O publicitário Pedro Cherem acaba de ser reconduzido para mais um mandato à frente do Sindicato das Agências de Propaganda (Sinapro-SC). Vice-presidente da MDO Comunicação, Cherem nasceu em Curitiba, estudou Arquitetura e chegou a trabalhar como desenhista no Departamento de Marketing do extinto BESC. Não por acaso, tem como hobby a coleção de desenhos originais de Walt Disney. Foi sócio e diretor de Animação da Grapht Desenhos Animados, o primeiro estúdio de animação de Santa Catarina, onde produziu inúmeros comerciais em animação para várias agências e anunciantes de todo o Brasil. É sócio-diretor da Lynx Participações Ltda, e sócio-diretor da Drixel Licenciamentos Ltda. Nesta entrevista exclusiva à Coluna Pelo Estado e ao SCPortais, Cherem fala dos enormes desafios pelos quais passa o mercado publicitário, relembra as principais ações do primeiro mandato e avalia o momento das agências de propaganda de Santa Catarina. “Antes, vivíamos da comissão de 20%. Agora, falamos de hora/homem”, diz. E mais: “temos que assumir definitivamente o papel de agente consultor”, comenta. Em meio a um cenário de mudanças, crise política e economia dando apenas sinais de uma possível recuperação, Cherem está à frente da equipe que criou o 1º Seminário Catarinense de Marketing Político, que trará a Florianópolis nomes de grande relevância no marketing político brasileiro, além do ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e jornalistas que atuam na cobertura política do estado. O evento está marcado para a próxima quarta-feira (25), na sede da Federação das Indústrias (Fiesc).
[PeloEstado] – Existe um perfil do publicitário catarinense? Ele tem alguma característica que o distingue no mercado?
Pedro Cherem – Aqui em Santa Catarina não existem grandes agências como as de São Paulo ou Rio de Janeiro. Nossas agências são de médio e pequeno porte. Nosso diferencial está na proximidade com os clientes, o que de fato facilita o atendimento e o entendimento das organizações.
[PE] – O senhor foi reeleito para um segundo mandato. Que balanço faz dos dois primeiros anos?
Pedro Cherem – Foi um período muito difícil por conta da crise econômica. Tivemos que arrumar a casa, fazer alguns cortes em nossa estrutura. Por outro lado, nunca antes o Sinapro teve uma estrutura tão participativa envolvendo os diretores executivos e os regionais. Foram várias ações importantes como o Workshop Remuneração, onde discutimos nossa rentabilidade, Cannes Road Show, onde levamos conteúdo criativo e relevante ao trade e às agências, Design Thinking, onde discutimos o nosso negócio, e outros tantos. E uma boa aproximação com o trade, através da ADI, da Acaert e da Adjori, que são nossos parceiros na luta diária em defesa dos interesses do nosso negócio.
[PE] – Qual foi, de fato, o impacto da tecnologia e da internet no negócio da propaganda?
Pedro Cherem – Enorme. Um divisor de águas. Vivíamos da comissão de 20%, agora falamos em hora/homem. Tivemos que aprender sobre esse mundo digital para continuarmos relevantes. Agora temos um novo desafio: assumir definitivamente o papel de agente “consultor”, entendendo as possibilidades vindas de softwares de inteligência artificial e, assim, levar a informação mais precisa aos nossos clientes.
[PE] – Como uma agência catarinense pode ser competitiva num cenário de globalização?
Pedro Cherem – Temos estruturas menores e, portanto, um preço melhor. E temos boa mão-de-obra, sobretudo na área de tecnologia, o que abre um universo de possibilidades com o crescimento de polos inovadores em diversas cidades catarinenses.
[PE] – Quais os principais obstáculos?
Pedro Cherem – O número grande de agências, o assédio de veículos que oferecem o que pensam ser a “solução integral”, invadindo nossos serviços e, em certa medida, o meio digital, no sentido que muitas empresas acreditam que podem dar conta do serviço sozinhas, implementando departamentos internos para gerir sua comunicação. Acredito que isso seja totalmente equivocado, pois elas deixam de cuidar de seus negócios para focar em uma atividade que não está no DNA dessas empresas.
[PE] – Como o Sinapro pode apoiar as agências catarinenses nesse momento de profunda transformação que vive o mercado?
Pedro Cherem – Oferecemos uma série de serviços às nossas associadas. Desde assessoria jurídica, através de nossa própria estrutura e da Fenapro, que possui os melhores advogados do Brasil, oportunidades de treinamentos, acesso a processos licitatórios, participação em eventos e muito mais.
[PE] – Há, no cenário, a possibilidade de ocorrerem novas fusões e aquisições no mercado catarinense? Qual sua avaliação?
Pedro Cherem – Sempre há espaço para isso, embora não seja uma característica marcante em nosso estado como nos grandes centros. Pelo porte de nossas agências, que são pequenas e médias, não existe muito interesse das grandes corporações internacionais.
[PE] – Existe, no mercado catarinense, possibilidade de crescimento para as agências locais?
Pedro Cherem – Penso que sim, mas vivemos um momento de profundas mudanças. Acho que nosso negócio está evoluindo e passaremos a oferecer outros tipos de serviços. Penso que daí surgirão oportunidades de crescimento, mas baseadas em inovação.
[PE] – De que forma a instabilidade política e o lento processo de recuperação da economia interferem no crescimento deste mercado?
Pedro Cherem – Nosso mercado é muito sensível. Costumamos dizer que somos o primeiro setor a sentir a crise e o último a deixá-la. Os processos licitatórios, mais cuidadosos por conta da rígida fiscalização a questão submetidos, também contribuem para uma recuperação mais lenta das agências.
[PE] – O Sinapro está promovendo um Seminário de Marketing Político no próximo dia 25. Fale um pouco sobre este evento.
Pedro Cherem – Traremos dois grandes especialistas, o Rodrigo Gadelha e o Marcelo Vitorino, que falarão sobre estratégia, sobretudo nos meios digitais. Falaremos sobre fake news. Faremos também um painel com alguns dos mais importantes colunistas políticos de Santa Catarina. E, por fim, traremos o ministro do TSE, Admar Gonzaga, que falará sobre as questões legais, o que pode e não pode ser feito e as implicações jurídicas e legislação que vai reger a campanha de 2018. Há muitas mudanças na lei eleitoral, e nosso intuito é ajudar a esclarecer tudo isso. Abriremos oportunidades para dúvidas e tentaremos respondê-las. Queremos também aproveitar para mostrar a força das agências de Santa Catarina, que estão preparadas para cuidar das estratégias de campanha dos candidatos em todas as esferas. Será um grande evento.
[PE] – De que forma avalia o fortalecimento cada vez maior dos veículos de comunicação sediados fora da Capital?
Pedro Cherem – Acho muito positivo, assim como as agências do interior que também têm se fortalecido. Esse é o DNA de Santa Catarina. Somos um estado homogêneo e é saudável que os meios de comunicação e, consequentemente, as agências, sigam esse movimento.