Especial – parte 1 | João Raimundo Colombo
Durante quase 40 minutos, em uma entrevista exclusiva com a reportagem da Coluna Pelo Estado, o governador Raimundo Colombo (PSD) fez um balanço de seus sete anos no comando do Executivo estadual. Falou de crise, das soluções encontradas, das dificuldades para efetivar essas soluções, sobre o que mais o orgulha, sobre decepção, sobre política, relação com o MDB, campanha ao Senado e muitas outras abordagens. A Pelo Estado traz hoje a primeira de uma série de três páginas com o resultado dessa conversa, ocorrida no gabinete da Casa D’Agronômica, residência oficial do governador do Estado, da qual logo estará se despedindo. Colombo conquistou o cargo de governador em 2010, com 1.815.304 votos (52,71%), sendo eleito em primeiro turno. Em 2014, a votação caiu um pouco, 1.763.735 votos (51.36%), mas não tirou dele a reeleição também em primeiro turno. Agora Colombo se prepara para entrar em licença no dia 16 de fevereiro, passando o cargo para o vice Eduardo Moreira (MDB). A renúncia virá em abril, quando deve entrar de corpo, alma, mente e coração na campanha ao Senado.
[PeloEstado] – Como o senhor encontrou e como vai entregar o governo do Estado?
Raimundo Colombo – A situação do serviço público no Brasil piorou muito nos últimos anos. Falo de União, estados e municípios. A capacidade de investimento está bem reduzida. Veja o déficit do governo federal para tocar a máquina com força mínima. A situação de Santa Catarina é uma situação melhor que dos outros estados, mais equilibrada, mas ainda assim difícil. Nós tivemos a melhor arrecadação da história no mês de janeiro, uma arrecadação que já tinha sido positiva em dezembro. Isso mostra que a retomada da economia está acontecendo. Santa Catarina teve o maior crescimento de empregos e o maior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Como eu disse, a situação é melhor que a dos outros, mas ainda assim difícil. Como foi ao longo dos sete anos do meu governo até aqui. Nem melhor nem pior. Não tivemos folga.
[PE] – Qual seu maior orgulho nesse período?
Colombo – Nós não nos preocupamos apenas com o governo, mas com a sociedade. Não aumentar impostos, incentivar o setor produtivo, animar todo mundo para enfrentar a crise, procurar dar o exemplo, aproveitar as janelas como a da exportação, aproveitar o máximo do rendimento do agronegócio, aproveitar o turismo com seu potencial imenso e chances para crescer, investir em tecnologia para dar competitividade… nossas ações, e aqui cito apenas algumas, fizeram com que o nosso estado fosse o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Acho que isso é a maior ação de governo! As pessoas não perderam seus empregos, conseguiram manter suas atividades, as empresas não quebraram, porque recuperar uma empresa é um sofrimento e leva muito tempo. Isso fez com que Santa Catarina fosse, hoje, não o melhor governo, mas o melhor estado do Brasil.
[PE] – Por que não o melhor?
Colombo – Talvez o melhor governo, mas eu sou suspeito para falar (risos).
[PE] – Maior frustração?
Colombo – Eu não tenho o direito de ter frustração. Tive o privilégio de ser governador de Santa Catarina, uma pessoa humilde, do interior, sem uma grande base eleitoral e sem tradição política. Tive momentos difíceis. Momentos de angústia, momentos de sofrimento. Mas não tenho frustração. Fiz o que pude e consegui enfrentar os desafios o melhor que eu pude com as condições que eu tinha. Não me dou o direito de ter frustração porque estaria sendo ingrato com as oportunidades que recebi.
[PE] – Vou reformular a pergunta, então. Se o senhor tivesse mais um tempo para administrar o Estado, o que ainda faria?
Colombo – Continuaria reduzindo os custos e tentando aumentar mais os investimentos para as pessoas mais pobres. O Estado muitas vezes não consegue chegar às pessoas que mais precisam. Aí, sim, é uma frustração. Precisava fazer mais neste sentido.
[PE] – Das metas que anunciou enquanto candidato ao governo e não conseguiu realizar, o que mais chateia?
Colombo – Acho que tivemos grandes vitórias. A Defesa Civil, os investimentos na Educação, as obras de infraestrutura… talvez não tenhamos tido a compreensão necessária para o esforço que fizemos na Saúde. É uma área que a gente entende que carrega toda uma polêmica e, embora tenha melhorado muito o atendimento, não conseguimos explicar para a sociedade tudo o que foi feito.
[PE] – O maior legado?
Colombo – O maior legado foi proteger as pessoas. A taxa de empregos mostra isso. As obras da Defesa Civil mostram isso. Procuramos proteger as pessoas naquilo que era essencial. As pessoas estavam em primeiro lugar. Essa era a nossa mensagem. E perseguimos isso durante todo o período do governo.
[PE] – O senhor sai com alguma decepção, seja na política ou na gestão propriamente dita?
Colombo – Existem muitas amarras, muitas interferências, muita burocracia. E isso é uma coisa que me incomoda muito porque tira a eficiência das ações de governo. Na verdade nem é uma decepção, mas uma constatação. E isso precisa mudar. O poder Executivo está amarrado, patinando.
[PE] – Que áreas o senhor acredita que registraram os maiores avanços em seu governo?
Colombo – Melhoramos muito na Defesa Civil, no sistema prisional, na Educação. Começamos com muitas crises, com muitos conflitos. Nós conseguimos melhorar muito o aspecto físico, a autonomia e a Pedagogia das escolas da rede estadual. Agora estamos investindo muito em equipamentos e na modernização dessas estruturas de ensino. As obras e os equipamentos que vieram para a Saúde… nenhum estado brasileiro conseguiu trazer tantas coisas e ampliar tanto os serviços. Tivemos obras emblemáticas na infraestrutura, de integração do estado. Eu diria que nosso governo conseguiu desenvolver um volume de obras e ações que nenhum outro estado, num momento de crise como esse, fez parecido com o que fizemos. É muito difícil pontuar a área A, B ou C. São desafios, são circunstâncias, são os momentos que definem aquilo o que você consegue e o que você não consegue fazer. Às vezes o que estava programado para ser realizado em um ano fica para o outro, porque são muitos os órgãos que interagem nessas ações.
[PE] – O senhor enfrentou vários problemas, por vezes optando pelo rompimento com empresas vencedoras de licitações.
Colombo – Esse é um problema muito sério. São muitas as obras que você faz a licitação, a empresa ganha, toca muito devagar, praticamente parando, ou abandona a obra. Aí tem que começar todo o processo de novo, acaba judicializando. Você sofre muito para conseguir fazer o projeto, demora muito para fazer toda a prática burocrática e contratar, depois tem que enfrentar os questionamentos via Justiça feitos pelas empresas que perderam a concorrência e, quando chega na hora da execução, muitas construtoras ficam aquém do ritmo que assume no contrato. Isso tira eficiência, é parte dos problemas que o gestor enfrenta no dia a dia, e demonstra o predomínio da burocracia sobre as prioridades da sociedade. A ponte Hercílio Luz foi um caso, o acesso ao Aeroporto Internacional de Florianópolis foi outro. Tivemos o caso da rodovia Ouro/Jaborá, obras que ficaram atrasadas dois anos porque a empresa que ganhou, que inclusive era de fora do país, fez uma parte e abandonou. Fomos obrigados a cancelar tudo e a fazer uma nova concorrência internacional. Começar do zero. E a sociedade fica prejudicada, chateada, e com razão.
[PE] – Sem perceber que o problema não está no governo.
Colombo – É mais fácil dizer que a culpa é do governo, mas nós temos que cumprir a lei. A lei impõe essas regras e não podemos deixar de respeitar.
[PE] – Em algum momento achou que não daria conta?
Colombo – Muitos. Enfrentamos algumas guerras inglórias. Foi um período muito duro. De muitos cortes. Mas conseguimos. Deu certo. E temos que agradecer.
[PE] – De 0 a 10, que nota se dá?
Colombo – Acho que 8 é uma nota boa. Passa de ano (risos). Fizemos um governo muito técnico na gestão. Criamos critérios e seguimos os critérios. A percepção do momento, o planejamento e a reação na hora certa fizeram a diferença.