Rogério Portanova é natural de Porto Alegre (RS). Graduado em Direito, professor e pesquisador da área de Direito Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Já ocupou cargos em diversos órgãos, entre eles, foi membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Portanova foi candidato a prefeito de Florianópolis em duas eleições e, em 1998, também disputou o governo do Estado.
Jornais ADI/Adjori – O senhor tem falado bastante de sua preocupação com o Ensino Médio. Quais são suas propostas para diminuir esse problema?
Portanova – Uma coisa é o diagnóstico, outra é o receituário. O melhor diagnóstico que tem da sociedade é o marxismo, mas o seu receituário praticamente mata o paciente. O teu remédio pode ser um remédio ou um veneno, dependendo da dose. Meu diagnóstico é igual para todos: defasagem curricular. Mas qual é o meu receituário? É onde nós começamos a nos diferenciar.
Hoje nós temos um currículo que não é atrativo do ponto de vista de prender a atenção do aluno. Ele com o celular tem muito mais informação do que com um professor que dá aula hoje como os meus professores de 50 anos atrás. O problema não está na estrutura física e sim no processo de ensino.
ADI/Adjori – Como reverter isso?
Portanova – Uma resposta é a aliança que nós vamos fazer com a Ciência, com a inovação tecnológica. Nós vamos trazer a internet rápida para dentro das escolas, trazer a possibilidades de novas profissões. As nossas escolas, todas elas vão ter teto solar. E o que vou estar ensinando para aquele aluno? Que ele pode ser um eletricista de montagem de tetos solares, manutenção, enfim. Porque ele vai estar vendo isso dentro da sua escola.
Nós vamos fazer hortas comunitárias, o que vai gerar um alimento melhor para o aluno, e também vai diminuir a corrupção na merenda escolar. E o que eu vou estar ensinando para esse sujeito? Uma nova profissão, como por exemplo, ser um agricultor orgânico.
ADI/Adjori – Como colocar um plano desses em ação em apenas um mandato?
Portanova – Não sei se faremos essa mudança em um mandato, mas se nós não começarmos a fazer, não vamos fazer nunca. Eu sei como começar, olhando os bons exemplos que já existem no Brasil. Em Joinville, por exemplo, nós temos a Tigre. Ela consegue pagar altíssimos salários, tem várias bolsas para alunos de Engenharia Mecânica. Nós temos ilhas de excelência. Por que não seguir esse exemplo?
Uma outra possibilidade são as escolas do Senai. Eles têm uma parceria internacional, e estão lançando um satélite que vai ajudar a segurança e a agricultura aqui em Santa Catarina. Por que não pegar essa experiência educacional e trazer para o Estado? Nós não temos nenhum preconceito. Em quatro, cinco anos você vai conseguir? Não sei! Mas vou começar.
ADI/Adjori – Como pretende trabalhar todas as diferentes caraterísticas do Estado?
Portanova – A diversidade econômica que nós temos em Santa Catarina é uma benção e não um problema. O ponto é usar cada uma dessas culturas para potencializar tudo o que temos de melhor. Quando eu falo de inovação tecnológica, posso falar para a área da saúde, mas eu posso falar também para o setor moveleiro. Eu posso falar com muita tranquilidade que hoje nós, da Rede, temos um diálogo possível com o agronegócio. A Epagri e a Embrapa já mostraram que o agronegócio é compatível com o meio ambiente. Não existe mais essa incompatibilidade.
ADI/Adjori – Passando para o cenário político, o pluripartidarismo no Brasil é eficiente?
Portanova – Em primeiro lugar, ou a democracia é pluripartidária ou não é democracia. A questão da eficiência vai depender do caráter dos políticos. Existem países que têm dois partidos com políticos completamente canalhas. E existem países, como os EUA, que possui dezenas de partidos e têm políticos corretos em todas as áreas. A questão não está no número dos partidos, ou na ideia de que reduzindo vai mudar o sistema.
ADI/Adjori – Onde está a questão, então?
Portanova – Em se ter um vínculo programático, ideológico, para que sejam cumpridas as bandeiras de um partido. Do que é que adianta o Brasil, hoje, ter quase 40 siglas partidárias e ter um “centrão” com 10, 12 partidos com ideologias completamente diferentes. É o caso de Santa Catarina. Como é que se explica o PCdoB, o PSB e o PDT, que são partidos do campo social, estarem em uma coligação com o PSD e o PP, o primeiro neoliberal e o segundo de políticos tradicionais? Não há lógica nisso! E afasta o eleitor da política, porque chega um momento em que ele já não sabe mais o que aquele partido vai de fato defender. Em uma visão pragmática os partidos abandonam seus princípios programáticos.
ADI/Adjori – Esse é um dos motivos da crise que o país atravessa?
Portanova – Nós chegamos a essa crise ética e política porque o que se tem é o poder pelo poder. Se junta qualquer um com qualquer outro, pessoas que foram inimigas a vida inteira estão juntas pela expectativa de se manter. O grande problema não é o pluripartidarismo, mas a falta de compromisso dos partidos com relação aos seus programas.
ADI/Adjori – O que falta na atual democracia do Brasil?
Portanova – A democracia tem que trazer resposta para o cidadão. Por exemplo, a lei de distribuição de benefício. Nós somos uma das maiores concentrações de riqueza que existe no planeta. Já foi constatado que onde tem concentração de riqueza, aumenta o desemprego e a violência. Some-se a isso, a evasão escolar que beira os 100 mil alunos só no ensino médio e 54 escolas fechadas, aqui em Santa Catarina. E onde está concentrada essa riqueza então? No setor financeiro especulativo, quem ganha são os bancos. Há que se democratizar esse verdadeiro monopólio que é o sistema bancário.