Antes da chegada de Gelson Merisio ao evento do PDT, a reportagem do SCPortais ouviu o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi, o presidente estadual, Manoel Dias, e o deputado Rodrigo Minotto.
Saiba o que cada um disse nas entrevistas abaixo:
Carlos Lupi e Manoel Dias
SCPortais – Qual o objetivo desse encontro?
Carlos Lupi – Desde ontem (segunda-feira, 26) nós estamos em reunião ampliada da Executiva com os nossos pré-candidatos a deputado estadual e federal para definir um caminho. O primeiro caminho definido, que já é uma decisão da Executiva nacional, tomada em 8 de março, é a candidatura única para deputado federal do Manoel Dias. Isso é uma decisão do partido. O partido deve esse reconhecimento, essa homenagem ao Manoel. Eu trouxe esse assunto para discutir com toda a Executiva estadual e pré-candidatos e a aprovação foi unânime.
SCP – Além disso…
Lupi – A segunda decisão, que foi o apoio ao Merisio. Nós discutimos esse assunto desde o ano passado. Ele esteve com a gente lá em Brasília, com o nosso líder da Assembleia, o Minotto, com o Dias e com o Ciro. E falou da simpatia dele pelo Ciro. Então nós avançamos. O Rodrigo (Minotto) estava cuidando dessa política mais local. E ontem anunciamos o fechamento desse acordo com a candidatura dele para governador. O PDT vai ocupar uma vaga na chapa majoritária que ainda será definida (ao final do encontro foi anunciado Marcelo Sodré, vice-prefeito de Itajaí, como pré-candidato a primeiro suplente em uma das vagas ao Senado).
SCP – Nos outros estados também estão fechando em candidaturas únicas?
Lupi – É só aqui e no Pará, com o Giovanni Queiroz. Dois estados em que teremos candidaturas únicas para a Câmara dos Deputados. Nos outros temos vários candidatos.
SCP – E para a Assembleia Legislativa?
Lupi – Ai é uma nominata que vai ter de 20 a 25 candidatos. É o nosso desejo ter pelo menos três deputados estaduais junto do Manoel como federal.
SCP – Vocês estavam com o PT nos governos Lula e Dilma. Não é uma guinada muito radical esse apoio ao deputado Merisio?
Lupi – Cada ser humano é o seu momento. Nós tivemos um momento em que a sociedade estava muito radicalizada. Acho que o que fizeram com a Dilma foi um golpe. Hoje a grande maioria da população inclusive entende assim, que a herança do Michel será uma herança maldita. Foi pior do que imaginávamos. Nós fizemos a defesa da democracia, da institucionalidade e da Constituição. Agora, desde aquele momento em que o Ciro se filiou ao PDT, já anunciamos a candidatura dele à presidência. Ele está definido, referendado. Então, o PT tem o caminho dele. Nós respeitamos, mas temos o nosso. Inclusive, o Manoel Dias é muito importante para o Ciro porque, amanhã, o Ciro presidente, ele vai ser uma pessoa fundamental na articulação na Câmara. O Ciro é o nosso candidato. Acho que ele está crescendo com consistência. Visitando muitos estados, fazendo debate com juventude. Nós estamos crescendo aos poucos e consolidando esse crescimento. Acredito muito na vitória do Ciro, porque eu acho que ele vai para o segundo turno em uma posição mais de centro-esquerda contra um de centro-direita. E nós vamos assistir essa briga para ver quem entra.
SCP – Uma surpresa positiva pode ser a eleição de Ciro. Mas como pretendem lidar com o fator Bolsonaro?
Lupi – Acho que quem conhece o Bolsonaro, vê a inexperiência dele. O Bolsonaro nunca administrou um botequin, não sabe o que é administrar um armazém. Diz que não é político e toda a família tem mandato. Como alguém pode negar a política, vivendo da política há 35 anos, 40 anos? Como alguém pode achar que a solução simplista para a Segurança é distribuir armas? Se essa fosse a solução, o mundo já estaria acabado. Todo mundo ia matar o outro até o dia que eliminasse a humanidade. O Bolsonaro é um folclore.
(Manoel Dias se aproxima e começa a participar da entrevista)
Manoel Dias – Aproveitando do momento de descrença total, ele faz uma grande campanha feita contra os políticos; ele sendo político e criminalizando a política. Mas acho que isso, na hora da campanha, a população vai perceber.
SCP – O PDT já tem um projeto para Santa Catarina em conjunto com o PSD?
Lupi – Isso vai ser uma costura que o estado vai fazer. Ele (Merisio) está muito afinado com a gente, já manifestou o desejo de votar no Ciro.
Dias – O MDB vai com o (Michel) Temer ou com o (Henrique) Meirelles. Com o surgimento da candidatura do Meireles e o presidente comunicando que é candidato, eles (MDB-SC) não vão fazer a composição com o PSDB do Geraldo Alckmin. Então, nós temos que buscar nosso caminho. E, no governo do Merisio, a área da Educação com o PDT, que é um patrimônio do nosso partido, fica com o PDT. Nós temos uma prioridade, a eleição do Ciro presidente da República. Temos que ter um palanque, que não vai ser do MDB e nem do PSDB, que têm seus candidatos à presidência. Então restou a candidatura do Merisio. Outra prioridade, eleger deputados, federal e estaduais. Para isso nós precisamos de uma aliança, e tem nove partidos que, médios e pequenos, nos servem como aliados. E esses estão apoiando o Merisio. Então não temos muita escolha…
SCP – Como estratégia política isso fica claro, mas ideologicamente não é confuso?
Lupi – Se todo mundo fosse igual estaríamos todos no mesmo partido!
Dias – Não temos candidatura ao governo estadual e priorizamos as candidaturas à presidência, à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa.
SCP – O presidente Lupi acabou de dizer que o senhor (Manoel Dias) será o único candidato a federal. Uma responsabilidade!
Lupi – Se ele fizer menos de 200 mil votos vai ser expulso! (risos)
Dias – (Risos) O presidente Lupi conduziu essa decisão na Executiva Nacional do partido e me colocou como prioridade. Eu e o Ciro. Para mim é uma honra, né? Uma satisfação. Sou secretário-geral nacional e também o presidente da Fundação Leonel Brizola. Aliás, um homem que está fazendo falta nessa desgraça que o Brasil está vivendo. Mas nós, do PDT, temos o exemplo dele. Você vê que o nosso partido, entre os grandes e médios, é o único que não tem propina, envolvimento em nada. Por quê? Porque temos exemplo. Temos as lideranças maiores do trabalhismo, pessoas dedicadas, com amor à pátria, respeito aos trabalhadores. Agora nós temos que cumprir a nossa tarefa. Não podemos errar.
SCP – Como o senhor avalia o cenário para as próximas eleições?
Dias – Eu acho que seria interessante que a direita tivesse um candidato que crescesse, para não vir a tentação de impedir eleições. O candidato da direita, agora, é o Alckmin. Seria interessante que ele crescesse, mas ele não está conseguindo. O povo não vai votar no Meirelles, que não tem carisma nenhum, é um banqueiro. Eles têm os instrumentos na mão, que são os meios de comunicação que manipulam, desinformam, desestruturam. Veja o que fizeram com essa reforma trabalhista. Nem a ditadura no auge, a ditadura que tinha poder de vida e de morte, ousou mexer na legislação trabalhista. Os “caras” chegaram e pisaram nela.
SCP – O senhor tinha uma relação bastante próxima com a ex-presidente Dilma. Tem falado com ela?
Dias – Eu falei com ela há uns dois meses. Ela sofreu um golpe, tanto que está aí sem nenhuma acusação que a afete. Acho que o próprio PT não defendeu a Dilma. É só ver a facilidade com que derrubaram ela. Não houve uma resistência pelo menos capaz de ameaçar. Ela não perdeu os direitos políticos e pode sair candidata.
Rodrigo Minotto
SCP – As bases do PDT catarinense estão aceitando bem essa aproximação com o PSD e o deputado Gelson Merisio?
Rodrigo Minotto – Todo partido tem suas prioridades. O PDT catarinense tem como prioridade eleger um deputado federal. E o Manoel Dias representa essa unidade partidária com o resgate da sua história, tanto da história política quanto da história do trabalhismo. E a candidatura do Ciro Gomes a presidente da República fortalece muito a candidatura proporcional dos deputados, seja federal ou estadual. Considerando que o Manoel tem uma estreita relação tanto com o Ciro quanto com o nosso presidente Lupi, eu acredito que isso vai nos favorecer na viabilidade eleitoral dele. De que forma? Este ano é o último ano das eleições em que podem ser feitas coligações proporcionais. O que nos deixa mais tranquilos é a viabilidade desta coligação que está sendo formada em prol da candidatura do Gelson Merisio. Estamos buscando a viabilidade eleitoral dentro de uma coligação que tenha também, no seu bojo, partidos menores ou iguais ao nosso partido.
SCP – O senhor foi um dos responsáveis por alinhavar esse apoio.
Rodrigo Minotto – O Merisio tem uma grande virtude, que é ser um homem de coragem. É um homem determinado e isso nos agrega. Também nos sensibiliza, porque ele é um homem de tomar decisões. Ele não é um homem de empurrar as decisões. Diante disso, tem algumas políticas públicas que ele comunga da mesma forma que o PDT comunga, principalmente a extinção das ADRs, que foi uma bandeira desde o início do meu mandato eu tenho me manifestado. Isso porque nós entendemos que o modelo que existia era importante, mas o que existe hoje não tem mais importância. Porque você recebe vários e vários prefeitos durante a semana no seu gabinete, buscando informações, apoio, interlocução que deveria ser feita lá na ponta, lá na ADR. A questão da Segurança Pública tem que ter uma ação forte, firme. A questão da Saúde também tem que ter uma ação forte. Porém, temos que saber de que forma isso vai acontecer? Como fazer a receita do Estado ser suficiente para esses investimentos. Eu acho que o enxugamento da máquina pública, que o Merisio defende, é fundamental. Estamos fazendo uma proposta, um projeto de aliança em cima de ideias, uma aliança programática.
SCP – Volto para a primeira pergunta: como explicar para o pessoal de base o PDT junto com o PSD, partido que defendeu e votou favoravelmente à reforma trabalhista?
Rodrigo Minotto – Esta é a questão: nós só podemos implementar as nossas ações, os nossos programas, estando dentro de um governo. Temos que chegar ao governo. Não é fisiologismo. Fisiologismo é você se aproveitar de uma situação buscando vantagem individual ou partidária somente para um grupo de pessoas. Nós estamos pensando no projeto do PDT. Por exemplo, eu fui o único deputado da minha base eleitoral que se elegeu na coligação do (Raimundo) Colombo e não tive, não pedi e não quero nenhum cargo no governo. Seja terceirizado ou seja nomeado para um cargo em comissão. Mas nós não perdemos o nosso sentido de representar o partido. Quando entendemos que a posição do Governo era contrária às ideias do nosso partido, ao programa do nosso partido, nós fizemos oposição.
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(Entrevista feita e editada por Andréa Leonora. Transcrição de Taynara Nakayama – 28/03/2018)