ENTREVISTA INGRID ASSIS – PSTU/SC: Ingrid quer instituir conselhos comunitários para identificar as reais prioridades da população

Jornais ADI/Adjori – Chegando ao governo do Estado, qual será sua primeira medida?

Ingrid Assis – Para se resolver os vários problemas graves que nós temos nos setores de Saúde, Educação, falta de moradia e de emprego é preciso investimento. Nós sabemos que Santa Catarina tem esse dinheiro, mas tem outras prioridades. A nossa prioridade é parar de pagar dívida pública. Aqui no Estado essa dívida começou com o início da construção da Ponte Hercílio Luz, que há anos está em reforma e sem uso. Além de parar de pagar essa dívida, nós iremos fazer uma auditoria de todos os contratos da ponte. Outra coisa que nós temos como muito importante no nosso governo é a criação dos conselhos populares. Eles serão eleitos pela população, para que possam decidir 100% onde investir o dinheiro que entra no nosso Estado.

ADI/Adjori – Qual a diferença dos conselhos populares para o Orçamento Regionalizado já realizado pela Assembleia?

Ingrid – Os conselhos populares são formados nos seus locais de trabalho. Por exemplo, na educação, o conselho seria formado por professores, alunos, pais e a comunidade escolar. Porque eles sabem as necessidades da educação. Aí nós não precisaríamos de um secretário de Educação, que na maioria das vezes nem é da área e não sabe dos problemas do dia a dia das escolas. Além de definirem para onde vai o dinheiro, os conselhos populares teriam autoridade para fiscalizar e combater a corrupção, tanto fora do conselho quanto dentro dele. Nós defendemos a prisão de todos os corruptos e corruptores, e que devolvam o que roubaram, o que não acontece hoje.

ADI/Adjori – Quais são as suas linhas de trabalho nas áreas prioritárias?

Ingrid – Temos algumas defesas que nós acreditamos que solucionariam a vida da classe trabalhadora. Hoje nós vivemos em um Estado totalmente capitalista e burguês, que beneficia apenas os ricos e poderosos. Na nossa proposta, a gente defende uma sociedade socialista. Na questão da segurança pública, por exemplo, nós pensamos que a segurança pública está interligada com os problemas sociais que a gente tem. Então, é preciso gerar investimento para solucionar esses problemas sociais e, em consequência, as questões de segurança.

 

ADI/Adjori – Qual o maior propósito do PSTU com a sua candidatura?

Ingrid – Nós temos uma visão além das eleições. Nosso papel, enquanto partido revolucionário, é organizar a classe trabalhadora para enfrentar tudo isso que está acontecendo em termos de perda de direitos. Infelizmente, nós sabemos que as eleições não vão resolver nossos problemas, porque quem está dirigindo esse processo é uma burguesia que não quer abrir mão do poder. Há uma falsa democracia nos espaços. Nós somos um partido pequeno e não temos o mesmo espaço que os partidos que já estão há mais de 40 anos no poder. Porque eles sabem que a classe trabalhadora está enfurecida com o que está acontecendo e se tiver alguém colocando uma proposta que os trabalhadores têm que se rebelar contra tudo isso, eles correm um grande risco. Somos um partido internacional, estamos em mais 25 países, e acreditamos que a revolução não deve ser apenas no Brasil, mas no mundo. Porque o mundo sofre com o sistema capitalista. Nós temos um dado que mostra que a juventude dos EUA, que é o berço do capitalismo, está reivindicando o socialismo.

ADI/Adjori – Qual a posição do PSTU com relação a Renúncia Fiscal?

Ingrid – Nós somos contra, porque ela vai nessa linha de dar privilégios para os grandes empresários. Então, esse dinheiro de renúncia fiscal também seria usado para investir em outros setores. Além da Renúncia Fiscal, no Estado acontece uma coisa muito mais grave. O dinheiro que deveria ser investido 100% em setores públicos são direcionados aos empresários da educação, da saúde. E o reflexo disso são os esses setores cada vez mais precários. Só para se ter uma ideia da educação pública em Junho, foi retirado 271 milhões para pagar a dívida pública do Estado. E o teto vai ainda mais acima, vai chegar a dois bilhões que serão tirados de outros setores, e enquanto isso a população fica à mercê da barbárie que o Estado promove beneficiando os ricos e poderosos.

 

ADI/Adjori – Como única candidata mulher ao governo do Estado, como você avalia a situação das mulheres em SC?

Ingrid – Nós temos um problema muito grave no que diz respeito às mulheres em Santa Catarina e ao feminicídio. Somos o quarto estado mais violento do país contra as mulheres e sempre tivemos baixo investimento do governo federal para esse tema. Especialmente nos governos do PT, onde foram destinados menos 30 centavos por ano por mulher para o combate à violência. O combate nunca foi efetivo.

 

ADI/Adjori – O que é preciso fazer?

Ingrid – Basta dizer que tanto que, entre nossos 295 municípios, só existem 37 delegacias especializadas. E, infelizmente, faltam profissionais para atender de uma forma humanizada essas mulheres que são vítimas de violência. Além disso, não há um investimento, uma estratégia, uma política pública para o combate ao problema. E a cada dia aumentam os casos de feminicídio em Santa Catarina. O PSTU defende a destinação de 1% do PIB estadual para atacar esse problema. A situação é ainda pior entre as mulheres indígenas. Além de sofrerem com a violência e com o feminicídio, não temos delegacias especializadas para nossas comunidades. Muitas dessas mulheres sequer falam português e também por isso se calam.

 

ADI/Adjori – Você acredita que tudo o que propõe é possível para o Brasil?

Ingrid – Eu seria hipócrita se dissesse que não acredito, sendo uma mãe sozinha, que poderia estar em qualquer outro lugar, mas está aqui para falar com a classe trabalhadora que eu sei que sofre todos os dias com o descaso. Então, eu acredito muito que isso é possível, e eu acredito nos trabalhadores. Ao contrário do que muitos setores dizem, que nós vivemos em uma onda reacionário onde as pessoas estão paradas sem lutar, nós não vemos isso. Porque nós estamos todos os dias do lado dos trabalhadores. No movimento indígena nós costumamos dizer que só a luta muda a nossa vida. Porque nunca, nenhum governo nos deu nada sem que a gente tenha ido à luta. Cada vez mais nós nos levantamos contra o capitalismo e é possível, sim, os trabalhadores tomarem o poder. Como já foi nos cinco primeiros anos da Revolução Russa. A história mostra que é possível. E que é pela mão dos trabalhadores