No último domingo (25), o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, surpreendeu ao publicar um anúncio de página inteira em grandes jornais dos Estados Unidos e do Reino Unido pedindo desculpas por “quebra de confiança” por causa do vazamento de dados de 50 milhões de usuários ocorrido em 2014 pela consultora Cambridge Analytica (confira o pedido de desculpas na íntegra ao final da matéria). O Facebook atribuiu o vazamento a um aplicativo desenvolvido por um universitário. No anúncio, Zuckerberg diz que “temos uma responsabilidade em proteger suas informações. Se não conseguimos, não merecemos”.
A Cambridge Analytica conseguiu de forma indevida dados de usuários para construir perfis de eleitores norte-americanos que foram usados posteriormente para eleger o presidente Donald Trump, em 2016. O escândalo afetou ainda mais a confiança na empresa e gerou mais uma série de críticas à maior rede social do mundo e colocou o Facebook novamente na berlinda. Antes de o vazamento ganhar as manchetes, a rede social já vinha sofrendo ataques por conta da propagação das chamadas fake news. Há suspeitas de que páginas do site tenham contribuído para a eleição de Trump, a partir de notícias falsas espalhadas a respeito de sua principal adversária, a então candidata democrata Hillary Clinton.
Também a decisão de grandes conglomerados, como a Unilever, e do mega-investidor Elon Musk de abandonar a rede social está fazendo com que as empresas repensem suas estratégias dentro do Facebook. Por conta das frequentes alterações no algoritmo, o alcance do que é publicado nas chamadas fanpages exige cada vez mais investimentos, o que acaba sendo sempre muito questionado pelas empresas que usam a rede social em suas estratégias de marketing digital.
Decisão de anunciar em jornais chama a atenção
Especialmente por conta dos reflexos econômicos que o escândalo acarreta ao Facebook, o anúncio em jornais importantes, como os americanos Washington Post, The Wall Street Journal e The New York Times, e o britânico The Observer, pode ser uma tentativa de busca por credibilidade e reparo na reputação da empresa perante os usuários, mas, principalmente, anunciantes, legisladores e investidores. “Ver uma empresa de internet como o Facebook anunciar em jornais após uma grave crise só reforça o quanto os veículos de mídia tradicional ainda são relevantes e possuem credibilidade e confiança do público”, afirma Marcello Côrrea Petrelli, presidente-executivo do Grupo RIC e da ACAERT (Associação Catarinense de Empresas de Rádio e Televisão).
Petrelli destaca a forma de uso da internet, no caso da rede social, ser mais para relacionamento que para informação e isso ter também justificado a decisão de Zuckerberg. “A rede social é vista como um meio e não como um veículo de comunicação. Ou seja, nos relacionamos pelas redes sociais, mas não nos informamos por meio dela.”
Para Pedro Cherem, presidente do Sinapro-SC (Sindicato das Agências de Propaganda), disse que é perceptível que quando existe algum problema na imagem de uma marca, a empresa recorre a veículos tradicionais, como jornal, TV e rádio, para prestar esclarecimentos. “É uma prática comum. Isso mostra que as marcas recorrem a veículos de grande credibilidade e detentores de compromisso com a ética”, conclui.
O presidente da Associação de Diários do Interior (ADI-SC), Ámer Felix Ribeiro, destaca que o Facebook é, de fato, uma importante ferramenta de divulgação de informações até por parte dos veículos tradicionais de comunicação, que ampliam seu alcance por meio de postagens em redes sociais. Entretanto, chamou a atenção para a proliferação de notícias falsas, algumas bastante graves e até criminosas, que nada têm a ver com liberdade de expressão. “Quando um jornal impresso publica uma informação, toma para si a responsabilidade sobre o que está noticiando. É o que garante a seriedade desses veículos. Algo percebido pela sociedade e, agora, evidentemente confirmado pelo criador do Facebook”, comparou.
O vice-presidente da entidade, Adriano Kalil, reforça que os diários impressos estão na contramão das fake news. “Se no meio virtual não há ainda um controle efetivo sobre as fake news, nos impressos o que prevalece são as true news, ou notícias verdadeiras. Isso não tem preço. Tem, sim, um valor incalculável, seja social ou econômico.”
Leia a tradução* na íntegra do anúncio de Mark Zuckerberg
“Você deve ter ouvido falar sobre um aplicativo de quiz construído por um pesquisador universitário que vazou dados de milhões de usuários do Facebook em 2014. Isso foi uma quebra de confiança e eu sinto muito por não termos feito algo além naquela época. Agora, nós estamos tomando medidas para assegurar que isso nunca mais irá acontecer novamente.
Nós já estamos impedindo que aplicativos como esse tenham acesso a tantas informações. Agora, estamos limitando os dados que os aplicativos pegam quando você entra com a sua conta no Facebook.
Nós também estamos investigando cada aplicativo que teve acesso à grandes volumes de dados antes de consertarmos isso. Nós esperamos a existência de outros. E quando encontrarmos eles, nós os baniremos e contataremos as pessoas afetadas;