônomos, veterinários e técnicos agrícolas, para manter esse padrão. Mantemos a mesma qualidade do leite produzido na França, na Suíça e na Itália”, orgulha-se, citando análises físico-químicas e microbiológicas. “Somos obcecados por alta qualidade, produtos saudáveis e segurança alimentar.”
A Gran Mestri
Fundada em 2000, a Gran Mestri tem 15 diferentes fábricas dentro do mesmo Complexo Industrial, somando 80 mil metros quadrados, sendo 16 mil metros quadrados de área construída e pavimentada. Dali saem 20 toneladas de queijos diariamente, volume que vai saltar para 30 toneladas diárias com os novos produtos. Este é o resultado do trabalho de mil pessoas empregadas diretamente e de pelo menos outras 3 mil indiretamente. O faturamento anual está em R$ 500 milhões e a projeção de crescimento para 2019, já com a venda do provolone e do gorgonzola Gran Mestri, é de 50%.
Mas o espaço para crescimento é bem maior, podendo chegar a 40% ou 50% ao ano até 2022. Isso porque foram aplicados recursos em entrada de energia elétrica, banco de gelo, poços artesianos e em um maior espaço de estocagem, para citar apenas alguns.
Cada unidade do complexo produz um tipo específico de queijo e outros laticínios. Assim, existe a unidade Grana Padano, Parmesão, Montanhês, Pecorino, Manteigas, Requeijões, Zero Lactose, Gourmet, Queijos Ralados, Gorgonzola (leite de vaca) e Roquefort (leite de ovelha), Provolone e Mozzarella de Búfala, além das centrais de Fracionamento, de Estocagem e Maturação, de Recebimento e Resfriamento de Leite, e de Resfriamento de Soro. Isso sem falar das Centrais de Distribuição da empresa em Florianópolis e em São Paulo.
Com isso, a fábrica de queijos de Guaraciaba consolida posição de referência em queijos diferenciados para o Brasil e a América Latina. “O nosso grande desafio é substituirmos os importados no mercado brasileiro. Tudo o que fabricamos é vendido no mercado nacional”, revela Menestrina, acrescentando que a marca responde por 10% do mercado nacional. Ele explica que, ainda que os produtos Gran Mestri tenham padrão internacional, não são competitivos no mercado externo pelos altos custos tributários, de logística e de transporte.
Crescimento
Parte da projeção de crescimento das vendas para o ano de 2019 e nos próximos está na expectativa de incremento do consumo de queijos pelos brasileiros. O presidente da Gran Mestri disse que o consumo na Itália, atualmente, é de 25 quilos per capta/ano, enquanto no Brasil ainda é de 5,5 quilos per capta/ano. “Mas a tendência é de crescimento e em cinco anos, no máximo, já teremos alcançado de 8 a 12 quilos de consumo anual per capta de queijos diferenciados. É o mercado que mais cresce no país”, afirma.
Longe de se aquietar, Acari Menestrina já se prepara para lançar, ainda neste mês de dezembro, mais uma linha de produtos, de cream cheese. E, em dois anos, deve colocar no mercado a linha de queijos brie e camembert.
(Por Andréa Leonora)